Adão e Eva poderiam realmente ter 'povoado a Terra', conforme pesquisador

"É possível, mas não é fácil", ressaltou o professor de genética da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Waldir Stefano, destacando que um obstáculo a ser vencido seria a pouca variabilidade genética.

Fonte: Guiame, com informações da UOLAtualizado: quinta-feira, 31 de março de 2016 às 17:22
Ilustração sugere cena de Adão e Eva no Jardim do Eden.
Ilustração sugere cena de Adão e Eva no Jardim do Eden.

O povoamente da Terra a partir de apenas um casal - como aponta no livro de Gênesis sobre Adão e Eva - é uma questão que ainda gera discussões, não apenas entre ateus e religiosos, mas até mesmo entre teólogos. Segundo o pesquisador de genética de populações da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Waldir Stefano, a teoria é possível, porém em determinadas condições.

"É possível, mas não é fácil", ressaltou o estudioso, destacando que um obstáculo a ser vencido seria a pouca variabilidade genética.

Segundo um estudo feito com crianças nascidas entre entre 1933 e 1970, na Tchecoslováquia, quase 40% daquelas cujos pais eram parentes de primeiro grau apresentavam deficiências graves. 14% delas morreram por conta desses problemas congênitos.

Stefano destacou que com o passar do tempo, essa variabilidade pode realmente aumentar, mas esta questão pode ser influenciada pelo processo de seleção natural.

O pesquisador lembrou que ao longo dos anos, podem ocorrer mutações no DNA dos descendentes e, se tais mutações forem vantajosas para a sobrevivência, isso aumentaria a chance da terra ser povoada conforme o relato bíblico.


Mutações desvantajosas
Entre as mutações que podem prejudicar esse processo, podem ser encontrados exemplos de famílias reais europeias, nas quais certas mutações chegaram a deixar alguns dos descendentes estéreis.

O pesquisador citou o livro "As Sete Filhas de Eva", de Bryan Sykes, professor de genética da Universidade de Oxford.

"A obra mostra o estudo do DNA mitocondrial, que é herdado da mãe. Os pesquisadores chegam a sete grandes matrizes de ascendentes na Rússia", diz. "Antes dessas sete, provavelmente havia menos ainda".

Stefano explicou que, como o óvulo é muito maior que espermatozoide, quando o zigoto é formado, as mitocôndrias (responsáveis por gerar a energia das células) são iguais às da mãe.

O pesquisador lembrou que há doenças transmitidas geneticamente pelas mitocôndrias, como a doença de Leber, que provoca cegueira entre os 40 e 50 anos. Porém Stefano aponta que a consanguinidade teria sido um obstáculo vencido por outras civilizações.

"Existem exemplos de colonização com pequenas populações iniciais, como a do Havaí, em que havia muita consanguinidade e foi bem-sucedida", disse.


Período necessário
Na maioria das vezes, as variações do material genético não chegam a ter grandes efeitos no fenótipo (resultados visíveis, como s cor dos olhos, cabelos e pele). Mas se trouxerem contribuições positivas para a preservação da espécie, conseguirão avançar.

"A grande questão é: em qual período de tempo isso poderia acontecer?", lembrou o estudioso, referindo-se ao tempo necessário que os descendentes de um único levariam para gerar uma população de 7 bilhões de pessoas.

No ano de 2002, John Moore - antropólogo norte-americano - publicou um estudo pela Nasa, no qual estima não seria possível povoar a Terra com uma população estável com menos de 160 pessoas como ponto de partida. O estudo parte da premissa de que a população mundial teria sido formada por pequenos grupos migratórios nos tempos pré-históricos.

Esse número usado por Moore como um "ponto de partida" para o cálculo que dá base à sua teoria, vale por exemplo para uma viagem ao espaço, que permitiria 200 anos de isolamento antes da voltar à Terra, quando as pessoas teriam contato novamente com uma maior variabilidade genética.

Stefano destacou que o próprio Charles Darwin, em seu livro 'A Origem das Espécies', chegou a 'brincar' com uma conta que poderia comprovar a teoria baseada no livro de Gênesis sobre o povoamento da Terra a partir de Adão e Eva.

Segundo o exemplo de Darwin, se um casal de elefantes conseguisse viver tranquilamente, sem que nenhum fato externo causasse a sua morte, quantos descendentes eles teriam em, por exemplo, 700 milhões de anos? O raciocínio também propõe que tais descendentes tivessem uma vida que corresponde às expectativas de sobrevivência dessa espécie, ou seja, 100 anos. Trata-se de uma conta bem hipotética.

Considerando que a gestação de um elefante dura dois anos e a expectativa de vida desses animais é de cem anos, assim, Darwin calculou que neste período, haveria 19 mil descendentes daquele casal no período dentro de um século.

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