Estado Islâmico treina crianças sequestradas para atentados suicidas

O uso de crianças sequestradas para realizar atentados suicidas não é apenas a mais recente evidência das crueldades sem limites, praticadas pelo Estado Islâmico. É também a mais terrível.

Fonte: Guiame, com informações da CNNAtualizado: terça-feira, 16 de fevereiro de 2016 às 15:56

O jovem Nouri, de 11 anos de idade se recusou passar pelo treinamento que o tornaria um 'homem-bomba' com os outros meninos em um acampamento controlado pelo Estado Islâmico no norte do Iraque. Devido à sua "insubordinação", os terroristas quebraram suas pernas em três lugares.

Ironicamente, o tratamento desumano salvou sua vida. Incapaz de andar ou correr normalmente, ele foi considerado "inútil" pelos combatentes que treinam as crianças sequestradas para participarem dos ataques suicidas.

Por ter recebido essa rotulação de 'inútil', ele foi libertado, levado para casa por sua avó e agora reside em um campo de refugiados. Seu irmão de 5 anos de idade, Saman, foi liberto com ele. As diversas surras que ele levou o traumatizaram de uma forma tão grave que ele perguntou aos repórteres da CNN se eles também estavam lá para espancá-lo. Muitas vezes ele acorda gritando no meio da noite, por causa de seus pesadelos, que ainda o atormentam.

Os pais de ambos os meninos ainda permanecem em cativeiro.

"Eles nos pediram para ir com eles para o treinamento", disse Nouri. "No início, nos recusamos a ir, porque estávamos com medo. Eles me pediram para ir para a montanha e eu me recusei novamente, então eles quebraram minha perna. Isso me salvou. As outras crianças foram levadas à força".

O uso de crianças sequestradas para realizar atentados suicidas não é apenas a mais recente evidência das crueldades sem limites, praticadas pelo Estado Islâmico. É também a mais terrível.

Isso porque quando os garotos são enviados para a "terra de ninguém" - entre os soldados do Estado Islâmico e os combatentes curdos - em Peshmergam, nunca se sabe se as crianças foram realmente libertas ou se eles carregam consigo uma bomba.

"Muitas vezes, quando estamos enfrentando o Estado Islâmico, vemos as crianças na linha de frente e eles estão vestindo coletes explosivos. Eles passam por uma lavagem cerebral ", disse Aziz Abdullah Hadur, um comandante das tropas de Peshmerga. "Quando eles fazem isso através de nossas linhas, matam nossos combatentes. É uma decisão incrivelmente difícil. Você não sabe o que fazer, porque se você não matá-los eles vão te matar".

Aos 12 anos de idade, "Nasir" (nome fictício) decidiu não puxar o cabo que provocaria a explosão de seu colete. Agora está reunido com sua mãe em um campo de refugiados e voltou à escola. Ele está tentando esquecer a crueldade a que ele foi submetido no campo de "treinamento".

"Eles não nos deixavam chorar, mas eu gostaria de pensar na minha mãe. Pensar sobre ela se preocupando comigo e eu ia tentar e chorar em silêncio", disse Nasir. "Quando nós escapamos e eu vi minha mãe novamente, foi como voltar à vida".

Nasir foi uma das várias crianças que participou de um vídeo de propaganda do Estado Islâmico, feito no Instituto Farouq Al, em Raqqua, Síria. Nele, uma fila de crianças é forçada a repetir rigidamente o mantra citado pelos homens que os sequestraram: "À jihad. À jihad".

No vídeo, um menino está tremendo. A maioria não pode levantar o rosto para olhar para a câmera. Seu treinador exulta na frente deles: "Pela graça de Alá, nos próximos dias, eles vão estar na linha de frente da luta contra os não-crentes".

A esses garotos, chamados "filhotes do Califado", os combatentes do Estado Islâmico dizem que os amam, mais que seus próprios pais.

"Quando eles estavam nos treinando eles nos diziam que nossos pais eram descrentes e que o nosso primeiro trabalho seria voltar para casa e matá-los", disse 'Nasir' à CNN, com o rosto coberto e sua voz alterada, para evitar que fosse identificada.

"Havia 60 de nós", disse Nasir. "Eles nos disseram que os americanos - os 'incrédulos' - estavam tentando nos matar, mas eles, os lutadores, nos amavam. Eles iriam cuidar de nós, melhor que os nossos pais".

Khalid Nermo Zedo é uma trabalhadora Yazidi que fundou o campo de refugiados chamado Esyan, onde Nasir agora reside.

"Eles sofreram muito", disse ela. "Você pode imaginar uma criança de 12 anos, 10 anos ou até mesmo 8 anos de idade, tirado de sua mãe à força, levado para os campos de treinamento militar, forçado a carregar armas, a se converter ao islamismo e ouvir que tudo aquilo no que ele cresceu acreditando é apostasia. Que seus pais são 'incrédulos', 'impuros'?", questionou.

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