Vaticano inicia acordo com China e ignora cristãos perseguidos

O Vaticano disse que um acordo entre a Igreja Católica e o Partido Comunista Chinês sobre a ordenação de bispos está "em andamento", apesar da intensa perseguição aos cristãos na China.

Fonte: Guiame, com informações do Christian PostAtualizado: quarta-feira, 8 de março de 2017 às 18:33
Papa Francisco (à esquerda) e presidente da China, Xi Jinping (à direita). (Foto: Ej Insight)
Papa Francisco (à esquerda) e presidente da China, Xi Jinping (à direita). (Foto: Ej Insight)

Relatórios sobre o estreitamento de relações entre o Partido Comunista Ateísta da China e o Vaticano têm sido recebidos com grande preocupação por alguns grupos de apoio à Igreja Perseguida, que estão alertando que a perseguição contra os cristãos poderia piorar ainda mais.

"Uma parceria entre o Vaticano e o governo chinês iria piorar a vida dos cristãos e a situação das igrejas domésticas. O Partido Comunista já tem como alvo os clérigos que não são ordenados pelo Estado, que são considerados ilegítimos, o que leva à perseguição destes. Agora, com o apoio do Vaticano, eles terão uma desculpa a mais para intensificar isso", disse Bob Fu - presidente da 'China Aid' - ao 'Christian Post' em uma entrevista no início desta semana.

"Eles [Partido Comunista] também podem se sentir encorajados em sua perseguição aos cristãos que praticam sua fé fora das igrejas autorizadas pelo governo, uma vez que tal união seria o selo de aprovação do Vaticano para a abordagem do Partido para o cristianismo".

Uma matéria da CNN na semana passada destacou que o Vaticano e o Partido Comunista poderiam estar se aproximando de um "acordo potencialmente histórico" sobre a ordenação de bispos chineses, o que poderia dar um fim a "décadas de distanciamento".

Durante décadas, o Partido Comunista recusou a autoridade do papa, com órgãos católicos chineses locais nomeando seus próprios bispos - uma medida à qual o Vaticano se opunha.

Além disso, o governo chinês introduziu leis restritivas, como as Regras Revisadas sobre Assuntos Religiosos, que busca forçar as igrejas domésticas (inclusive as evangélicas) a se juntarem à denominação do 'Movimento Patriótico dos Três Estados'. As igrejas que se recusam a atender esta exigência são proibidas de continuar com suas atividades.

Líderes de igrejas subterrâneas, que há anos enfrentam uma repressão à sua fé, também não acreditam que a nova parceria poderia de alguma forma reduzir a perseguição religiosa na China.

"Jesus disse que uma pessoa não pode servir a dois senhores, agora o Vaticano estaria disposto a servir a Deus e ao Partido Comunista", disse o pastor Paul Dong, líder de uma igreja subterrânea, de acordo com a CNN.


"Em andamento"
O Papa Francisco aparentemente manifestou interesse em visitar a China. O Vaticano, entretanto, disse que o acordo entre a Igreja Católica Romana e o governo chinês sobre a ordenação dos bispos é um "trabalho em andamento".

Fu disse ao 'Christian Post' que Francisco estaria cometendo um erro, já que a China está apenas buscando reforçar sua imagem pública.

"A China pode estar tentando fazer uma frente unida com o papa e com o Vaticano para parecer como se estivesse respeitando o cristianismo perante comunidade internacional, quando, na realidade, a religião ainda continuará a ser oprimida", argumentou.

"Por isso, um dos benefícios que a China poderia obter de uma relação com o Vaticano é a de uma imagem pública melhorada - mas falsa - tanto em nível nacional como internacional", acrescentou.

Fu observou que "atualmente, apenas alguns bispos que atuam na China foram aprovados pelo Vaticano e pelo Partido Comunista Chinês, uma vez que a vasta maioria dos clérigos não vê os critérios de ordenação do Partido como estando alinhados com os princípios da igreja, devido ao policiamento do governo".

Fu insistiu, no entanto, que o Papa Francisco não deveria estreitar seus laços com a China, enquanto o país continua a recusar-se a melhorar a vida dos cristãos perseguidos.

"Eles (o Vaticano) também devem perceber que o governo chinês não é um amigo da fé e da liberdade religiosa, não importa o quanto os funcionários tentem mostrar o contrário. Mesmo os que frequentam igrejas do governo são constantemente monitorados e perseguidos", disse Fu.

Gu Yuese, ex-pastor da Igreja Chongyi, uma das maiores igrejas oficialmente sancionadas no país, também foi preso no ano passado, pouco depois de se manifestar contra a destruição forçada de cruzes das igrejas por parte do governo, embora os funcionários o acusassem de desvio de verbas.

"Se o Vaticano e o papa concordarem em celebrar uma parceria com a China, sem antes forçar o Partido Comunista a enfrentar seus próprios abusos, será como se eles tolerassem este tipo tratamento, dado aos cristãos", advertiu Fu.

Ele pediu ao Papa Francis que "escutasse os gritos dos cristãos perseguidos e exortasse o governo chinês a pôr fim à sua agressividade".

 

Este conteúdo foi útil para você?

Sua avaliação é importante para entregarmos a melhor notícia

Siga-nos

Mais do Guiame

O Guiame utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência acordo com a nossa Politica de privacidade e, ao continuar navegando você concorda com essas condições