Cristãos de Hong Kong se preparam para enfrentar perseguição religiosa vinda da China

Líderes cristãos e membros de igrejas estão temerosos de que Hong Kong se torne uma região como qualquer outra da China, onde o comunismo oprime as expressões de fé.

Fonte: Guiame, com informações da CBN NewsAtualizado: sexta-feira, 22 de janeiro de 2021 às 13:40
Protestos contra a Lei de Segurança Nacional (e a favor da democracia) em Hong Kong geraram muitos conflitos entre cidadãos e policiais nas ruas. (Foto: CBN News)
Protestos contra a Lei de Segurança Nacional (e a favor da democracia) em Hong Kong geraram muitos conflitos entre cidadãos e policiais nas ruas. (Foto: CBN News)

O pastor americano Butch Tanner diz que Hong Kong mudou dramaticamente nos poucos anos em que está atuando no território autônomo, localizado no sudeste da China.

"Hong Kong, como seus habitantes a veem, é um lugar totalmente diferente do que era há dois anos", disse Tanner à CBN News durante uma entrevista.

Tanner mudou-se do Texas para Hong Kong em 2017 para liderar a Igreja Batista Internacional de Kowloon.

Então, em junho de 2019, protestos antigovernamentais eclodiram devido a uma polêmica lei de extradição, mergulhando a cidade em meses de caos e derramamento de sangue.

Em meio a esse caos, a igreja de Tanner se tornou um lugar de cura.

"Tínhamos, na verdade, policiais e manifestantes que se reuniam em nosso prédio, oravam juntos e cantavam juntos", disse Tanner.

Os protestos já cessaram, mas o medo agora paira sobre o futuro da cidade, à medida que o controle da China sobre Hong Kong aumenta, seis meses após a imposição de uma nova lei de segurança nacional.

“Nós temos muito medo em Hong Kong, entre as pessoas, há muito medo de que as coisas não se acalmem ou que não fiquem perto do normal que costumavam ser”, observou Tanner.

E esse temor está se tornando realidade. No dia 6 de janeiro, mais de 1.000 policiais de Hong Kong invadiram 73 locais diferentes na cidade, prendendo 53 políticos, líderes pró-democracia, ativistas de direitos humanos e outros.

Lam Cheuk-ting foi um dos legisladores presos. Ele registrou o momento em que a polícia invadiu sua casa.

"Você é suspeito de violar a lei de segurança nacional, subvertendo o poder do Estado", disse um policial de Hong Kong a Lam, enquanto ele passava pela porta.

Destruição da democracia

Chris Patten, o último governador de Hong Kong, diz que o que está acontecendo na cidade nada mais é do que a "destruição brutal de uma sociedade livre" pela China.

"Esta é mais uma virada em Hong Kong. Uma nova tentativa de destruir as liberdades de uma cidade que prosperou sob o império da lei", disse Patten durante uma entrevista.

Também preso, John Clancey, um padre americano que se tornou advogado, agora está sendo julgado por desafiar o governo autoritário da China sobre a cidade.

"Minha abordagem tem sido que você vive de acordo com sua consciência, você vive de acordo com seus princípios, você vive de acordo com as pessoas com quem trabalha e segue em frente", disse Clancey, que é o primeiro americano e estrangeiro acusado pela nova Nova lei de segurança nacional de Hong Kong.

"Mesmo nos dias mais sombrios, acho que é muito importante manter a esperança", acrescentou Clancey logo após ser libertado sob fiança.

As autoridades também cercaram cristãos, incluindo Joshua Wong, um ativista proeminente, visto em uma foto entrando na prisão no início de dezembro.

Joshua Wong foi um dos ativistas cristãos presos por lutar pela democracia em Hong Kong. (Foto: Reuters)

No final daquele mês, duas freiras católicas também foram presas.

“Se eles pensam que podem destruir a ideia de liberdade e democracia para sempre, estão se enganando”, disse Patten. "A verdade é que eles estão absolutamente apavorados com o que a democracia liberal representa".

Relatórios estimam que mais de 300 mil habitantes de Hong Kong planejam fugir da cidade nos próximos meses.

Lap Yan Kung, que leciona na Universidade Chinesa de Hong Kong, disse à CBN News que vários pastores já partiram, enquanto outros estão atuando na clandestinidade.

"O governo, assim como a polícia, usa todos os meios para aplicar esta lei com a finalidade de perseguir os pastores e também o povo", disse Kung.

Pequim defendeu as prisões em massa, apesar dos apelos feitos pelo ex-secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, para a libertação dessas pessoas.

"Ninguém tem privilégios fora da lei", argumentou Hua Chunying, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China. "A lei deve ser seguida e qualquer pessoa que a viole deve ser responsabilizada".

Mudanças

Antes uma cidade independente, Hong Kong agora está testemunhando uma transformação dramática em todos os níveis.

O presidente da China, Xi Jinping, tomou medidas nos últimos meses para remodelar as escolas, a mídia, o legislativo e os tribunais com mais mudanças a caminho.

"A liderança nas escolas está mudando. Escolas que nunca tiveram qualquer conexão com o comunismo antes, agora estão recebendo líderes comunistas e substituindo cargos", disse Tanner ao CBN News. "Os livros didáticos estão sendo alterados, o que pode ser ensinado também está sendo alterado".

Os cristãos temem que Hong Kong esteja se tornando como qualquer outra cidade da China continental e que as regulamentações religiosas combinadas com a nova lei de segurança, logo se apliquem a eles, tornando quase impossível a prática de qualquer tipo de fé no território.

"Uma espécie de autocensura está surgindo entre as pessoas em Hong Kong e muitos de nós estamos muito cautelosos sobre o que podemos dizer", disse Kung.

Os cristãos chineses atualmente experimentam algumas das mais duras perseguições do governo já testemunhadas.

Atualmente, o país ocupa a 17ª posição na Lista Mundial de Perseguição da Portas Abertas 2021 sobre os 50 piores países perseguidores de cristãos, com um cenário caracterizado pela opressão comunista e pós-comunista.

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