‘A igreja é um SOS espiritual e não pode ficar fechada’, diz presidente de organização evangélica

Líderes religiosos questionam manutenção do fechamento de igrejas mesmo com regras de segurança sendo cumpridas.

Fonte: Guiame, com informações da Record TVAtualizado: segunda-feira, 3 de agosto de 2020 às 14:34
Concentração de evangélicos durante evento. (Foto: Masao Goto Filho/AE/VEJA)
Concentração de evangélicos durante evento. (Foto: Masao Goto Filho/AE/VEJA)

Líderes de diversas vertentes religiosas se dizem contrários ao fechamento das igrejas na pandemia pois acreditam que a fé, exercida e alimentada nos diferentes cultos, é necessária para a saúde espiritual e mental das pessoas.

Ao entrevistar fiéis e líderes, o “Domingo Espetacular” mostra que o fechamento de espaços religiosos limita a prática da fé na pandemia. A reportagem diz que a própria ciência comprova a importância da fé, que pode sim ajudar as pessoas a lidar melhor com tempos difíceis.

Um desses momentos é a pandemia de coronavírus que atingiu todo o planeta. Devido à política de distanciamento social, as pessoas foram proibidas de frequentar templos e igrejas, o que, segundo esses líderes, causou mais prejuízos para a sociedade.

Passados cinco meses de fechamento, alguns estados e cidades agora começam a flexibilização em lugares de grande movimentação, como comércio e academias, mas igrejas permanecem fechadas, o que levanta questionamentos de fiéis, pastores, padres e outros líderes religiosos.

A grande queixa e argumento está em que os espaços de fé são capazes de ajudar as pessoas em sua saúde e equilíbrio. Um exemplo é o caso de Monike Silva Odororic que sofria de depressão, mal que começou com o fim de seu casamento.

“Eu percebi que tinha algo errado comigo comecei a sentir dores constantes no meu corpo e mesmo indo buscar ajuda da medicina nada encontrando”, conta a assistente social, que fez 12 tentativas de tirar a própria vida.

“O desejo de morte começou a brotar de uma maneira sutil sem eu perceber: por que viver?”, questionou Monike, até ouvir as palavras de um pastor sobre a fé e tudo começou a mudar.

A fé foi um ingrediente decisivo na vida de Monike, assim como tem sido para milhares de pessoas. “A fé é tudo; se a gente não acredita em Deus a nossa vida não tem sentido”, explica um fiel.

Para o rabino David Weitman, “fé significa acreditar num ser supremo, no Criador do universo, em saber que tem uma autoridade acima da nossa cabeça, saber que a gente apenas planeja, mas a última palavra é dele”.

A fé é o alicerce em tempos difíceis. De acordo com o padre Juarez de Castro, da arquidiocese de São Paulo, “é a fé que nos alimenta, é a esperança que nos fortalece. É esse contato com a espiritualidade que me faz diferente”.

O chefe dos sheiks do Egito no Brasil, Abu Bakr, diz que “a fé é o valor mais alto na vida seres humanos, e que nós precisamos da fé nossa vida para ter esperança”.

Na mesma linha, o bispo da Igreja Sara Nossa Terra, Cristiano Guimarães, “A fé é o instrumento de trazer esperança para as pessoas, [pois] muita gente perde a esperança nesse momento e através da fé as pessoas são fortalecidas”.

Ciência

A reportagem destaca que a fé já reconhecida pela ciência pelos seus efeitos positivos nas curas e pelo enfrentamento de momentos difíceis. Segundo a pesquisa de uma universidade americana, informa a reportagem, pacientes com fé apresentam 40% menos chances de desenvolver depressão.

O testemunho pode ser comprovado pelos profissionais de saúde. De acordo com a reportagem, quem costuma atender nos consultórios vê essa realidade com frequência.

