Pastor é diagnosticado com autismo aos 36 anos: "Deus tem um propósito"

Lamar Hardwick conta que passou sua vida inteira lutando contra as limitações do autismo, mas hoje afirma que esta desordem o fez olhar para o seu ministério de uma forma diferente.

Fonte: Guiame, com informações do Christianity TodayAtualizado: sexta-feira, 12 de maio de 2017 às 18:25
Pastor Lamar Hardwick, esposa e filhos. (Foto: New Community Church)
Pastor Lamar Hardwick, esposa e filhos. (Foto: New Community Church)

"Eu cresci na igreja, então eu sabia o suficiente daquela cultura para fingir 'ser normal' ali". Esta afirmação é parte do testemunho surpreendente do pastor Lamar Hardwick, que hoje lidera a igreja 'New Community', no estado da Geórgia (EUA).

Lamar conta que passou a sua vida lutando contra as limitações resultantes do 'espectro do autismo' (ou simplesmente autismo, como a desordem é popularmente conhecida), sem nem mesmo saber que o havia desenvolvido.

Diagnosticado tardiamente, aos 36 anos, hoje ele conta que o diagnóstico não mudou sua identidade, mas pelo contrário, veio para ajudá-lo a entender quem ele é de verdade incentivá-lo a redirecionar esta desordem para o benefício de seu ministério.

"Naquela Segunda-feira, 22 de dezembro de 2014, entrei no escritório da minha terapeuta. Eu sentei em seu sofá com minha esposa ao meu lado. Respirei fundo e suspirei lentamente, esperando respostas para a pergunta que demorei 36 anos para receber", contou o pastor ao descrever o dia em que recebeu o diagnóstico tardio.

"Ela segurou a prancheta, olhou as avaliações que tínhamos completado nas semanas anteriores, olhou-me nos olhos e pronunciou três palavras que mudaram minha vida: 'transtorno do espectro autista'. Embora o diagnóstico não mudasse quem eu era, ele me fez mudar a minha compreensão sobre quem eu tinha sido. De muitas maneiras, eu passei os após este diagnóstico 'aprendendo tudo de novo", explicou.

Lamar conta que já em sua infância as diferenças entre ele e seus colegas se tornou bem evidente, pois da mesma forma que ele tinha dificuldade de entendê-los, as outras crianças também não sabiam como lidar com ele.

"Aos sete anos de idade, eu estava consciente sobre as diferenças entre mim e as outras crianças de minha idade. Eu tinha dificuldade de entender outras pessoas, e eles tinham o mesmo grau de dificuldade para me entender. Parecia que o mundo inteiro estava compartilhando uma 'piada interna' que eu não entendia", contou.

Hardwick conta que - como muitas outras crianças autistas - sofreu bastante com o preconceito dos colegas e até mesmo de professores e pais de alunos.

"Entre desafios sociais e educacionais, eu era muitas vezes caracterizado como fraco, estranho, ou simplesmente errado. Fui intimidado pelos meus colegas, pelos professores e, ocasionalmente, por outros pais, porque eu parecia estranho, estóico e às vezes rude ou arrogante", acrescentou.

Chegando à adolescência, toda aquela rejeição e falta de preparo das pessoas ao seu redor para apoiá-lo, acabaram servindo como estímulo para que ele buscasse nas drogas e no álcool, um "alívio" para tanta dor.

"Eu fiquei com medo das pessoas, e quando cheguei aos 14 anos de idade, me afundei nas drogas e no álcool para tentar lidar com essa rejeição", disse.

Porém um grave acidente de carro que quase o matou, acabou soando para Lamar como um tipo de "alarme" e ele decidiu se reconciliar com Cristo.

"No meu primeiro ano de faculdade, decidi abandonar a vida de vícios. Um acidente de carro quase fatal me fez reavaliar meu estilo de vida e reafirmar minha vida a Cristo. Como resultado, eu passei a ser cada vez mais bem sucedido na escola, mas eu silenciosamente continuei fingindo ser alguém que eu não era de verdade, algupem que criei para tentar ser", contou.

"Adultos que crescem com desordens - como o autismo - não diagnosticadas aprendem a se socializar como uma questão de sobrevivência. Quando eu me tornei adulto, fiz isto com sucesso. Eu aprendi a 'imitar' os comportamentos, atitudes e opiniões dos outros para que eu pudesse ter uma chance de ser 'normal", explicou.


O Chamado
Quando já estava cursando a Faculdade, Lamar sentiu-se chamado por Deus, mas relutou em atender, pois apesar de fingir muito bem, ainda se considerava "socialmente estranho".

