Se Deus é bom, por que existe sofrimento?

Não é possível desvendar o mistério do problema do mal na sua totalidade, no entanto, a Bíblia nos oferece alguns princípios que nos ajudam a entender que é possível sim Deus ser bom em meio a um mundo marcado pelo mal

Fonte: Guiame, Jean FrancescoAtualizado: segunda-feira, 11 de maio de 2015 às 14:41
Terremoto no Nepal
Terremoto no Nepal

Provavelmente você viu as imagens ou ficou sabendo do terremoto que matou mais de 7 mil pessoas no Nepal. Você tem coragem de negar que o sofrimento existe?

Vivemos num mundo em que crianças morrem de fome, de AIDS e outras doenças; pessoas são cruelmente assassinadas, assaltadas e aviltadas diariamente; catástrofes acontecem em toda parte do mundo; adolescentes são estupradas(os) por pais, estranhos e maníacos; a corrupção de instituições, políticos, bancos e empresários é quase normalidade; religiões se multiplicam utilizando mecanismos de exploração entre outros problemas. O nosso mundo experimenta a realidade do caos, quem pode negar?

Diante de tudo isso, perguntamos três coisas:

1. Se Deus é bom, por que ele permitiu a entrada do mal no mundo?

2. Se Deus sabe todas as coisas que vão acontecer, por que ele não impede o mal de acontecer?

3. Se Deus é Todo-Poderoso, por que ele não acaba com o mal definitivamente?

Todo mundo, não apenas os cristãos, precisam responder essas perguntas. E eu creio que toda pergunta honesta merece uma resposta inteligente.

O Budismo, hinduísmo e algumas religiões orientais panteístas se dividem dizendo que o mal é uma ilusão ou parte do nosso destino. No primeiro caso, a dor seria psicológica e o sofrimento não existe de verdade. Essa resposta incrivelmente nega que o sofrimento seja real, por isso a melhor coisa a fazer é fugir da realidade, meditar até esvaziar a mente, pois a única coisa que realmente existe é o nada. Por outro lado, tudo, até o mal faz parte do destino, não tem como evitar o mal. A vida é assim mesmo e não vai mudar. Chamamos isso de fatalismo, isto é, que uma força cega – que não é Deus – escreveu e determinou toda a nossa vida. Não existe liberdade, tudo acontece porque tem que acontecer. Não é de admirar que nessas culturas a miséria e as castas sociais imutáveis continuam perpetuando a desigualdade. Faz parte do destino e ponto final.

Os Espíritas tentam resolver o problema dizendo que o mal é real e o único jeito de resolvê-lo é através da reencarnação. Se alguém roubou nesta vida, sua alma reencarnará em outro corpo como um pobre para aprender a ser justo. Se alguém nasce deficiente físico ou mental é porque causou danos a outras pessoas numa vida anterior. A melhor coisa a fazer é praticar boas obras, pois assim você estará livrando a sua própria alma de um corpo e vida inferior.

Teoricamente essa visão nos leva a ver as pessoas que sofrem com alguma dose de alegria – já que é o que merecem. Sofrem porque merecem sofrer. Nesta visão não existe perdão, é “olho por olho, dente por dente”, a única lógica viável é o “a que se faz a que se paga”, sem misericórdia, sem compaixão.

Os ateus – que tanto criticam a bondade de Deus – atiram no próprio pé, pois se Deus não existe e o mal existe, o mal tem que ser parte da natureza da vida. Alguns cientistas como Richard Dawkins assumem isso dizendo que “o mal é necessário para o desenvolvimento da raça”, segundo ele, para a evolução acontecer a crueldade dos animais – inclusive dos humanos – é imprescindível, é a lei do mais forte.

Hitler pôs a teoria darwinista evolucionista em prática ao tentar exterminar as raças inferiores da terra, ele foi coerente com esta visão. Por isso, não dá para entender por que ateus ficam indignados diante do sofrimento, deveriam louvá-lo, pois é um elemento natural e útil dirigido pelo acaso para desenvolver os seres vivos.

Alguns cristãos “se enrolam” tentando defender Deus dizendo que ele não tem nada a ver com o mal. O problema é Satanás, ele sim é o autor do mal. O problema com esta visão é que Satanás se torna um gigante ao lado de Deus, como se pudesse lutar num Octógono com ele. Na verdade o Diabo é uma criatura, ele não pode criar nada, e nem tem poder algum diante de Deus. Como diz Lutero, “O Diabo é um Diabo de Deus”, ele é um cachorro bravo na coleira do seu Criador.

Outros dizem que Deus é soberano, mas que ele não tem controle sobre o mal já que as criaturas podem fazer o que quiserem. Elas são absolutamente livres. Deus não acaba com o mal porque ele não pode impedir ninguém de fazer o mal, isso seria confrontar a liberdade humana. O problema nesta visão é que Deus é limitado pela liberdade humana. Em última análise, quem dita o rumo do universo é a vontade dos homens, não a de Deus.

