Governador de SP admite pela primeira vez que a capital passa por racionamento de água

Alckmin diz que racionamento existe desde determinação da ANA. Governador descartou decreto para oficializar procedimento.

Fonte: globo.comAtualizado: quinta-feira, 15 de janeiro de 2015 às 10:07
Geraldo Alckmin em entrevista
Geraldo Alckmin em entrevista

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), admitiu nesta quarta-feira (14) que o estado passa por racionamento de água. É a primeira vez que o procedimento é oficialmente admitido por Alckmin desde o início da crise hídrica em 2014. Ele disse que já há restrição na oferta de água desde que agência federal determinou a redução na retirada do Sistema Cantareira.

A declaração ocorre um dia após a Justiça negar a cobrança de multa na conta de clientes que aumentarem o consumo. Na sentença liminar, a juíza Simone Viegas de Moraes Leme, da 8ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, argumentou que a lei exige a adoção de racionamento oficial antes de aplicar tarifa de contingência.

Além disso, a juíza também cobrou que a Sabesp informe quais são os bairros atingidos por "manobras ou redução de pressão".

Assim como o governador, a Sabesp também admitiu, pela primeira vez, que toda a Região Metropolitana está com redução de pressão no abastecimento e divulgou um mapa das áreas afetadas (veja resumo abaixo ou ampliado com lista de bairros no arquivo PDF).

Escassez no Sistema Cantareira
O principal conjunto de reservatórios da Grande São Paulo é o Sistema Cantareira, que abastece 6,5 milhões de pessoas e tem capacidade total de 1,46 trilhão de litros.

O nível nesta quarta era de 6,3% e conta com água do segundo volume morto, que tem reserva de 105 bilhões. Tanto o volume útil (973 bilhões de litros) quanto o primeiro volume morto (182,5 bilhões de litros) já foram esgotados.

O Cantareira teve 59,6 mm de chuva desde o dia 1º de janeiro, o que representa 22% da média histórica para o mês, que é de 271,1 mm. Em dezembro, quando começou o verão, o índice de chuva também ficou abaixo da média. Dos 220,9 mm esperados, choveu 165,5 mm, ou seja, 74,9% da média para o mês.

Racionamento
Alckmin participou nesta quarta da posse do novo comandante da Polícia Militar e foi questionado sobre a sentença judicial que cita que o governo não decretou oficialmente racionamento.

"O racionamento já existe. Quando a ANA [Agência Nacional de Água] determina que você que tem que reduzir de 33 para 17 [ metros cúbicos por segundo] no Cantareira é óbvio que você já está em restrição. Está mais do que explicitado", disse Alckmin.

Questionado se o governo do estado vai declarar racionamento conforme a decisão judicial, Alckmin disse não ser necessário. “Não tem que ter decreto, isso está mais do que explicitado", completou. Alckmin diz que vai recorrer da decisão judicial.

Vai-e-vem da multa
Na quarta-feira (7), a Sabesp havia sido autorizada pela Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp) a aplicar multa de 40% a 100% para quem consumir mais água neste ano no comparativo entre fevereiro de 2013 e janeiro de 2014.

A multa chegou a ser anunciada pelo governo em abril, ainda antes do início da campanha para reeleição de Alckmin. Entretanto, em julho, Alckmin disse que não via mais "necessidade" da taxa extra.  O governador voltou a anunciar multa em dezembro.

Cantareira pode secar até março
A redução na retirada de água das represas do Cantareira começou a ser adotada em 2014. No dia 13 de março do ano passado, a vazão captada passou de 33 metros cúbicos por segundo para 27,9 metros cúbicos por segundo, por determinação da ANA. Ao SPTV, o presidente da Sabesp, Jerson Kelman, disse que a retirada atual será de 13 metros cúbicos por segundo e que a Cantareira pode secar até março.

Tanto governo do estado quanto Sabesp defendem que a redução da pressão é mais eficiente que o rodízio de água. Nesta manhã, a companhia divulgou que todos seus clientes em bairros da capital paulista e nas cidades da Grande São Paulo  recebem água com pressão durante algum período do dia.

A companhia afirma que a redução ocorre “preponderantemente durante a noite/madrugada, período em que grande maioria da população dorme e as atividades econômicas praticamente inexistem”. Se o imóvel tiver caixa-de-água a redução da pressão na rede não é percebida, diz a companhia.

Chuva nos sistemas
A chuva fraca que caiu na terça-feira (13) sobre a maioria das represas que abastecem a Grande São Paulo não foi suficiente para frear a queda no volume dos mananciais nesta quarta.

Cinco dos seis sistemas responsáveis pela Região Metropolitana tiveram queda, segundo a Sabesp. Apenas o Guarapiranga, na Zona Sul da capital, apresentou eleveção no nível, indo para 40%.

No Cantareira, que abastece 6,5 milhões de pessoas na Grande São Paulo, o nível caiu de 6,4% para 6,3%. É a terceira queda seguida no sistema, que não sobe desde o dia 26 de dezembro. E as chuvas acumuladas no mês, 59,6 milímetros, ainda representam 21,9% do previsto para janeiro.

Chove, mas por que não sobe?
Apesar dos temporais registrados na capital e Grande São Paulo desde o fim do ano passado, o nível das represas não subiu porque as chuvas isoladas não são suficientes para aumentar o volume dos reservatórios. A chuva que poderia ajudar na recuperação é formada por sistemas frontais (frentes frias) ou por corredores de umidade que saem da Amazônia com sentido à região Sudeste.

Mas, segundo os meteorogistas do Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), vinculado à Prefeitura de São Paulo, e do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), um bloqueio atmosférico impede que esses sistemas cheguem até o estado de São Paulo e não permitem chuvas mais generalizadas e com tempo maior de duração.

“Estamos tendo dias muito quentes e em uma cidade extremamente impermeabilizada como São Paulo, com o calor e a brisa marítima, ocorrem os temporais. Mas além de localizada, essa chuva é mal distribuída e só atinge os centros urbanos, não a região da maioria dos reservatórios. E, mesmo assim, a chuva isolada em um reservatório que faz parte de um sistema não agrega muita coisa. O ideal seria chover em todo o sistema”, afirmou o meteorologista do CGE Adilson Nazário.

Isso explica por que apenas o Sistema Guarapiranga subiu de terça para esta quarta-feira (14). O reservatório fica na área urbana, na Zona Sul de São Paulo, e foi beneficiado com 131 mm de chuva desde o início de janeiro. Por isso opera com 40% da capacidade de armazenamento e já atingiu mais da metade da média histórica de chuva prevista para o mês, de 229,3 mm.

 

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