Recado pra quem acha a Copa um absurdo

Eu prometo torcer como nunca pela seleção do meu país. E se o Brasil perder, sofrerei por Portugal ou Argentina

Fonte: guiame.com.brAtualizado: sexta-feira, 13 de junho de 2014 às 12:49
Neymar
Neymar

Neymar - copaVou dar meu pitaco sobre a Copa. Listo meus argumentos, ponto por ponto, para meu próprio benefício – Preciso ser claro comigo mesmo.

1. Estádios superfaturados. Sim, deve ter havido manipulação no preço das cadeiras, nos canos hidráulicos, na iluminação e nos telões de cada estádio recém construído. Mas, espere, essas excrescências não existem em tudo – eu disse, tudo – o que se faz com dinheiro público? No Brasil, roubam, imaginem os senhores, da merenda escolar. Recentemente, não pude conter o riso quando li a notícia de que um bando vendia túmulos em cemitérios públicos com ágio. Túmulos?, pensei. Não adianta culpar o governo do PT ou, especificamente, a presidenta Dilma. Quando desviaram bilhões nas privatizações da Embratel e da Vale do Rio Doce, o governo era PSDB. No escândalo dos “anões do orçamento”, que sumiu com milhões destinados para adquirir ambulâncias, deputados de diversos partidos (a maioria, evangélicos) foram indiciados. As ruas de péssima qualidade, da alçada da prefeitura, dependem muitas vezes de ações do DEM ou do PMDB. Vamos parar com o súbito espírito de cidadania nesta Copa. Se queremos melhor gestão em obras pú
blicas, que tal deixa passar a Copa e depois cobrar as calçadas das ruas não serem acessíveis para cadeirantes, os ambulatórios municipais continuarem esquecidos pelos prefeitos e os banheiros das rodoviárias estaduais cheirarem a podre?

2. O dinheiro da Copa podia ser gasto com hospital. Sim, é verdade. Ninguém deve querer repetir o argumento estúpido do Ronaldo Nazário quando disse que não se faz Copa do mundo com hospital. Acontece que o arrazoamento da necessidade de otimizar os recursos públicos, parte de pessoas que gastam seu dinheiro com supérfluos. O último que me deu uma lição de humanidade sobre como o Brasil deve gastar sua riqueza, calçava sapatos que custavam pelo menos 800 reais o par. Ora, ora, mulheres que deixam 300 reais em cabelereiro e homens que pagam 500 reais em jogo de rodas de liga leve para o automóvel ou 600 reais por um par de tênis não deviam doar esse dinheiro para a APAE? Na verdade, reclamar dos gastos com a Copa, na enorme maioria das vezes, não passa de demagogia. Certa mulher derramou um vidro de perfume caríssimo sobre a cabeça de Jesus. Judas reclamou na hora: Esse dinheiro podia ser gasto com os pobres. O escritor do evangelho corrigiu sem titubear. Ele disse isso não por se preocupar com os pobres, mas
porque era ladrão. E Jesus afirmou: a iniciativa da mulher tinha razão de ser no contexto de sua vida; por isso, devia ser elogiada.

3. Dinheiro público não deve ser gasto com esse tipo de evento. Não? Vamos com calma. Deixe eu fazer algumas perguntas. Quanto de dinheiro público foi gasto com a visita do Papa Francisco ao Brasil? Quem paga a polícia que protege as micaretas? Qual a despesa do município com o Reveillon do Rio de Janeiro? Alguém já calculou o impacto econômico das Marchas Gay e Pra Jesus? Por onde elas seguem, o comércio não funciona e empregados, que ganham por comissão, perdem salário. Ambulâncias que precisam salvar vidas são obrigadas a desviar a rota porque tem gente dançando atrás de um trio elétrico. Quanto a cidade de Caruaru investe com festa junina? Especificar a Copa na reivindicação de melhor uso do dinheiro que o Estado arrecada pode ser mera manipulação de grupos que desejam posar como autênticos defensores dos bens públicos.

Aconselho quem não gosta de futebol e acha intolerável o país inteiro se acender em torno de 11 marmanjos correndo atrás de uma bola: faça um retiro espiritual em algum lugar remoto. Só não pose de paladino da honestidade, de altruísta ou de fiscal dos recursos públicos. E deixe os outros, que gostam do esporte bretão, terem o direito de se divertir por uns dias. Eu prometo torcer como nunca pela seleção do meu país. E se o Brasil perder, sofrerei por Portugal ou Argentina.

Soli Deo Gloria


- Ricardo Gondim

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