Prefeitura preserva tradição do candomblé e deixa baianas do acarajé evangélicas apreensivas

A Prefeitura de Salvador determinou que todas as baianas do acarajé deverão usar roupas típicas. O problema é que elementos do candomblé podem ser identificados na vestimenta tradicional, trazendo preocupação para as evangélicas.

Fonte: Guiame, com informações de Folha de São PauloAtualizado: segunda-feira, 7 de dezembro de 2015 às 15:03
Todas as baianas do acarajé terão de usar roupas típicas: bata branca, saia e torso na cabeça. (Foto: Raul Spinassé/ Folhapress)
Todas as baianas do acarajé terão de usar roupas típicas: bata branca, saia e torso na cabeça. (Foto: Raul Spinassé/ Folhapress)

A Prefeitura de Salvador regulamentou a atividade de "baiana do acarajé" nesta quarta-feira (2) e determinou que todas terão de usar roupas típicas: bata branca, saia e torso na cabeça.

O problema é que a decisão trouxe um grande impasse para as baianas evangélicas que exercem a profissão, já que elementos do candomblé podem ser identificados nesta vestimenta típica. 

"Sou uma serva de Jesus e é a Ele que peço um bom dia de trabalho", diz a baiana de acarajé Raimunda Borges Silva, de 65 anos. Há dois anos ela se converteu em uma igreja evangélica, e desde então, trabalha de camisa, short e lenço.

A prefeitura alega que é necessário preservar a tradição das baianas do acarajé, um símbolo da Bahia, e que o uso das roupas tradicionais não tem relação com a religiosidade. Desde 2005, o ofício é reconhecido como patrimônio imaterial pelo Iphan (instituto do patrimônio histórico).


Evangélicas, algumas baianas do acarajé trabalham de camisa, short e lenço. (Foto: Raul Spinassé/ Folhapress)

Por outro lado, entre as baianas evangélicas, há até as que rebatizaram o acarajé como "bolinho de Jesus", evitando associação com a cultura afro-brasileira.

A obrigatoriedade do uso de roupas típicas já faz algumas planejarem uma mudança de profissão. "Uma colega minha já desistiu do acarajé e vai vender outros lanches. Eu ainda não sei o que fazer", diz a evangélica Raimunda, que trabalha no ramo há 40 anos.

De início, a fiscalização será apenas educativa, mas as baianas que não se adequarem às vestimentas tradicionais poderão ser multadas ou até perder a licença.

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