Zagueiro cristão vive dilema por trabalhar no sábado: "Em certo momento vou conciliar"

Fonte: Guiame, com informações de UOLAtualizado: segunda-feira, 9 de novembro de 2015 às 16:25
Vinícius Matos, atual zagueiro do Vitória, mudou seu estilo de vida depois de se converter. (Foto: Reprodução/ UOL)
Vinícius Matos, atual zagueiro do Vitória, mudou seu estilo de vida depois de se converter. (Foto: Reprodução/ UOL)

O pôr do sol na sexta-feira indica o momento de Vinicius Matos parar o trabalho, a correria, a televisão, o telefone e tudo aquilo que o conecta ao mundo. Até o entardecer do sábado, é hora de descansar e orar para estar mais perto de Deus, como indica um dos dez mandamentos.

O grande dilema é que Vinícius, zagueiro do Vitória, que disputa a Série B do Campeonato Brasileiro, costuma jogar aos sábados ou nas noites de sexta-feira. Ele quer desfrutar o descanso do sétimo dia e tenta fazer o possível para isso, mas assume que comete a falha de trabalhar no sábado. 

"O quarto mandamento é guardar o sábado. A base que eu tenho agora é a da religião, para eu ficar bem espiritualmente preciso disso. É o momento só de refletir, de orar a Deus. Por enquanto está difícil conciliar isso, eu não consigo. Eu fico chateado, pecado é pecado de qualquer jeito, sei que estou pecando por não estar guardando o sábado. Mas o pai da minha namorada é pastor, eu converso com ele e ele diz para ter paciência, não ficar apavorado", conta o jogador.

A dor de ferir as próprias crenças o fez imaginar como seria a vida longe da profissão que ama. "No meio do processo, quando eu estava entendendo como funciona, eu pensei como ia fazer, cheguei a pensar em como seria a minha vida fora do futebol. Mas não adianta eu querer largar o futebol e seguir só Deus. Eu não tenho faculdade, não estou cursando nada, iria demorar para conseguir trabalho. Mas em certo momento vou conciliar".

Tentativa

No meio do ano, Vinícius havia enxergado uma oportunidade para resolver a situação depois de passar um mês no Sevilla, da Espanha, em período de observação e de quase ser negociado. No primeiro contato com o presidente do clube ibérico, ele fez a pergunta chave. "Posso ser liberado nos sábados?". A resposta positiva o animou. Só que no fim, a janela de transferências fechou e o negócio acabou não dando certo — mas ainda existe uma chance na próxima abertura.

"A primeira coisa que eu perguntei para o presidente quando cheguei lá é se teria como guardar o sábado. E ele foi tranquilo, disse que aceitaria de boa. Lá é tudo muito respeitoso quanto à religião. E a maioria dos jogos é aos domingos. Eu poderia perder o treino do sábado que é só um recreativo, algo mais simples preparatório para o jogo".

Conversão

Vinícius passou a frequentar a Igreja Adventista há um ano por meio da namorada, Karina. Antes disso, sua conexão com Deus se resumia à formação católica e às leituras solitárias da Bíblia em seu quarto. Nos primeiros convites, ele até resistiu, mas aos poucos foi cedendo e passou a frequentar os cultos com ela.

O jogador conta que de lá para cá muita coisa mudou, principalmente o amadurecimento. Ele admite que, em um certo momento, se deslumbrou com o futebol. As baladas viraram rotina na mesma medida que os atrasos nos treinos aumentaram. O puxão de orelhas do técnico foi o primeiro alerta, mas a real mudança veio com a fé.

"Eu saía muito para festas, bebia e saia muito. Antigamente tinha horas que eu não queria saber de nada, qualquer hora era para sair, fazer folia, era só chamar que eu ia, e eu chegava virado no treino. Isso atrapalhou um pouco, o rendimento estava caindo. Meu treinador conversou comigo e disse que eu tinha que dar uma parada. Ele perguntou: 'Você quer ser jogador boleiro ou jogador profissional? Tem que saber o momento certo de curtir'. Com o tempo fui parando, hoje não sinto falta de sair".


Depois da conversão, Vinicius (ao centro) foi convocado para a seleção brasileira de base. (Foto: Reprodução/ Facebook)

Frutos

O reflexo de sua mudança se deu em campo e as coisas boas começaram a acontecer. Vinicius foi convocado para a seleção brasileira de base e ganhou destaque no Vitória. Seu comportamento durante os jogos também mudou — ele aboliu os palavrões e hoje influencia a postura dos colegas.

"Comecei a entender melhor as coisas, tudo na vida tem sentido. Comecei a me aprofundar nos estudos bíblicos e ver qual atitude eu tinha que ter em algumas situações como os palavrões. Dentro do jogo é difícil não xingar, ainda mais na posição de zagueiro que reclama muito com o time. Às vezes escapa, é difícil, mas estou trabalhando para parar com esse hábito", conta.

"Já sei que você não pode ir pela emoção, tem que pensar um pouco antes de falar. Meus colegas repararam que eu parei de xingar, começaram a me elogiar e já tentam adotar isso na vida deles. Eu mudei meus hábitos, não saio mais, isso me ajudou dentro de campo, fui convocado para a seleção. Várias coisas aconteceram, e nada acontece sem a permissão de Deus. Tenho que fazer minha parte, Deus ajuda quem se ajuda", conclui.

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