Pastor, não chame sua ineficiência de "vontade do Espírito"

"O homem, consequentemente, procura determinar metas e visualizar suas ações antes destas ocorrerem" (Pv 13.19 e 16.9).

Fonte: Guiame, Bruno dos SantosAtualizado: sexta-feira, 24 de março de 2017 às 20:21
Estresse. (Foto: José Roberto Marques)
Estresse. (Foto: José Roberto Marques)

Na teologia somos filhos da reforma protestante européia, mas na organização de nossas igrejas somos bem brasileiros. Vai do jeito que dá! Fazemos como podemos! Somos rebeldes com estruturas e planejamento desde o berço pátrio. Os neo-pentecostais então, pensam que planejamento e organização são "camisas de força" do Espírito Santo. O neo-pentecostalismo buscou tanto a espontaneidade e a liberdade do Espírito Santo que qualquer reação de ordem, regras e organização tira a espiritualidade da igreja na cabeça dessa turma. Por isso hoje vivemos um "vale tudo” espiritual. Toda a atividade convive sem nenhuma organização, planejamento e objetividade.

Nossas reuniões são feitas num clima de resolver todos os problemas, em discussões infrutíferas, sem pauta ou tempo pré-determinado para os assuntos. Projetos começam sem planejamento e terminam sem conclusão. Não há objetividade no conteúdo, e nem reflexão nas falas. Não existem limites ou discussões de verba financeira, enfim…A igreja sofre principalmente de falta de eficiência. Muito esforço e pouco resultado em tudo! Já nos avisa a Escritura Sagrada que os descrentes são, de muitas maneiras, mais sagazes e sábios que os crentes (Lc 16.8 — pois os filhos deste mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz).

Pra amenizar creditamos à “vontade de Deus” nossos insucessos e falta de resultados. Dizemos algo como…”Deus não permitiu…” pra calar o medo e a culpa dentro de nós. Não somos eficazes na mordomia que Deus confiou a nós. Por isso vemos organizações “seculares" darem show de resultados, crescimento e eficiência, enquanto assistimos calados e alienados a pífia influencia da igreja na sociedade. E ainda tem gente que é contra organização, pois ela “mundaniza" a igreja…Será?

Planejamento e organização possuem base bíblica. Vejamos:
Deus planejou tudo e executa o seu plano (Is 46.9-11).
Ele deu ao homem o mandato de dominar a Criação (Gn 1.28) e de sujeitá-la, para sua glória. Tendo sido criado à imagem e semelhança de Deus, o homem é um ser que planeja também, mesmo em sua condição de pecador e mesmo com esta imagem afetada pelo pecado.

O homem, conseqüentemente, procura determinar metas e visualizar suas ações antes destas ocorrerem (Pv 13.19 e 16.9).

Na esfera eclesiástica, Deus planejou, instituiu e determinou ao seu povo, debaixo da Antiga Aliança, toda a sistemática das cerimônias, requerendo obediência no cumprimento de todos os seus passos. Deus desejava, através dela, focalizar as atenções dos israelitas no Messias que haveria de vir e redimir o seu povo. Neste sentido, o povo foi ensinado a planejar e a organizar, em sua esfera, as festas e sacrifícios e existia considerável rigidez litúrgica, assim como sistematização e repetição. Nada de "qualquer um faz qualquer coisa, a qualquer hora", mas ações e obrigações definidas e todas relevantes ao enfoque central das práticas de adoração.

Na esfera administrativa, a sobrecarga e a desorganização, temporariamente experimentadas por Moisés, quando todas as decisões e definições foram colocadas sobre seus ombros, foi prontamente estruturada por Deus, através da palavra sábia de Jetro (Êx 18.13-26). Deus fez com que um sistema de delegação e representatividade fosse rapidamente estabelecido, aliviando Moisés de uma tarefa impossível, permitindo que o grande servo de Deus se concentrasse na tarefa de realmente liderar.

Deus não é, portanto, avesso ao planejamento e à sistematização da nossa parte, tanto mais porque ele próprio nos ensina que interage com a sua criação em seus tempos determinados (Ec 3.1-8), definindo, conseqüentemente, padrões de ordem e uma hierarquia de prioridades que devem nos auxiliar na execução dos nossos deveres, como seus servos.

Para poder ajudar nossos pastores e líderes de ministério proponho alguns “insights" na construção de uma mentalidade de mais eficiência.

A) Organização (igreja local, patrimônio) é humana; por isso mesmo é meio. Organismo (Igreja Espiritual, pessoas) é Divino; por isso mesmo é fim. A organização sempre serve o Organismo, nunca o contrário. A Organização é o visível e tangível, já o Organismo é invisível e transcende a localidade. Nem todos que são membros da Organização fazem parte do Organismo; e nem todos que fazem parte do Organismo fazem parte da Organização.

B) Deus não está limitado nas paredes de uma organização. Ele não é propriedade de nenhuma igreja. Nem mesmo da Evangélica. Do Organismo (Igreja), Jesus é o Cabeça. Embora seja importante a interação do homem com a igreja (organização), a sua relação com Deus não pode ser medida a partir daí. A atuação ministerial das pessoas extrapola a atuação na organização.

C) A liderança da organização (igreja local), deve ter cuidado quando tenta liderar o Organismo (Igreja Espiritual) a partir de modelos de gerenciamento organizacional. A organização deve ser a mais leve possível para não engessar o Organismo. É a organização que deve ser repensada para atender as demandas do Organismo, nunca o contrário.

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