Os pés dos que sofrem

Quando olhamos para o tamanho da injustiça, qualquer avanço é gota d’água. E eu peço ao Pai, misericórdia

Fonte: guiame.com.brAtualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:01
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pésEsses dias, fui parado por uma senhora em minha comunidade de fé. Ela se dizia orgulhosa de me ver em lugares importantes, fora do país e tal... Mulher de oração. Fiquei feliz. Mas ela ainda não tinha terminado. Continuou, dizendo que Deus nos chamou pra lavar os pés uns dos outros – e que eu não fazia nada além do que Ele pedira. Daqui de Genebra, eu concordo com ela. Nada do que faço terá importância se não for a serviço de quem não tem. É daqui de Genebra, onde vejo grandes reuniões e auditórios suntuosos, que outra realidade segue gritando em meu coração.

Não falo só de trabalho escravo – tema que tem concentrado meus esforços nos últimos tempos. Falo da causa das crianças vítimas de violência. Das que perderam suas vidas e das que vão perdê-las na exploração sexual da Copa. Falo das mulheres que sofrem com a violência, em casa, no trabalho ou nos trens de São Paulo. Falo daqueles das periferias, dos invisíveis, dos que não tem vez nem voz.

Daqui, olho para trás, e reconheço a boa mão de Deus. Não como quem confirma passos e decisões (não esse Deus só amigo dos bem-sucedidos). Mas como quem usa qualquer um para defender quem precisa. Daí a Medicina, que cursei com esforço. Daí a luta para levar atendimento médico de graça a quem não tinha como pagar – antes mesmo de pensar em política. Daí a luta pelo Mãe Paulistana em defesa das grávidas cujos filhos vi morrer por falta de um simples pré-natal. Daí a indignação, as primeiras leis, os desafios, a defesa dos Direitos Humanos e a luta de uma vida.

Quando olhamos para o tamanho da injustiça, qualquer avanço é gota d’água. E eu peço ao Pai, misericórdia. Lembro-me do olhar da boliviana escravizada e violentada quando se viu liberta. Do choro da mãe quando contei sobre o bebê que perdera – num tempo em que lugar pra dar à luz não era garantido por lei. Do desamparo da criança abusada explicando a violência sofrida a servidores públicos despreparados. Tantas histórias veladas. Tantos rostos anônimos. Queria poder encontrá-los uma vez mais. Tê-los comigo de novo contando suas verdades. Dos mártires desconhecidos que cruzei pelo caminho é o mérito de qualquer conquista.


- Dep. Carlos Alberto Bezerra Jr.

 

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