Sim. O título é para te assustar, mesmo. Agora que tenho sua atenção; vamos lá.
Na infância, eu gostava muito de assistir O Rei Leão. Assistia diversas vezes ao ano. Eu amava as músicas; as cenas engraçadas; todos os animais; tudo. No entanto, havia duas cenas que eu sempre pulava: a Morte do Mufasa e a luta entre Scar e Simba. Eu assisti a esse filme dezenas de vezes; em todas as vezes, eu sabia que chegaria a essas cenas. Minha reação era sempre a mesma: adiantar as cenas para não as assistir. Eu não gostava dessas cenas. Elas não me faziam sentir bem.
Da mesma forma que uma criança, ao assistir determinado desenho, pula as cenas que não gosta; nós também fazemos isso com a Bíblia. Muitas vezes evitamos certos assuntos ou textos bíblicos (ou fazemos uma interpretação totalmente errônea.) Não gostamos de lembrar de certas partes da Bíblia, por diversos motivos.
Lamentações? Eclesiastes? Gênesis 3? Eu quero I João e I Coríntios 13!
Qual é o grande problema nisso? Criamos uma imagem de Deus que não é Dele.
Com certeza você conhece a pintura Mona Lisa, de Leonardo Da Vinci. Alguns só conhecem por imagens na internet; outros já tiveram o privilégio de vê-la pessoalmente, atrás de um mar de turistas e uma caixa à prova de balas; outros já viram versões paródicas dela. O fato é: Mona Lisa é a pintura mais famosa do mundo. Por quê? Muitos estudiosos da arte daquela época continuam estudando as particularidades dessa pintura. Muitos acham que o semblante dela é triste; outros enxergam como alegria; como descontração. Ninguém consegue distinguir por si. No entanto, esta pintura é considerada a mais famosa da História. Cada um, então, cria seu próprio conceito sobre a Mona Lisa e exalta esta pintura com base nesse conceito.
Isso também acontece com Deus, mas Ele não é uma pintura na parede. Criamos nossos próprios conceitos, e colocamos uma caixa à prova de balas ao redor.
A.W. Tozer disse: “O que vem à nossa mente quando pensamos em Deus é a coisa mais importante no que diz respeito à nossa própria pessoa.” (C.S. Lewis tende a discordar desta declaração, mas isso é assunto para outro dia). Tozer continua dizendo que temos a tendência natural de buscar a esse Deus que temos em nossa mente. A grande pergunta é: o que vem à sua mente quando você pensa em Deus? Esse é o deus que você buscará. Escrevi com letra minúscula, pois, às vezes, você está buscando um deus que é mais uma ideologia sua do que o próprio Deus.
Talvez você cresceu em um ambiente em que te levou a enxergar Deus como alguém que está no céu; segurando um raio na mão, esperando o momento em que você peca para poder jogar este raio em você. Um deus que mantém um placar de coisas boas e ruins que você fez e faz, e te abençoa de acordo com este placar.
O problema em ter essa perspectiva é que a graça é totalmente inexistente e sua fé é totalmente dependente de uma falsa submissão. No fim das contas, isso não faz com que a pessoa ame a Jesus e sim tenha medo do inferno (Não é a mesma coisa). Isso leva o cristão a ver o sofrimento como um castigo.
Talvez sua ideia sobre Deus esteja tão modernizada que chega a ser preocupante. Muitos criam um amor romantizado de Deus por nós, levando-os a imaginar um Deus que está deitado em sua cama; balançando os pés; escrevendo nossos nomes em um caderno e colocando coraçãozinhos ao redor deles (ninguém fala dessa forma, mas é o que transparece).
O problema dessa visão de Deus é que isenta o ser humano de qualquer tipo de arrependimento. Sim. Deus te ama incondicionalmente e quer o melhor para sua vida; mas enquanto não olharmos para a cruz e ver que aquilo foi pelos nossos pecados, jamais entenderemos o arrependimento verdadeiro. Isso leva nossa fé a ser algo superficial que jamais nos sustentará nos dias difíceis. No fim, esta visão levará muitos à condenação eterna, mas com boa autoestima.
Na Bíblia, Jesus se refere a Deus como Pai 189 vezes. Somos filhos de Deus, por adoção. Quando Deus vir a nossa mente, precisamos enxergá-lo como Pai (entre dezenas de outras coisas, mas quero destacar essa). Eu sei que, na mente de muitos, a ideia de um Deus que é Pai pode não ser algo bom; pelo fato de, talvez, seu pai biológico não ter cumprido seu papel devidamente. O que precisamos ter em mente é que Deus é a perfeição no que se diz respeito a ser pai. Se seu pai foi bom, Deus é um Pai melhor ainda! Seu pai foi ruim, Deus pode suprir esta falta de paternidade, sendo um Pai perfeito.
O que um pai faz? Ele ama; corrige; ensina e educa (além de outras coisas, claro). Se um desses quatro fatos é ausente; o resultado é visível em seus filhos. O pai é alguém que ama, mas sabe que o amor está longe de ser apenas deixar o filho fazer o que quer. O pai corrige, mas sabe que isso é por amor aos seus filhos.
A Bíblia nos mostra quem Deus é. Isso inclui as partes em que temos a tendência de pular, ou achar irrelevante. Deus nos ama como filhos, e também nos corrige e ensina como filhos. Deus nos ama, não de forma antropocêntrica, mas de uma forma que dê glória a Ele.
Quem você tem buscado? Deus Pai? Ou uma versão Mona Lisa de Deus, que você mesmo pintou?
Por Fernando Queiróz, psicólogo; líder do ministério Change (jovens de 18-25 anos) na Primeira Igreja Batista de Santo André, onde também trabalhou com adolescentes. Filho de pastor; amante da teologia e da antropologia cultural.
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