Mais de 120 mil cristãos armênios estão presos em bloqueio feito pelo Azerbaijão

Desde 12 de dezembro, o Azerbaijão bloqueou o Corredor de Lachin para a região de Nagorno-Karabakh.

Fonte: Guiame, com informações do Azatutyun e Christian Solidarity InternationalAtualizado: sexta-feira, 20 de janeiro de 2023 às 17:26
Crianças armênias estão sem os pais, por causa dos bloqueios. (Captura de tela/YouTube/Radio Free Europe/Radio Liberty)
Crianças armênias estão sem os pais, por causa dos bloqueios. (Captura de tela/YouTube/Radio Free Europe/Radio Liberty)

A situação na região de Nagorno-Karabakh, na Armênia, começa a ficar dramática e já está provocando uma grande crise humanitária.

Segundo a Christian Solidarity International (CSI), cerca de 120 mil cristãos armênios estão presos atrás do bloqueio feito pelo Azerbaijão, impedindo a chegada de alimentos, medicamentos e agora, gás e energia elétrica.

Nagorno-Karabakh é um enclave no território do Azerbaijão que tem uma população de 95% de etnia armênia.

O aumento das hostilidades entre a Armênia e o Azerbaijão, no final da década de 1980, surgiu quando o Parlamento regional de Nagorno-Karabakh votou para se tornar parte da Armênia.

A situação evoluiu para um conflito em grande escala em 1992, após o colapso da União Soviética, e as forças armênias assumiram o controle da maior parte da região autônoma, além de um corredor do território do Azerbaijão conectando Nagorno-Karabakh à Armênia pelo Corredor de Lachin.

Bloqueios e cortes de gás

Desde dezembro, o Azerbaijão bloqueou o corredor, deixando centenas de pessoas sem conseguir transitar, além de impedir o fornecimento de uma série de serviços e produtos, como gás, essencial para o aquecimento, e que foi cortado na terça-feira (17).

A situação provocou o fechamento de todas as escolas, porque não podem ser aquecidas, informou a Christian Solidarity International.

“A partir de hoje, 30.000 crianças não terão acesso à educação, pois as escolas em Artsakh terão que fechar devido à falta de aquecimento causada pelo corte do fornecimento de gás no Azerbaijão”, disse Gev Iskajyan.

A transmissão de energia elétrica em Nagorno-Karabakh também foi desativada por uma semana e meia.

“Os apagões contínuos deixam as pessoas sem luz ou calor no inverno rigoroso por horas todos os dias”, segundo a organização cristã.

Crianças longe dos pais

Os bloqueios causaram outro drama pior ainda, ao separar centenas de crianças de seus pais.

Segundo Naira Matini, 30 mil crianças estão à beira da fome e 270 estão presas na Armênia sem os pais há mais de um mês, devido o bloqueio pelo Azerbaijão.

“Imagine que você manda seu filho para @EurovisionJr e ele não pode voltar para casa porque o Azerbaijão bloqueou o #RoadofLife”, escreveu Nara no Twitter. “270 crianças armênias ficaram sem cuidado parental desde 12 de dezembro”, disse ela.

Segundo Nara, apenas 19 conseguiram retornar, em 18 de janeiro. Ela explica que o fechamento do corredor de Lachin, caminho mais curto entre a Armênia e Alto Carabaque, “é uma violação grosseira do Artigo 6 do acordo trilateral de 10 de novembro de 2020 pela Rússia, Armênia e Azerbaijão”.

Segundo o site Azatutyun, como resultado do bloqueio de Artsakh, seis crianças menores dos Margaryans ficaram sem cuidado dos pais.

“A família, que perdeu seu único filho na guerra de 44 dias, teve que se mudar para o vilarejo de Mayisyan, na região de Shirak, após a rendição da região de Lachin”.

“A mãe, Naira Margaryan, partiu para Artsakh no dia 11 de dezembro para receber o certificado de compra do apartamento e não pode voltar para os filhos há um mês”, informa o Azatutyun.

“É uma situação terrível para mim, a criança está doente, estou aqui, a situação é terrível”, diz Naira.

Sem remédios

A falta de medicamentos essenciais como insulina, além de remédios para epilepsia, pressão arterial e analgésicos já começa a preocupar.

“Muitas pessoas doentes, incluindo crianças, não conseguem os cuidados especializados de que precisam”.

“Peguei um táxi hoje em Artsakh e o motorista perguntou ‘quando você acha que o bloqueio vai acabar’ - eu disse a ele que não tenho certeza. Ele então olhou para baixo e disse: ‘Eu tenho diabetes, eles não têm muita insulina nas farmácias - sinto que estou desmaiando’”, relatou Gev Iskajyan.

Alimentos racionados

Os alimentos começam a faltar na região, provocando desabastecimento em supermercados.

“Frutas e legumes frescos são impossíveis de encontrar. Os suprimentos de todos os tipos de alimentos estão acabando”, mostra em vídeo o jornalista Marut Vanyan.

Segundo ele, as autoridades locais estão racionando alimentos e usando cupons. Uma imagem mostra pessoas em uma fila em Nagorno-Karabakh usando os cupons como uma nova "moeda". “Eles são fornecidos primeiro para famílias com muitos filhos”, explica o jornalista.

Com os papéis, as pessoas conseguem levar 0,5 kg de trigo e arroz da loja (se houver).

Segundo a Christian Solidarity International, “a intenção do Azerbaijão é clara: destruir a antiga população cristã de Nagorno-Karabakh, impossibilitando-os de viver em sua terra natal. Este é um planejado genocídio. E o mundo deve agir”.

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