Jesus não cairia nessa

A cruz sempre será escândalo para os que se perdem e salvação para os que seguem a mensagem da graça nela contida. E sobre quem se perde e quem se salva, nem um só milímetro de influência ficou para nós. Salvação é um departamento no qual somente a Trindade arbitra, analisa, perdoa, condena, usa de misericórdia e, tenho minhas convicções, ao final surpreende

Fonte: Guiame, Edmilson MendesAtualizado: quarta-feira, 10 de junho de 2015 às 17:36
Jesus _ cruz
Jesus _ cruz

Nas redes sociais só se falou nisso nos últimos dias. Protestos, indignações, zoeiras. Favoráveis, contrários e indiferentes multiplicaram opiniões. Tudo por conta de algumas performances com símbolos religiosos da mais recente parada gay.

Se olharmos detalhadamente, veremos que toda a discussão culminou na parada gay, mas o ti-ti-ti foi sendo construído ao longo da semana. Na marcha para Jesus tivemos críticas, escrachos e ridicularizações. Na parada gay idem. E perfumando os temas surgiu a propaganda do O Boticário. Tudo numa semana só e fazendo a alegria dos promotores de cada ação.

Mídia espontânea e gratuita sobrou para todos. Mas quem ganhou mesmo foram os gays e sua agenda, bombaram nas redes sociais, nos canais abertos, na mídia impressa, nas rodas de bate-papo.

Jesus cairia nessa? Nunca. Um pouco de conhecimento sobre qual o cenário que Ele encontrou quando chegou na Galiléia pode nos ajudar. Basicamente enfrentou três condições: opressão do Império Romano, cultura Grega e pecado humano.

Pense por um instante sobre as políticas opressoras de Roma. O imperador era mais que um cargo político, ele era um deus, e ai de quem ousasse discordar daquele deus. A cultura grega convivia e incentivava as mais variadas formas de sexo, opções e orientações, prostitutas cultuais nos templos pagãos não faltavam, todo esse caldo que vemos hoje na sexualidade era recorrente e rotineiro entre as gentes daquela época. E o pecado humano eram e são estas paixões desenfreadas que lutam contra todos nós todo dia, como muito bem explicou e confessou Paulo aos romanos no capítulo sete, em lutas diárias e incessantes entre carne e espírito que só nos humilham e nos enfraquecem.

Agora busque nos evangelhos uma palavra de Jesus criticando, aprovando ou reprovando especificamente os LGBTs. Não tem. Por que não tem Ele aprovava? Não aprovava? Era indiferente? Nada disso. Jesus tinha uma agenda, uma missão e um propósito. Nada e ninguém tirariam Ele de Seu foco. Ele jamais cairia na armadilha de dar exposição para quem ou o quê quer que fosse que desviasse a atenção de sua pregação: Arrependei-vos e crede no evangelho, porque o reino dos céus chegou a vós.

E para Jesus, “arrepender e crer”, “tomar a própria cruz e seguí-lo”, nunca foi uma mensagem para um único recorte social, sempre foi uma mensagem para todos. E quando falo “todos”, preciso entender que esse “todos” deve começar sempre comigo e não com o outro como geralmente gostaríamos que fosse.

A cruz sempre será escândalo para os que se perdem e salvação para os que seguem a mensagem da graça nela contida. E sobre quem se perde e quem se salva, nem um só milímetro de influência ficou para nós. Salvação é um departamento no qual somente a Trindade arbitra, analisa, perdoa, condena, usa de misericórdia e, tenho minhas convicções, ao final surpreende. O céu para mim será um lugar de surpresas, boas na sua plenitude.

E hoje? Não faltam cristãos fazendo exatamente o que os marqueteiros das campanhas políticas sonham, respondendo, vociferando, protestando, bradando, publicando, bravateando, ou seja, ampliando e amplificando imagem e som de uma parada que tem perdido interesse ano a ano, como aponta o número extremamente pequeno de participantes desta última em comparação com participações em edições passadas. Mas, graças a intemperadas precipitações, o assunto está no centro do palco mais uma vez como resultado das indignações que pipocaram pelas redes sociais.

Cristo não caiu, não cai e não cairá em armadilhas tão óbvias. Porque, como disse, um recorte social não pode ser a motivação da minha fé com suas implicações. Em Lucas 6:46 Jesus faz uma instigante pergunta para seguidores e religiosos da época: “Por que vocês me chamam de Senhor, se não Me obedecem?” Notou a falácia e a contradição? Pessoas que o reconheceram como Senhor porém não o obedeciam como tal. Pessoas que, infelizmente, multiplicam-se como praga no mundo inteiro, querendo viver relacionamentos sem qualquer compromisso. A pergunta de Jesus não fala necessariamente de regras e ritos, afinal aqueles caras eram bons nisso. A pergunta de Jesus toca na ferida, vai no lugar secreto do coração onde ficam escondidas nossas intenções. A pergunta fala sobre amar, perdoar, suportar, crer, se humilhar, doar, resistir, enfim, atitudes e exemplos que ficaram escancarados no agir e falar de Jesus até o último suspiro na cruz.

Claro, sou contrário a tudo que afronta, ofende e tenta se desconstruir em relação ao cristianismo puro e simples. Assim como os discordantes dos valores que creio também se posicionam contrariamente, é legítimo. E este é o limite que deveria marcar nossa coexistência. Quando não, cair no fácil discurso “não respeitam e querem respeito” só colocará ódio e vingança na fogueira. Não respeitaram meu Mestre quando Ele aqui esteve. Suas reações e respostas quando afrontado e desrespeitado, no entanto, foram bem díspares das que temos visto hoje.

O amor é linguagem universal que todos entendem sem palavras. Nunca fui numa marcha, mas não gosto dos julgamentos que ouço e leio a respeito dos que vão e dão valor ao evento. Não tenho a menor condição de julgar os milhares que marcharam para Jesus, todos têm sua fé, seus propósitos, seus valores e suas intenções. Os aproveitadores e mercadores da boa fé de crentes, gays, negros, brancos, eleitores, pobres, classe média, ricos, analfabetos, órfãos, doutores, cientistas, militares, enfim, os manipuladores e ladrões do coração das gentes terão sua paga no devido tempo. Porém o amor proposto pelo Cristo triunfará.

No mais, façamos o bem a tantos quantos alcançarmos. Que não caiamos na tentação de selecionar quem aceitamos como sendo “o nosso próximo”, pois a seleção por si só apenas cria categorias de privilegiados e desgraçados, o que é uma pobre departamentalização de um amor infinito, inexplicável, divino, abrangente e transformador, o amor de Deus.

A agenda genuinamente cristã se ocupa com a vida, e vida em abundância, proclama o arrependimento e anuncia uma nova vida na vida de Jesus. A agenda deste mundo engana com avanços, modernidades, facilidades e novidades mil, ao final apenas empurra para a morte. Morte de significado, de esperança e de vida. Quer saber? Minha agenda deixou de ser minha quando me rendi a Cristo, minha prioridade agora é a agenda dEle, uma agenda sem pegadinhas, sem ilusões, sem falsas promessas, sem enganações, enfim, sem armadilhas para me derrubar e com apenas o amor dEle para me guiar.

Paz!

- Edmilson Mendes
e-mail: [email protected]
blog: calicedevida.com.br
twitter: @Edmilson_Regina

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