Conselho de Psicologia repudia declarações de Marisa Lobo sobre ideologia de gênero

Falando com exclusividade ao Guiame, a psicóloga paranaense afirmou que a atitude do Conselho Federal de Psicologia implica em um cerceamento de sua liberdade, como profissional e como cidadã.

Fonte: Guiame, João NetoAtualizado: quinta-feira, 2 de junho de 2016 às 17:21
Marisa Lobo é psicóloga, especialista em Direitos Humanos e autora do livro "Ideologia de Gênero na Educação". (Foto: Divulgação)
Marisa Lobo é psicóloga, especialista em Direitos Humanos e autora do livro "Ideologia de Gênero na Educação". (Foto: Divulgação)

O livro "Ideologia de Gênero na Educação" é o mais recente lançamento da psicóloga Marisa Lobo. (Imagem: Facebook)

Na última quarta-feira (1), o Conselho Federal de Psicologia (CFP) publicou em seu site oficial, uma nota emitida por sua Comissão de Direitos Humanos, em repúdio às declarações da psicóloga cristã Marisa Lobo sobre a ideologia de gênero.

Em seu texto, a Comissão destacou que a "prática da Psicologia deve respeitar o imperativo da laicidade nos processos de produção de conhecimento. A confusão entre ciência e religião torna o trabalho técnico-científico da Psicologia incongruente em seus próprios parâmetros de confiabilidade e de validade e com a ética profissional estabelecida".

A nota também afirmou que a psicóloga defende essa "confusão" e tem como sua "pedra angular, um conjunto de fundamentos religiosos dogmáticos que desconsidera os fundamentos e uso adequados da grande virada epistemológica do final do século XX que estabeleceu gênero como categoria de análise".

"A virada do 'gênero' contribuiu para a diminuição do sofrimento de milhões de mulheres, desnaturalizando a sua esperada subordinação, interpelando visões que transformavam as diferenças entre homens e mulheres em desigualdade e a violência intrínseca a estas", diz outro trecho do texto.

Apesar das duras críticas da Comissão de Direitos Humanos do CFP e também de diversos usuários das mídias sociais - incluindo psicólogos - Marisa também recebeu grande apoio ao comentar a nota em suas páginas das redes.

"Quanta honra, irmã Marisa Lobo! Ser alvo de críticas do CFP significa que você sobressaiu acima do nível medíocre deles. Parabéns!", comentou o escritor Julio Severo na postagem.

"Olha o tamanho do absurdo! Está na hora do Brasil criar outro conselho de psicologia porque esse daí é caso perdido", comentou outra usuária do Facebook.

"Isso é uma perseguição contra uma ótima profissional, ela tem o direito de defender as famílias. Eu conheço outros psicólogos que são contra a ideologia de gênero", protestou outra internauta.


Liberdade Cerceada
Falando com exclusividade ao Guiame, Marisa afirmou que a atitude do Conselho Federal de Psicologia implica em um cerceamento de sua liberdade, como profissional e como cidadã.

"Eu me sinto perseguida mesmo, me sinto refém desse Conselho de Psicologia, porque eles cerceiam o direito do cidadão. O Conselho está emparelhado, acuado, está a serviço de uma militância ideológica política, não sabe avaliar o que eu penso a respeito. Pelo o que estou vendo eles não leram o meu livro. Quando eu falo sobre ideologia de gênero nas audiências e palestras, sou extremamente técnica", destacou.

Apesar de sentir reprimida, a psicóloga também apontou que tantas críticas por parte do CFP e também de movimentos LGBT e feministas, também têm surtido um efeito 'inusitado'.

"Eles não entendem que quanto mais eles me repudiam e me xingam, mais as pessoas me procuram, me buscam e o meu nome acaba ficando em evidência. Dizem que eu não tenho voz dentro da psicologia, mas muitos psicólogos e estudantes de psicologia têm me apoiado, me acompanhado... por quê? Porque eles não aguentam mais essa militância política dentro do Conselho de Psicologia. Eu não vou me esconder, eu quero expor o que o Conselho de Psicologia está fazendo mais uma vez comigo", disse.


Obra literária
A nota da Comissão de Direitos Humanos do CFP contra Marisa Lobo vem logo após o lançamento do livro "A Ideologia de Gênero na Educação", escrito pela psicóloga.

Segundo psicólogo William Sousa de Almeida, a nota de repúdio divulgada pelo CFP contra Marisa não tem fundamentos e pontuou alguns fatores que devem ser considerados nesse caso. Confira as considerações do profissional logo abaixo:

"O CFP divulga uma nota de repúdio devido ao livro lançado recentemente pela Psicóloga Marisa Lobo. Daí cabem uns pontos.

1) Quem não sabe o motivo da nota de repúdio não pode compartilhar. Se sabe o motivo, mas, não leu o livro, também não pode compartilhar.

2) Na nota de repudio o CFP fala de interferência da religião na psicologia, insinuando que a Marisa se utiliza de conceitos religiosos para propagar suas convicções, tudo isso falando de um livro que muito provavelmente as pessoas que assinam a nota de repúdio não leram.

3) O livro não é um livro religioso, é um livro técnico, inclusive com varias citações de referências de estudos, pesquisas e análises.

Conclui-se então que a tal nota de repúdio é sem nexo e imoral.

Quando o CFP que sempre se acha soberano sobre todos fala da laicidade do estado e de Direitos, esquece dos meus direitos, do que a Constituição Federal me assegura e principalmente da liberdade de expressão de um Psicólogo escrever sobre um tema sob a sua própria ótica e convicção. É uma nota de repúdio autoritária, arbitrária, inconstitucional e incabível"

Marisa Lobo (à frente) protesta contra a ideologia de gênero em audiência pública, na Câmara dos Deputados. (Foto: Arquivo Pessoal)


Disforia de gênero
Marisa Lobo contestou o repúdio da Comissão de Direitos Humanos do CFP, lembrando que a ideologia de gênero tem gerado amplos debates e já mostra resultados alarmantes em diversos outros países onde já está sendo implantada.

"No mundo inteiro onde se aplicou a ideologia de gênero, está havendo grande conflito de opiniões e eu trabalho com clínica. Então eu não posso simplesmente fechar os olhos para o fato de que essa promoção da criação em gênero neutro, dessa ideologia de gênero que negligencia as diferenças entre os sexos, está realmente causando conflitos, principalmente a disforia de gênero", destacou.

Para comprovar o seu alerta sobre a disforia de gênero, Marisa citou os recentes resultados divulgados pelo Serviço de Transtorno de Identidade de Gênero no Reino Unido, que registrou um aumento de 1.000% de crianças tratadas nos últimos cinco anos.

Os médicos estão preocupados porque o serviço de saúde está ficando "sobrecarregado", de acordo com o jornal britânico 'Gloucester Citizen'.


Contextualização
A batalha de Marisa Lobo com Conselhos - Federal e Regional (PR) - de Psicologia não é exatamente nova. Em maio de 2014, a psicóloga chegou a ter o seu registro profissional cassado pelo Conselho Regional de Psicologia do Paraná.

Após a decisão do CRP (PR), a Justiça do estado do Paraná anulou o processo administrativo do Conselho, no dia 06 de novembro de 2014.

Já em maio de 2015, a psicóloga foi julgada e absolvida - dessa vez pelo próprio Conselho Federal de Psicologia.

Em todos os casos, as acusações eram semelhantes: "o uso indevido da religião em suas sessões terapêuticas". Apesar das alegações, nenhuma dessas informações foi confirmada, o que levou a psicóloga a ser absolvida.

 

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