Viu como o problema é difícil? Não é possível desvendar o mistério do problema do mal na sua totalidade, no entanto, a Bíblia nos oferece alguns princípios que nos ajudam a entender que é possível sim Deus ser bom em meio a um mundo marcado pelo mal. Essa resposta não satisfaz a nossa lógica humana, porém é compatível com o registro bíblico. A seguir minha maneira de tentar entender o problema:

(1) OS CRISTÃOS DEVEM SEMPRE SE INDIGNAR COM A MALDADE, ORAR E LUTAR PELA JUSTIÇA NO MUNDO.

Jesus ensinou que felizes são aqueles que tem fome e sede por justiça (Mt 5.6). Ele nos deu a missão de sermos sal da terra, isto é, impedirmos o apodrecimento da sociedade através de obras de justiça. Paulo ensina a orar pelas autoridades para uma nação ter vida mansa e tranquila (1Tm 2.1-2). João, no livro de Apocalipse, insere uma oração dos crentes mártires que quando vão para o céu continuam pedindo a Deus para fazer justiça na terra (Ap 6.10). A Igreja deve orar sempre a Deus como o profeta Habacuque: “Até quando, Senhor?” (Hc 1.2) para que Deus faça justiça na terra. O mal é mau e deve ser sempre encarado e odiado pelos cristãos - e pela sociedade também.

(2) DEUS ESTÁ MISTERIOSAMENTE POR TRÁS DOS ATOS BONS E MAUS DAS CRIATURAS.

Por outro lado, a Bíblia também ensina que o mal nunca esteve fora de controle. Deus nunca é pego de surpresa por nada, pois até a existência do mal faz parte do plano misterioso de Deus para a história humana (Is 45.7). O poeta Davi diz figuradamente que Deus não apenas sabe tudo o que acontece, mas que escreveu e determinou toda a história da humanidade em um “livro” na eternidade (Sl 139.16). Deus está por trás de todas as ações boas dos homens. Se ainda há bondade neste mundo marcado pelo sofrimento é porque Deus continua fazendo sua luz brilhar sobre a terra.

No entanto, até os atos maus dos homens estão debaixo do controle de Deus. Isso não significa que Deus pratica o mal, mas que até o mal foi decretado por ele. Tudo o que acontece tem propósitos, até os maus e as calamidades (Pv 16.4). O profeta Amós diz que nenhum mal acontece à cidade sem que Deus o tenha feito (Am 3.6). Como Deus faz isso?

Ele pode julgar nações rebeldes às vezes – não que esse seja o caso no Nepal – com catástrofes e “solta” a humanidade para que viva de acordo com a sua própria maldade (Rm 1.24,26). É certo que o ser humano já nasce atraído pela “força gravitacional do mal”, num estado queda livre (Sl 51.5), porém, Deus muitas vezes, como expressão de juízo, “solta” a humanidade para fazer o que ela potencialmente pode fazer. Além disso, se até as contingências da vida como um pardal caindo de uma árvore e o número dos nossos fios de cabelo estão sob o controle soberano de Deus (Mt 10.29-30), que se dirá do sofrimento humano?

Deus nunca é pego de surpresa pelo mal, ele mesmo decidiu inserir, misteriosamente, o mal na história humana. Da mesma forma que um escritor só pode saber da sua história se antes ele escrevê-la, Deus só sabe todas as coisas porque ele escreveu e planejou todas as coisas que acontecem (Sl 139.16). Em outras palavras, até o mal faz parte do plano de Deus para a história humana. Isso significa que, no final das contas, todos os atos bons e até os atos maus da humanidade são governados, de um jeito difícil de entender, por Deus (Dt 8.17,18; Pv 16.4, 33; Am 3.6). Alguns, por isso, podem contestar: “se Deus inseriu o mal na história, ele então, é essencialmente mal.” Porém, mesmo a Bíblia afirmando que o mal faz parte do plano de Deus (Isaías 45.7) ela também diz que Deus é bom (Sl 34.8). Como resolver este aparente problema?

(3) DEUS É E CONTINUA PERFEITAMENTE BOM AINDA QUE TENHA INCLUÍDO O MAL NA HISTÓRIA.

Embora o mal esteja misteriosamente em seu plano para a história, Deus nunca força ninguém a ser mau, os seres humanos praticam o mal porque agem de acordo com a sua própria natureza, a qual está inclinada como a gravidade para a queda. Deus é sempre bom (Sl 34). Ele odeia o mal (Sl 5.4), não pratica o mal (Jó 34.10), ama o bem (Sl 33.5). Todas as coisas cooperam de alguma forma para o bem daqueles que o amam (Rm 8.28).

