Cela de Asia Bibi é substituída por outra cristã condenada à morte, no Paquistão

A cristã Shagufta Kausar, mãe de quatro filhos, foi condenada à morte com seu marido por falsa acusação de blasfêmia contra o Islã.

Fonte: Guiame, com informações do Christianity TodayAtualizado: sexta-feira, 10 de maio de 2019 às 19:36
Depois que Asia Bibi (esquerda) foi liberada do Paquistão, Shagufta Kausar (direita) foi colocada em sua cela. (Foto: Reprodução)
Depois que Asia Bibi (esquerda) foi liberada do Paquistão, Shagufta Kausar (direita) foi colocada em sua cela. (Foto: Reprodução)

Agora que Asia Bibi finalmente deixou o Paquistão e se reuniu com sua família no Canadá, sua cela de prisão tem uma nova moradora: mais uma mulher cristã condenada à morte por acusações de blasfêmia.

O advogado de Bibi, Saif-ul Malook, disse ao site Christianity Today que vai tratar do caso de Shagufta Kausar, uma mãe de quatro filhos, de 45 anos, e seu marido, que foram condenados à morte por um tribunal paquistanês em fevereiro de 2014.

Os cristãos são a principal minoria religiosa do Paquistão, compreendendo cerca de 1,6% da população de 210 milhões de habitantes do país muçulmano. O número de acusações de blasfêmia contra os cristãos tem sido cada vez maior por seu status social e associação com o Ocidente.

Bibi foi acusada em junho de 2009 de blasfemar contra o profeta Maomé, um crime punível com morte no Paquistão, e foi condenada em novembro de 2010. A Suprema Corte do Paquistão absolveu Bibi em outubro de 2018 devido a “contradições e declarações inconsistentes das testemunhas”.

Agora, Kausar está trancada na mesma cela do presídio feminino de Multan, onde Bibi estava encarcerada. Kausar e seu marido, Shafqat Masih, de 48 anos, vem da cidade de Gojra, onde mais de 100 casas foram incendiadas e 7 cristãos foram por blasfêmia em 2009. Desde então, as tensões entre cristãos e muçulmanos têm aumentado regularmente.

Masih ficou paraplégico por causa de uma lesão na coluna provocada em 2004. Seus quatro filhos, com idades entre 5 e 13 anos, eram dependentes de Kausar, que trabalhava como ajudante doméstico na casa do bispo John Samuel, até que Muhammad Hussein, líder de uma mesquita local, o acusou de enviar mensagens de texto blasfemas do celular de Kausar com sua “conivência”.

Hussein alegou que, em 18 de julho de 2013, ele estava orando na mesquita quando recebeu mensagens de texto blasfemas. Moradores da região cercaram a Delegacia de Polícia de Gojra depois que Kausar e Masih foram presos. Manifestantes queriam executar o casal, mas a polícia incluiu acusações mais severas, a fim de dispersá-los.

Malook disse que a polícia de Gojra também extraiu uma confissão ilegal do casal. Kausar e Masih estão esperando há cinco anos o Supremo Tribunal de Lahore ouvir seu recurso contra o veredicto do tribunal. O advogado planeja fazer outra petição para uma audiência.

“O casal é inocente e não há provas legais substanciais que comprovem que eles realmente enviaram mensagens de texto”, disse Malook.

Blasfêmia como pretexto

De acordo com um relatório da Comissão de Direitos Humanos do Paquistão, depois que as severas leis de blasfêmia foram introduzidas no país, de 1987 a 2014, pelo menos 1.355 casos foram registrados e 57 pessoas foram mortas extrajudicialmente. Até 2014, apenas 21 casos foram registrados contra os hindus, enquanto 187 foram registrados contra cristãos.

Os cristãos paquistaneses são abominados pela maioria dos muçulmanos por causa de sua origem dalit, considerados no sistema de castas como “intocáveis”. Muitas vezes as acusações de blasfêmia surgem de conflitos sobre esse status social. Bibi, por exemplo, foi acusada de tocar na água potável de mulheres muçulmanas.

Malook tem enfrentado muçulmanos paquistaneses desde que começou a defender os cristãos. Ele chegou a receber um convite de asilo na Holanda, mas recusou. “Estou de volta para defender essas pessoas indefesas”, disse o advogado.

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