Sméagol, pornografia e a volta para casa

Assim como é o efeito do anel descrito por Tolkien, é o efeito da pornografia no século 21

Fonte: Ultimato jovemAtualizado: quinta-feira, 31 de julho de 2014 às 17:29
Smeagol
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SmeagolO livro “O Senhor dos Anéis”, de J. R. R. Tolkien, descreve um antigo hobbit, Sméagol, que se transformou em Gollum, uma criatura horrível. Ele possuía um tesouro antigo adquirido quando ainda habitava na luz: um anel belo e brilhante que o fazia invisível. Sméagol manteve o anel escondido em uma caverna porque era o presente que ele amava, seu “precioso”. Depois de tanto viver nas trevas, a solidão e a traição acharam espaço: seu coração escureceu-se, o anel corrompera o coração dele.

Assim como é o efeito do anel descrito por Tolkien, é o efeito da pornografia no século 21. Ela é a descoberta de um anel precioso que carrega sementes de destruição. A pornografia toca em um ponto central da nossa humanidade — o desejo por beleza –, mas cria a obsessão pelo anel do poder. Ela carrega a exigência legítima por beleza e intimidade, mas desvirtuada em fechamento e fantasia. Nesse drama epidêmico, muitos sofrem por não viverem na luz. A internet e a televisão fomentam o desejo pelo anel brilhante da sexualidade desconectada. As “ring girls” (garotas-anéis) se oferecem como presente e fazem antigos Sméagols desenvolverem corações de Gollum.

Porém, ao contrário deste personagem, tenho visto homens e mulheres lutando contra a pornografia e aprendendo que é possível viver na luz. Quando eu estudava teologia no Canadá, conheci grupos de ajuda e esperança para pessoas viciadas.1 O caminho proposto é árduo, mas recompensador. Assim como na jornada dos hobbits Sam e Frodo — que juntos eram chamados a entregar o anel — em um caminho de sacrifício e autodoação, o grupo propõe partilha, confissão e encorajamento. Como no caso de Frodo, ninguém aniquila o anel sozinho, mas precisa de outros hobbits.

Um desses peregrinos era um homem que percebeu que, se não parasse de ver pornografia, já que seremos aquilo que estamos nos tornando hoje, o caminho findaria em traição. Procurou ajuda e até pensou em desistir por continuar caindo. A esposa dele o tem perdoado e ele tem avançado, recusando-se a ceder em seus pensamentos, cuidando para retomar sempre.

Outro coperegrino cresceu na igreja, mas desde menino vivia uma vida dupla, cheia de lascívia. Adotou como lema de sua vida: “Ninguém vai saber disso” e escondeu o problema da esposa. Anos depois, foi descoberto. Na dor do recomeço, que incluía a confissão semanal em um grupo de ajuda, ele compreendeu a graça de Deus não como conceito, mas como o motor da vida. Ele estava redescobrindo o evangelho. Escolheu um estilo de vida saudável, prestando atenção em seus pontos fracos. Ao colocar limites, como tirar a TV e a internet de casa ou não ficar sozinho quando estava vulnerável, aprendeu a cuidar da sua fragilidade. Hoje coordena grupos que abençoam outras pessoas e tem dado uma resposta a partir da sua fraqueza. Ele tem nos lembrado que cristãos viciados em pornografia são como filhos pródigos amados pelo Senhor e, por isso, chamados de volta para casa, à transformação, em virtude da comunhão com Jesus.

Acredito que nosso problema não é só a pornografia, mas a sociedade que estamos criando. Temos uma geração que não aprendeu a permanecer no relacionamento. Na solidão, afirmam a busca por intimidade em uma fantasia. A luta contra a pornografia, assim como a jornada de entrega em “O Senhor dos Anéis”, é uma história de retorno para a realidade relacional. Ao renunciarmos o atraente anel dourado, abraçamos o caminho de volta ao condado, onde a beleza e a esperança fluem dos relacionamentos.

Nota
1. Existem hoje na América do Norte organizações que ajudam na restauração da integridade sexual, como a livingwaters.com. No Brasil, formamos um grupo em Belo Horizonte: [email protected]


- Davi Chang Ribeiro Lin

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