Onde houver dor, é preciso haver justiça

Mais do que nunca, hoje vivemos uma cultura de violência, mas o estupro existe desde sempre.

Fonte: Guiame, Carlos Bezerra JrAtualizado: terça-feira, 14 de junho de 2016 às 11:16
Dep. Carlos Alberto Bezerra Jr. (Foto: Divulgação)
Dep. Carlos Alberto Bezerra Jr. (Foto: Divulgação)

O que você faria se fosse pressionado a vir a público pedir desculpas por algo de errado que fez?

Mas, e se essa pressão viesse de vários lados, como ser desconvidado a conduzir a tocha olímpica, perder participação em programas da TV Globo e contrato polpudo com empresa fabricante de material escolar, de reações negativas até de fãs nas redes sociais e determinações da gravadora?

Um pacote completo para demonstrar publicamente o arrependimento pelo que fez, não? 

Os meus questionamentos não têm o objetivo de desqualificar um pedido de desculpas, mas mostrar o quanto ainda a hipocrisia ronda um assunto extremamente sério.

Depois de a denúncia de assédio sexual a uma jornalista vir à tona, o cantor Mc Biel tentou justificar as investidas que deu ao chamar de "gostosinha” a jornalista durante a entrevista, gravada em áudio e vídeo.

Ele ainda disse que a "quebraria no meio" se mantivessem relações sexuais. Flagrante insinuação de estupro.

Para o pai dele, "qualquer moleque numa rodinha faz uma palhaçada dessa aí", aliás raciocínio semelhante teve o pai de um universitário americano detido após estuprar uma estudante: "Meu filho não pode ser preso por causa de um ato de 20 minutos”.

O velho truque de “eu estava brincando” para mascarar um crime grave contra a mulher, cotidianamente cometido por garotos e marmanjões.

Alguns minutos em um vagão de um trem lotado ou uma breve leitura em balanços recentes, que revelam que a cada 11 minutos, uma mulher é estuprada no Brasil, seriam suficientes para mostrar que falamos de coisa séria, quer gostem ou não os pais de filhos capazes de reagir a críticas dizendo que “a felicidade acompanhada do sucesso incomoda’.

Não, “Biéis”, é a dor profunda de um estupro que jamais sairá da memória de uma mulher, que teve sua alma dilacerada, que incomoda.

Mais do que nunca, hoje vivemos uma cultura de violência, mas o estupro existe desde sempre.

Se lembrarmos de quando Jesus esteve entre nós, vamos notar o quanto ele defendeu e se identificou com os marginalizados pela sociedade opressora da época, o que inclui as mulheres.

No emblemático episódio da cura da mulher com fluxo de sangue - sob as leis vigentes ela sequer poderia se dirigir a um homem publicamente pois era considerada "impura" ou se fosse

pega abraçando ou tocando em alguém na rua, poderia receber pena de morte - ela se aproximou do Mestre tremendo de medo e o tocou.

Emocionante perceber que a cura proporcionada por Jesus não abrangeu só o aspecto físico. Ela não só ficou livre de seu sangramento, mas também foi reconhecida publicamente em um

ambiente no qual não tinha voz nem vez. "A tua fé te salvou", disse Jesus. Ele libertou aquela mulher em todos os sentidos.

Milhares de mulheres continuam sangrando todos os dias pela violência e pela opressão.

Bravamente, elas têm ido às ruas para denunciar as agressões sofridas e clamar por justiça. Temos a responsabilidade de hoje sermos portadores do convite do Mestre feito aos cansados e oprimidos.

O momento suplica por palavras ditas em favor da justiça, do respeito e da igualdade que devem balizar as relações humanas.

Mais compaixão.

 

Carlos Bezerra Jr., 48, é deputado estadual e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

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