“O que antes era uma coisa meio mística, hoje já está sendo comprovado pela ciência, a importância da fé, que a oração tem um local no cérebro onde ela age, e isso traz produção de hormônios que vão fazer as pessoas ficarem realmente mais felizes e mais resiliente para lidar com as coisas”, diz a psicoterapeuta Pollyana Esteves.

Reinaldo Manhami, que adoeceu depois de um divórcio, testemunho a eficácia da fé em sua vida. “O divórcio foi um gatilho para um processo de depressão, então eu vejo que a depressão começa por um ponto de tristeza e essa depressão foi tomando conta de mim”, explica o biomédico.

Ele conta que nenhum tratamento era suficiente, e até a ajuda de profissionais não funcionava. Reinaldo passou a usar antidepressivos, e para os episódios de ansiedade precisou tomar ansiolíticos, além de apoio de psicoterapia. Mesmo assim, o quadro da doença persistiu até ele se encontrar com a fé.

“Foi aí que eu me voltei para a espiritualidade. Eu conversei com o pastor, que conheceu minha história e a primeira coisa que ele colocou em mim foi que é a mudança estava em mim, a fé realmente muda qualquer situação”, diz Reinaldo.

País de fé

Segundo dados recentes do IBGE, o Brasil é um país de fé. Noventa e dois por cento da população declaram ter alguma religião, mas a pandemia do coronavírus impôs muitos desafios e limitações aos fiéis. Com o isolamento social, igrejas e templos religiosos em todo o país tiveram que ficar fechados.

“Para falar a verdade não estava sentindo bem”, diz a agricultora Maria José de Araújo.

Incertezas e medo provocaram aumento de casos de ansiedade, depressão e até de suicídios.

“Cuidar da saúde mental é fundamental, é imprescindível; é ter um refúgio religioso. Isso faz toda a diferença”, explica a psicóloga Sara Rosana Queiroz.

As celebrações religiosas passaram a ser apenas pela televisão ou online, só que no Brasil, 1/4 da população (25,3%) não têm acesso à internet.

“A igreja serve para acolher aquele que está necessitado, para abençoar. Então não poder orar por uma pessoa que está enferma, não poder ajudar, não poder ouvir uma pessoa que está nesse estado no momento para nós foi muito difícil”, explica Vladimir Romera, bispo da igreja Renascer em Cristo.

Serviço essencial

Apesar de o Decreto Nº 10.292, de 25 de março, logo no início da pandemia no Brasil, ter decidido que atividades religiosas de qualquer natureza fazem parte de serviços essenciais, o que liberaria as igrejas para funcionar, governadores e prefeitos não acataram o decreto do Governo Federal

Para o presidente da Unigrejas (União Nacional das Igrejas e Pastores Evangélicos), Eduardo Bravo, “para muitos prefeitos a pandemia foi o trem da alegria, porque aproveitaram as verbas de comprar sem licitação, superfaturaram os equipamentos para poder tirar proveito financeiro. Mas isso está sendo investigado por aí a fora. Então isso é desumano, para não dizer criminoso”.

Representante de 50 mil pastores e igrejas no Brasil, Eduardo Braga sempre defendeu que as igrejas ficassem com as portas abertas seguindo as normas de segurança. “A pandemia não veio só trazer problemas financeiros para a sociedade e de saúde física, veio trazer problema de saúde espiritual, emocional. E a igreja é como se fosse um hospital espiritual, a igreja é um SOS espiritual. Então, a pessoa não pode chegar no hospital estar fechado; a pessoa não pode chegar na igreja, a igreja não pode estar fechada”, compara.

Líderes religiosos estão unidos no propósito de fazer uma abertura responsável dos espaços. “Por que abriram as academias? Porque a pessoa precisa ser mexer. Espiritualmente é a mesma coisa. Uma pessoa precisa ir no lugar onde ela tem a possibilidade de deixar sua alma ansiar por uma coisa mais elevada”, explica o rabino Weitman.

