Harry Potter, um bruxo do bem?

Harry Potter, um bruxo do bem?

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:34

Não sei se quando Jesus contou a parábola do Bom Samaritano em sua época foi tão chocante quanto seria comparar Harry Potter hoje a uma parábola bíblica. Só o fato dele ser um bruxo já é o suficiente para levantar as barreiras de qualquer cristão sensato, mas o fato é que, depois de assistir ao sétimo e último filme da série, eu observei que a mensagem do filme foi mais cristã que muitas pregações nos púlpitos de nossas igrejas.

Graças a Deus, creio que a maioria das pregações ainda é boa e, numa dessas, eu já ouvi essa comparação da parábola do Bom Samaritano com espíritas, bruxos ou qualquer outro que faça o bem que o cristão deveria fazer e não faz. O pregador explicou que a imagem do samaritano naquela época era tão chocante quanto a de outras religiões que fogem dos padrões bíblicos hoje. E ouvir de Jesus que aquele tipo de pessoa era o nosso próximo ao invés dos irmãos de fé era uma grande e intrigante novidade.

Engraçado que os evangélicos se choquem tanto com o ocultismo e outras coisas, sem perceber que o mundanismo entra em nossas igrejas de forma definitiva através de outras doutrinas amplamente aceitas, como a ambição disfarçada de prosperidade. Deus torna-se quase um amuleto que os fará conseguir o que quer. “Se eu fizer esta campanha, conseguirei a minha bênção”. E quando não conseguem, é um drama só, além de uma lição sobre a soberania de Deus.

Durante essas pregações, há sempre a possibilidade de que as vitórias sejam espirituais, mas a verdade é que quase todos estão pensando no trabalho novo, na casa própria, ou na troca de carro. Pelo menos, geralmente, são esses os testemunhos depois de tais campanhas. Mas o fato é que, enquanto eu ouço pastores pregarem sobre “conquista”, Harry Potter pregou sobre humildade e outros valores bíblicos muitas vezes escassos em nossos altares. Será que este é um sinal de que “as pedras estão clamando”?

Nos filmes do Potter, eu sempre consegui enxergar metáforas muito positivas sobre morrer para si mesmo, ao negar nossa tendência ao mal por natureza. Neste último filme, esta questão chega a ser literal, e Harry enfrenta a morte voluntariamente para conseguir derrotar o inimigo. Além disso, outros bons valores são mostrados, como amizade, perdão, redenção, unidade e já citada humildade, quando o personagem lança fora um objeto que lhe tornaria o homem mais poderoso do mundo.

É claro que o filme está longe de ser teologicamente impecável. Há mortos vagando pelo castelo que conversam com as crianças, natais comemorados sem nenhuma menção a Jesus, etc. A autora J. K. Rowling realmente não é cristã, mas se defende das acusações de ser ocultista. Vi uma entrevista onde ela disse que fica muito irritada com quem cria esse tipo de comentário, e que a mágica usada nos livros partiram do conhecimento literário básico de magia e dali ela desenvolveu o universo de uma escola de magia.

Mas de fato, já houve escritores evangélicos que introduziram bruxos do bem e outras criaturas místicas em seus universos, como J. R. R. Tolkien em Senhor dos Anéis, e C. S. Lewis em Crônicas de Nárnia. Minha esposa recentemente me contou que foi assistir ao Senhor dos Anéis com a turma da igreja quando o filme estreou nos cinemas, e que todos ficaram orando muito durante o filme com medo da má influência, sem saber que o próprio autor era crente. Mesmo que soubessem, acho que eles fizeram certo. Nós temos mesmo que ser muito cautelosos com tudo que ouvimos, seja num filme, seja numa Igreja. Crente ou não, o que interessa é a mensagem, por isso 1 Tess 5:21 diz “Examinai tudo. Retende o bem”.

Foi com isso em mente que, desde o início, acompanhei os filmes do Harry Potter. Sem dúvida, é preciso peneirar o que é bom. Eu também tenho o hábito de ver além do que o filme está mostrando e, por exemplo, numa cena onde a escola se protege do ataque dos inimigos, eu conseguia enxergar o poder da intercessão e da batalha espiritual, quando oramos. Talvez por essas coisas, o filme tenha tido um valor até maior para mim.

Para mim, a verdadeira magia foi ver o poder envolvente que o cinema ainda tem. Fazia tempo que não via um filme tão bem feito, e que me lembrasse por que eu quis me tornar um cineasta. Aliás, eu acho que se Jesus viesse ao mundo em nossa geração, ele poderia ser um cineasta, já que ele era um ótimo contador de histórias. Talvez ele realmente não faria um filme sobre um bruxo, mas eu tenho a forte impressão de que ele usou este para falar ao meu coração.

Por: Andre Wacemberg

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