"Então, um dia, pouco mais de um ano após a universidade, Deus me chamou para o ministério. Fiquei assustado, mas também intrigado. O que Deus poderia fazer comigo e através de mim? Eu ainda era 'socialmente estranho'; Por que Deus usaria alguém como eu? Para ser honesto, eu ignorei a vontade de Deus por quase um ano, achando que 'certamente ele tinha chamado o Lamar errado", relatou.

Lamar explica que sabia que o pastoreio é um chamado que exige um bom relacionamento com Deus, mas também com as pessoas - e este segundo fator ele sabia que não estava entre suas habilidades.

"Passei os nove anos seguintes tentando encontrar meu lugar na igreja. Eu cresci na igreja, então eu sabia o suficiente daquela cultura para fingir 'ser normal' ali. Mas ser pastor exigia habilidades relacionais que eu não tinha", contou.

Posteriormente, Lamar acabou sendo nomeado pastor da juventude de sua igreja, a 'New Community' e afirmou que aceitou o cargo, porque de alguma forma "se sentia à vontade entre os jovens e adolescentes".

"Pastorear a juventude era um trabalho perfeito para mim. A maioria dos adolescentes eram socialmente tão estranhos como eu! Depois de dois anos, a igreja começou a se reunir nas casas. Eu me senti seguro naquele formato e pude começar a ser eu mesmo pela primeira vez em muito tempo", explicou.

Lamar é pastor principal da igreja 'New Community', no estado da Geórgia. (Foto: Autism Speaks)


A busca pela verdade
Lamar conta que muitos estranham o fato de seu diagnóstico sobre o autismo ter demorado tanto, mas explicou muitas vezes era difícil encarar a verdade, em meio a tanto preconceito. Somente quando o ministério exigiu que ele encarasse o autismo com transparência, ele acabou buscando saber mais sobre a desordem.

"Em 2012, meu antecessor renunciou, e eu tive que ajudar a congregação, assumindo mais responsabilidades. Isso me obrigou a passar mais tempo, também com adultos e idosos", contou. "Durante a transição, ouvi observações de várias pessoas da minha igreja sobre suas interações sociais comigo. Minhas expressões faciais eram estranhas. Eu parecia irritado e cansado o tempo todo. Eu passava por entre as pessoas sem parar para falar com elas".

"Eu fiquei na defensiva e com raiva, até me dar conta de que eles estavam dizendo coisas que eu tinha ouvido toda a minha vida", acrescentou.

Lamar contou que quando decidiu agir com proatividade diante daquela situação, tudo começou a mudar.

"Eu decidi que tantas pessoas dizendo as mesmas coisas provavelmente não estavam erradas, então eu comecei a investigar aquilo. Eu sabia que estava faltando algo importante - eu nunca passaria intencionalmente por alguém sem falar - mas até esse ponto, eu não sabia que havia uma coisa como 'fatores sociais", explicou.

"Depois de cerca de um ano de investigações por conta própria, lendo e assistindo vídeos, eu estava confiante de que eu seria diagnosticado com espectro autista, então eu tomei a coragem de pedir à minha esposa para me ajudar a encontrar alguém para me avaliar", afirmou.


Após o Diagnóstico
O autismo pode parecer uma grande limitação para muitos, mas para Lamar, este diagnóstico foi uma oportunidade para a manifestação da graça de Deus.

"Quando eu recebi o diagnóstico, sabia que esta era uma oportunidade para explorar minha fé de uma maneira inteiramente nova. [...] As palavras de Paulo em 2 Coríntios 12:9 tomaram vida nova para mim: 'Por isso me gloriarei cada vez mais de minhas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse sobre mim", afirmou.

"Se Deus já sabia que eu era autista antes de me nomear para pastorear Sua igreja, então talvez Ele tivesse um propósito para minha nova descoberta", acrescentou.

No dia 8 de março de 2015, Lamar - já nomeado pastor principal de sua igreja - compartilhou com a congregação que havia sido diagnosticado com autismo e a reação da comunidade o surpreendeu positivamente.

"Em uma das mais belas demonstrações de amor, aceitação e comunidade que eu já experimentei, a congregação aplaudiu, se alegrou e até derramou lágrimas. Eu simplesmente me senti aliviado. Eu sabia que tinha feito a coisa certa, e acho que pela primeira vez na minha vida, eu sabia que eu estava no lugar certo", afirmou.

"Agora que o meu autismo está aberto, posso ajustar adequadamente o meu papel pastoral. Eu ainda luto com problemas de processamento sensorial e ansiedade social, por isso me concentro nas coisas que eu faço bem e peço ajuda com as tarefas que eu não faço tão bem. É preciso que eu colabore com a minha família, a congregação, o pessoal e os anciãos da igreja mais de perto para que a missão de Cristo possa ser realizada. Nessa colaboração, vejo a beleza do corpo de Cristo, todos trabalhando juntos", finalizou.

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