Quando nos aprofundamos nos "estudos sobre experiências adversas na infância" podemos perceber que se no Brasil isso fosse amplamente usado poderíamos ter resultados fabulosos, e evitaríamos tragédias como, por exemplo, o "massacre de Suzano".
Segundo publicado pela imprensa, o crime aconteceu por volta das 9:30 hs, do dia 13/03/2019, na Escola Estadual Professor Raul Brasil, no município de Suzano, Região Metropolitana de São Paulo.
Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, de 25 anos, entraram encapuzados, com coturnos táticos e balaclavas de caveira na unidade escolar, efetuando diversos disparos de arma de fogo durante o horário do intervalo e atingindo dezenas de pessoas.
Momentos antes do ataque à escola, Guilherme Taucci havia atirado em seu tio, o comerciante Jorge Antônio de Moraes, dentro de uma revendedora de veículos de Jorge, nas proximidades. O homem foi levado ao hospital, mas não resistiu aos ferimentos, morrendo horas depois.
Os assassinos supostamente buscaram ajuda para planejar o atentando no "Dogolachan", um "imageboard" (fórum onde todos os participantes são anônimos, também chamado de Chan) conhecido por suas apologias ao terrorismo e à violência, com conteúdos pautados em intolerâncias às minorias e machismo.
De acordo com as apurações, entre as motivações que levaram ao massacre estavam o "bullying", isolamento social e o desejo de superar o massacre em uma escola de Columbine, nos Estados Unidos, pois queriam ser lembrados pela quantidade de mortes e armas. Tinham o pensamento de que faziam um "ato heroico". Um terceiro suspeito, que não participou do ato e esteve envolvido diretamente, afirmou que eles também tinham a intenção de realizar estupros.
Atualmente aquela unidade escolar tem passado por uma série de dificuldade em relação aos traumas que esse massacre causou aos alunos. O que fazer?
Uma ideia inovadora nos EUA foi denominada de "Escola Segura", com o envolvimento da sociedade no todo, contando desde apoio jurídico, psicológico e órgãos de representação do magistério. Utilizando-se dos Estudo de Experiências Adversas na Infância, na "Escola Segura" o trabalho vai exigir a integração da triagem de experiências adversas na infância nos serviços de saúde e a integração da ciência de experiências adversas na infância nos currículos das escolas de medicina e saúde e educação continuada.
O projeto foi financiado em US$ 200.000 no ano fiscal de 2014, para apoiar “escolas exemplares” que são modelos para a criação de escolas seguras e de apoio, e autoriza assistência técnica para ajudar as escolas a usar uma ferramenta de autoavaliação e desenvolver planos de ação da escola. Também cria uma comissão para ajudar na implementação estadual da estrutura e fazer recomendações para legislação adicional.
Em suma, o resumo do Projeto de Lei, o que eles descrevem como uma definição “inovadora” de Escolas Seguras e de Apoio, destaca como:
“...escolas que promovem um ambiente de aprendizado seguro, positivo, saudável e inclusivo para toda a escola que permita que os alunos desenvolvam relacionamentos positivos com adultos e alunos, regulem suas emoções e comportamentos, alcancem sucesso acadêmico e não acadêmico na escola e manter a saúde e o bem-estar físico e psicológico e integra serviços e alinha iniciativas que promovem a saúde comportamental dos alunos, incluindo aprendizado social e emocional, prevenção de "bullying", sensibilidade ao trauma, prevenção de abandono, redução de evasão escolar, saúde mental das crianças, assistência social e educação de jovens sem-teto, inclusão de alunos com deficiência, abordagens comportamentais positivas que reduzem suspensões e expulsões e outras iniciativas semelhantes.”
Um dos terríveis erros dos Governos anteriores, foi a retirada participativa dos pais em Conselhos de Pais e Mestres. Esse era "elo" de ligação entre escola e lar, e vice-versa. Com a retirada deste importante Conselho, abriu a porta para os "Grêmios Acadêmicos" formados por alunos, sem nenhum acompanhamento dos Pais, e com isso, definitivamente ocorreu o afastamento deles, gerando o caos como vimos no episodio acima.
A sociedade precisa ser participativa em todos os lugares, inclusive nas escolas. Há uma necessidade que seja feito um Projeto de Lei garantindo que os Conselhos de Pais e Mestres voltem, tanto no Ensino Fundamental quanto no Ensino Médio.
Por outro lado, tendo em vista que estamos trabalhando com traumas, há uma necessidade urgente que as Escolas tenham amparo psicológico diariamente, pois a maior parte da Sociedade Brasileira tem passado por sérias dificuldades econômicas, vindo a refletir frontalmente nas crianças e adolescentes, de forma que se esse amparo psicológico não encontramos nos lares, o Estado precisa suprimir, pois segundo o Art. 5º da Constituição Federal quanto o Estatuto da Criança e do Adolescente assegura a segurança psicológica de todas as crianças brasileiras.
Nos EUA, abriu-se uma "força tarefa" sobre a questão, onde uma das Leis que tem servido de referência é a Lei 3528 denominada "LEI RELATIVA A ESCOLAS SEGURAS E DE APOIO", implantada pelo Estado de Massachusetts.
Essa Lei procura trazer representantes da Sociedade Civil como parte integrante das resoluções referentes a Educação, do amplo até o mais restrito. É chamada "Comissão de Escolas Segura e de Apoio" cuja função é colaborar e assessorar o departamento na implementação Estadual da estrutura, como também apoiar e fornecer feedback sobre a implementação Estadual da estrutura pelo departamento.
(https://traumasensitiveschools.org/get-involved/advocating-for-trauma-sensitive-schools/)
Com a implementação do Conselho a meta agora, atendendo as necessidades de cada escola, trabalhar com os traumas mais frequentes através da "Estrutura Flexível" que se baseia nos elementos principais de operações escolares. Essa estrutura comum ajuda as escolas a alinhar as muitas iniciativas que são solicitadas a implementar. Por sua vez, isso leva a melhores resultados para todos os alunos - incluindo aqueles afetados por traumas de Leis e Políticas Estaduais que incorporam a Estrutura Flexível.
Por Patrícia Regina Alonso, mãe, advogada há 20 anos, teóloga, musicista formada pelo Conservatório Musical Ernesto Nazareth. Foi capelã do Hospital das Clínicas de São Paulo. É membro da ADVEC. Escritora do Livro “Alienação Parental o Lado obscuro da Justiça Brasileira” e colaborou no livro “A invisibilidade de crianças e mulheres vítimas da perversidade da Lei da Alienação Parental”.
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