Rubem Alves como pastor

Poucos dos que compartilham as citações de Rubem Alves sabem que, antes de ser um escritor consagrado, ele foi um pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) perseguido pela ditadura.

Fonte: Guiame com informações da revista ÉpocaAtualizado: quinta-feira, 23 de julho de 2015 às 09:59

Para desvendar a vida de Rubem Alves, o jornalista Gonçalo Junior mergulhou na vida do escritor para contar como o menino nascido em Boa Esperança (MG), em 1933, tornou-se um “subversivo” perigoso que escreveu, em seu autoexílio nos Estados Unidos, a primeira obra a usar a expressão “Teologia da Libertação". Antes de pregar uma revolução nos métodos de ensino, ele tentou abrir as gaiolas da religião. “Alves sempre foi um libertário”, afirma Gonçalo Junior em entrevista a revista Época. “A militância religiosa que ele teve se desenvolveu em uma militância pela educação. Ele abandonou a Igreja, mas manteve a veia de pregador e difusor de ideias.”

Essa parte menos conhecida da história de Alves, morto há um ano, é uma das histórias retratadas no livro É uma pena não viver: uma biografia de Rubem Alves, lançado neste mês (Planeta, 496 páginas, R$ 49,90).

Alves no Seminário Presbiteriano do Sul (SPS), em Campinas, onde conheceu Richard Shaull, o “teólogo da revolução”, um missionário americano que insistia que era dever dos cristãos combater a pobreza e a exploração, mesmo que, para isso, fosse necessária uma aliança estratégica com os marxistas. A fé metafísica do seminarista se transformou em fé política.

Convertido ao evangelho social de Shaull, Alves se tornou o pastor de uma igreja presbiteriana em Lavras, no Sul de Minas, e se entregou ao cuidado dos pobres sem pensar em convertê-los. “Eu achava que a religião não era para garantir o céu, depois da morte, mas para tornar esse mundo melhor, enquanto vivemos”, afirmou. Do púlpito, o “reverendo Alves”, como ficou conhecido na cidade, instava os membros da Igreja a se preocupar com os mais pobres e tomar parte na luta contra a opressão e a exploração do homem pelo homem. Depois do golpe de 1964, passou a criticar as arbitrariedades do regime militar. Os pastores que governavam a Igreja Presbiteriana do Brasil mantinham estreitos laços de amizade com os generais que mandavam no país e não gostaram nada disso.

Seu ativismo social levou-o a entrar para a lista dos vigiados da ditadura e permaneceu dos anos 1960 até 1985 sob o monitoramento secreto dos militares. Após um período de autoexílio em Nova York com a mulher onde fez seu doutorado baseado na teologia da libertação, Rubem volta ao Brasil e magoado com seus companheiros pastores, que desconfiavam de suas ideias, Alves rompeu com a Igreja Presbiteriana do Brasil em 1970. “Sempre entendi que o Evangelho é um chamado à liberdade. Não encontro a liberdade na IPB. É hora, portanto, de buscar a comunhão do Espírito fora dela”, escreveu em sua carta de demissão do pastorado. 

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