As igrejas sempre foram favoráveis ao funcionamento de acordo com as novas regras de higiene. “A missa é celebrada de uma forma rápida e é pedido para que as pessoas não fiquem dentro da igreja logo depois, que elas logo possam sair e não fazer nenhum tipo de aglomeração”, diz o padre Juarez.

Para esta infectologista Rosana Richtmann, é possível retomar as celebrações desde que haja segurança. “As regras são basicamente manter o distanciamento social, muitas igrejas, muitos locais onde fazem cultos estão demarcando o espaço para que seja visível para a pessoa que vai entrar na igreja entender onde ela pode sentar e onde ela não pode sentar”, diz a especialista, relatando ainda que o uso da máscara o tempo todos é fundamental.

Esses critérios têm sido cumpridos nos espaços religiosos que estão abertos. Além dessas regras, alguns ainda fazem a medição da temperatura e disponibilizam álcool gel na porta aos fiéis, que precisam que estar comprometidos com a proteção de todos.

Fé proibida

No Brasil, as prefeituras de cerca de 300 municípios ainda não permitem que os fiéis possam frequentar espaços religiosos. Eles têm que se manter fechados. Com isso, alguns prefeitos ignoram os novos protocolos e proíbem o exercício da fé.

Em Porto Alegre, capital gaúcha, com quase 1 milhão e meio de habitantes, o prefeito Nelson Marchezan Júnior liberou os jogos de futebol supostamente por pressão de um grupo de comunicação, mas não permite que as pessoas frequentem cerimônias religiosas.

“Se tivesse uma igreja aberta com certeza eu iria entrar”, diz uma mulher. “Nessa hora é que a gente mais precisa”, diz outra.

Em levantamento realizado pela Record no Rio Grande do Sul mais de 87% dos moradores de Porto Alegre acham injusta a volta do futebol enquanto as igrejas e o comércio continuam fechados. Em Santa Catarina, o prefeito de Blumenau, Mário Hildebrandt, permitiu a abertura, mas apenas em dias determinados. Em mais 37 municípios do estado a proibição está mantida.

Outras cidades grandes fizeram o mesmo em Minas Gerais. O prefeito Antônio Almas, de Juiz de Fora, cidade com 489 mil habitantes, mantém a proibição. No estado são 102 municípios que não podem abrir as igrejas.

No estado de São Paulo são 104 prefeitos que também não autorizaram o funcionamento de espaços de fé, como em Franca. “A igreja eu acho que não deve fechar não, a gente está indo para buscar a Deus”, diz um fiel.

No estado da Bahia são 48 cidades com a proibição. No Ceará, a cidade de Juazeiro do Norte, que tem 277 mil habitantes e é comandada pelo prefeito Arnon Bezerra, é mais u município que mantém igrejas de portas fechadas.

“Infelizmente a gente se sente de coração partido por conta de não temos a frequência de praticarmos a nossa crença, a nossa religião”, diz uma fiel local.

Para o cientista político Pedro Costa, os prefeitos que mantêm a proibição e querem ser eleitos devem enfrentar muitas dificuldades.

“Certamente a nestas eleições o recado vai ser dado nas urnas, os prefeitos que as se colocam a contra a reabertura desses templos e que eventualmente se colocaram a favor da reabertura de outros espaços semelhantes, certamente serão punidos pelos fiéis nas urnas”, diz.

 Entre os brasileiros, um levantamento feito pelo instituto Real Time Big Data essa semana com pessoas de todo o país revelou que 61% não concordam com o fechamento de espaços religiosos, 36% apoiam a proibição e 3% não sabem ou não opinaram.

 A pesquisa também perguntou qual lugar que apresenta o maior risco de contaminação do coronavírus. Mais da metade, 54% dos entrevistados, responderam que são os bares, 19% as academias, comércio e igrejas foram citados por 11% das pessoas. Sobre o grau de importância da fé para o brasileiro, 41% afirmaram ser muito importante, 31% que é importante, ou seja, ao todo 72% dos entrevistados admitem ter ligação com a fé.

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