Índia: Meninas dedicadas à deusa hindu são forçadas a viver na prostituição

Chamadas de "devadasi", elas são consagradas pelos próprios pais como uma fonte de renda para a família.

Fonte: Guiame, com informações de VOA NewsAtualizado: terça-feira, 31 de janeiro de 2023 às 15:50
 Menores de idade são consagradas pelos próprios pais como uma fonte de renda. (Foto: Imagem ilustrativa/Unsplash/Agnieszka Kowalczyk).
Menores de idade são consagradas pelos próprios pais como uma fonte de renda. (Foto: Imagem ilustrativa/Unsplash/Agnieszka Kowalczyk).

No Sul da Índia, meninas menores de idade são dedicadas à deusa hindu pelos próprios pais e forçadas a viver na prostituição. Elas são chamadas de "devadasi".

A tradição de “casar” meninas com uma divindade hindu e consagrar-las à servidão sexual surgiu há séculos no país, mas mesmo proibida, a prática ilegal ainda acontece com frequência em certas regiões.

Com menos de 10 anos de idade, Huvakka Bhimappa foi consagrada como uma "devadasi" pelos pais.

No ritual, Bhimappa teve a sua virgindade sacrificada a um homem mais velho, em troca de jóias e um sári, traje tradicional das mulheres indianas. "No meu caso, era o irmão da minha mãe", revelou ela, hoje com quase 40 anos, à AFP.

As devadasis são proibidas de se casarem e passam a fazer programas com homens em troca de dinheiro para suas famílias, em nome de servir à deusa.

Depois de anos de exploração, Bhimappa conseguiu escapar. Sem nunca ter ido à escola, hoje ela trabalha em plantações, recebendo cerca de dólar por dia. 

Por ter sido uma devadasi, ela é tratada como uma pária em sua comunidade. Certa vez, ela se apaixonou por um homem, mas se casar é impensável para mulheres como ela.

"Se eu não fosse uma devadasi, teria uma família, filhos e algum dinheiro. Teria vivido bem", declarou ela.

Exploradas pela própria família

De acordo com o historiador Gayathri Iyer, desde o século 19, a tradição se tornou uma fonte de renda para famílias pobres na Índia. Assim, os pais também evitam os custos de casar as filhas, devido ao pagamento de dotes pelas meninas.

Jodatti, hoje com 49 anos, também foi vítima da exploração sexual. Aos 8 anos, ela foi retirada da escola para ser consagrada a deusa hindu e pagar pelo tratamento do pai doente.

"Quando outras pessoas se casam, há uma noiva e um noivo. Quando percebi que estava sozinha, comecei a chorar", lembrou ela, em entrevista à AFP. “Aos 17 anos, eu tinha dois filhos".

No estado de Karnataka, a prática hindu foi proibida em 1982 e o tribunal superior da Índia classificou a consagração de meninas aos templos como um "mal".

Entretanto, ativistas denunciam que menores continuam sendo dedicadas como escravas sexuais, secretamente. 

Hoje, ainda existem mais de 70 mil devadasis em Karnataka, conforme a comissão de direitos humanos da Índia.

“Muitas mulheres morreram”

Muitas devadasis acabam contraindo doenças sexualmente transmissíveis, incluindo HIV. 

“Conheço mulheres que estão infectadas e agora passaram para os filhos. "Elas vivem com ele [ o HIV] em segredo. Muitas mulheres morreram”, revelou uma ativista, que trabalha com as vítimas, à AFP.

Em alguns casos, os pais são processados por consagrarem as filhas à escravidão sexual e as mulheres que abandonam os templos recebem uma pensão do governo de apenas 18 dólares por mês.

Muitas vítimas que escapam vivem na miséria, lutando para sobreviver em serviço braçal e em trabalho no campo.

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