Assumindo que Deus não é mau, nem pode praticar o mal, ele faz com que o mal em seu plano seja praticado apenas pelas suas criaturas – especialmente anjos e humanos. No entanto, as criaturas não são robôs ou marionetes; nem são forçadas brutalmente por Deus, pelo contrário, elas escolhem o mal livremente de acordo com as vontades do próprio coração. Existe algum tipo de compatibilismo entre a determinação de Deus e a livre agência humana.

Um exemplo claro disso é o plano do próprio Deus de entregar seu filho à morte e ao mesmo tempo sua execução ter sido praticada pela ação livre e perversa dos homens (Atos 2.23 e Atos 4.27-28). Neste sentido, Deus não é mau, pois apenas suas criaturas que caíram em pecado executam a maldade, desta maneira eles são os únicos culpados pelos seus atos, pois obedeceram livremente os impulsos de sua própria natureza.

(4) DEUS REVERTE O PROBLEMA DO SOFRIMENTO PELO SEU PRÓPRIO SOFRIMENTO.

Para Deus o mal não é uma ilusão, por isso ele não foge dele. É dever de todo cristão entender que Deus escreveu a mais horrível história de dor e sofrimento na própria história de Jesus. Há alguma dúvida que Deus planejou matar seu próprio filho na cruz? Deus já havia planejado derramar o sangue de seu filho antes da criação do mundo, isto é, antes do surgimento do mal (1Pedro 1.19-20).

Deus não tem um Plano B. Ele ama o seu povo e, por isso, não se esquiva do mal, ele envia o remédio para curar o mal do mundo: seu próprio Filho. Jesus assume o mal em sua própria carne, pois ele é a resposta de Deus para resolver o problema do mal. Deus entrega seu próprio filho à morte para vencer o mal praticado pelo mundo. Deus não tem prazer no sofrimento de ninguém, por isso ele vem em carne e osso para vencê-lo.

A cruz é a melhor explicação de como Deus resolveu o problema do mal porque nela ele mesmo assume a injustiça, a dor humanas e pode, então, revelar o seu maravilhoso amor a todas as nações. Ele tomou sobre os seus ombros as dores do mundo, como diz Isaías “pelas suas pisaduras fomos curados” (Is 53.4-5).

(5) DEUS REVERTE ATÉ MALES EM BÊNÇÃOS NO DIA A DIA.

A dor também tem um propósito pedagógico. O sofrimento, o pecado e a injustiça são maus, revoltantes e tristes de lidar, porém, Deus os usa para ensinar o seu povo a ter paciência e perseverança (Tiago 1.3-4), para capacitar, consolar e fortalecer pessoas (2Co 1.3-7), para uma intimidade mais profunda com ele (Jó 42), para provar a verdadeira fé (1Pe 1.7), para disciplinar seus filhos (Hb 12.7-11), para julgar os maus durante a história (Dt 28.15-68), para fazer os eleitos pensarem mais na glória futura da vida com ele (Rm 8.18), para manifestar a sua beleza entre os seres humanos (Jo 9.1-3).

Como diz um poema anônimo: “Tragédias reúnem nações. Vitórias isolam vencedores. A saúde às vezes me faz um deus, só a dor me torna mais eu.”

(6) DEUS IRÁ RESTAURAR ESSE MUNDO DESTRUINDO A PRESENÇA DO MAL.

Deus promete que um dia o seu povo viverá com ele em pleno amor e totalmente livre de qualquer forma de mal. Deus irá restaurar esta terra da sua atual corrupção (Rm 8.21). O mundo que hoje se vê será um lugar esplendoroso, radiante e perfeito. Um mundo sem terremotos, tsunamis, catástrofes, males, maldições e homens maus. Nunca mais se ouvirá falar de luto, câncer, AIDS, pobreza, morte, dor ou guerra. Jesus já conquistou na sua morte e ressurreição a vitória contra o sofrimento, por isso ele é digno e enxugará dos nossos olhos todas as lágrimas (Ap 21.1-8).

Finalizando, nunca é sábio julgar a obra do Criador antes dele mesmo dizer a última palavra. Deus tem o mosaico da história humana em suas mãos completo. O que se pode ver através dos olhares humanos é apenas um quebra-cabeças com vários espaços vazios e peças aparentemente deslocadas. Mas um dia, Deus fará com que todos vejam “o quebra-cabeça da história humana” terminado e as peças escuras dessa história que fazem a humanidade chorar serão o pano de fundo da beleza e infinita glória do Criador. Deus irá fazer um novo mundo nascer para aqueles que já descansam na bondade sem igual do amor de Jesus. ‪#‎Sofrimento‬ ‪#‎Deus‬ ‪#‎Nepal‬ ‪#‎PorQue‬?

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