Hoje quero fazer uma reflexão a partir de algumas constatações que, tenho certeza, você irá concordar, porque também pode verificar o mesmo: vivemos em uma era – e faço questão de usar o termo “era”, pois ele carrega simbolismo e marca um período com início e fim – em que a imagem tem mais importância do que a essência.
Podemos perceber essa valorização das imagens desde o surgimento das fotografias, e intensificada com acesso à produção delas – ao ponto de hoje qualquer criança poder ser um fotógrafo, podendo registrar cenas do dia a dia com seus aparelhos celulares.
É claro que temos coisas boas nisso e até acabamos reparando mais no que está ao nosso redor. Mas tem o lado ruim, quando as imagens – e as fotos – nos enganam. E, ao nos enganar, elas têm o poder de distorcer nossos conceitos, influenciar nossos desejos, desviar nosso foco e nos atrair para ideias muitas vezes inalcançáveis. Seja na aparência, na vida financeira ou na carreira profissional, essa busca por padrões irreais pode gerar sentimentos negativos como inveja, frustração, decepção e até desesperança.
Precisamos abrir os olhos – e a mente – para entender que as fotos podem sim nos enganar.
Um dos principais meios que nos fazem valorizar imagens são as redes sociais. Elas estão repletas de rostos impecáveis, corpos “perfeitos” e sorrisos que sugerem uma vida plena e sem falhas. No entanto, por trás dessas fotos, muitas vezes existe uma realidade bem diferente.
Filtros digitais escondem imperfeições, mas também escondem verdades: fragilidades emocionais, vazios existenciais e, em alguns casos, comportamentos antiéticos que não cabem em uma selfie bem-produzida. Eis aí a realidade que não está exposta! Mas existe.
A superficialidade tornou-se moeda de troca. Pessoas buscam curtidas e reconhecimento a partir de exibições fúteis, muitas vezes descoladas da realidade. Há uma frivolidade evidente em compartilhar incessantemente conquistas, viagens ou aparências, como se o valor humano pudesse ser medido por imagens. Esse “teatro virtual” levanta uma questão importante: por que as pessoas precisam se esconder atrás de fotos enganosas? O que há em suas vidas reais que elas não suportam mostrar sem máscaras? Ou filtros.
As fotos são um mecanismo pelo qual muitos constroem personas para sobreviver e compartilham essa imagem fake em seus ambientes de trabalho, círculos religiosos ou até dentro da própria família.
Do ponto de vista psicológico, a mentira repetida como mecanismo de defesa pode se transformar em um traço sociopático, em que o indivíduo já não distingue verdade de ilusão.
Freud observou em O Mal-Estar na Civilização (1930) que os seres humanos “não podem suportar a realidade sem algum tipo de ilusão”, e por isso constroem artifícios mentais para aliviar a dor. Esses recursos psíquicos podem ajudar momentaneamente, mas quando se tornam permanentes, a vida se transforma em teatro, afastando o indivíduo da autenticidade e da saúde emocional.
É preciso, portanto, romper com esse ciclo de engano, autoengano e exposição vazia. O caminho não é negar as redes ou as fotos, mas aprender a usá-las com autenticidade. Mostrar-se humano, vulnerável e imperfeito pode ser libertador. Substituir a busca frenética por aprovação pela prática da verdade é um passo essencial para a saúde emocional e espiritual.
Recomendo cultivar relacionamentos verdadeiros, praticar a autoaceitação e, principalmente, buscar em Deus a identidade que não depende de filtros. Ele, como Pai, nos mostrará nossas virtudes e falhas e nos conduzirá a um processo de transformação genuína, onde não precisamos esconder quem somos, mas podemos aprender a crescer com sinceridade, graça e responsabilidade.
O Pai ama você!
Darci Lourenção (@pra_darci_lourencao) é psicóloga, pastora, coach, escritora e conferencista. Foi Deã e Professora de Aconselhamento Cristão. Autora dos livros “Na intimidade há cura”, “A equação do amor”, “Viva sem compulsão” e “Devocional Minha Família no Altar”.
* O conteúdo do texto acima é de colaboração voluntária, seu teor é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
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