Estava na calçada da igreja, de repente um jovem me abraça, chora e pede perdão. Surpreso, perguntei: ''Perdão? Do quê?'' A resposta me surpreendeu ainda mais: ''Faz tempo que venho ensaiando este momento, pois de forma errada falei mal da sua pessoa há 12 anos passados.'' Honestamente, de nada me lembrava. E quando lembrei, tratou-se de algo insignificante. Não foi nenhum tipo de ofensa e muito menos calúnia, aquele jovem não precisava me pedir perdão, pois nada havia acontecido que justificasse tal pedido. Foi o que disse à ele. Mas sua consciência precisava do perdão, e insistiu. Perdoei sem um milímetro de dificuldade. Tudo terminou bem, eu surpreso, ele em paz. Não cheguei a ficar remoendo doze anos, nem mesmo um ano! Mas algumas vezes já fui atrás de pessoas para pedir perdão e, graças a Deus, encontrei e recebi. A tragédia é quando não encontramos nem recebemos perdão.
Na maioria das vezes, o não encontrar e nem receber perdão são dilemas criados por nós mesmos. O sentimento de culpa nos consome pouco a pouco, e o tempo, com todos os seus acusadores, se encarrega de triturar o sossego da nossa consciência. Afirmo que na maioria das vezes a culpa é nossa por um simples fato, na maioria das vezes já fomos perdoados. Mas nós mesmos seguimos nos acusando e nos culpando por erros e fracassos passados, criando uma carga de culpa insuportável, esmagando nossa serenidade e terminando por nos fazer acreditar que somos as piores pessoas do mundo.
A Bíblia apresenta um único pecado imperdoável, a blasfêmia contra o Espírito Santo, Mateus 12.31. Sua pergunta também é a minha, que pecado é esse? A resposta é difícil e os comentários bíblicos não ajudam muito, cada teólogo e estudioso apresenta uma explicação. Algumas explicações são as seguintes: 1 - Tal pecado seria a rejeição frequente e proposital a respeito do testemunho que o Espírito Santo dá de Cristo. 2 - O ato de não confiar em Cristo é uma ofensa ao Espírito Santo que termina em juízo inevitável. 3 - Um tipo de descrença arrogante na obra inspirada pelo Espírito na vida de Cristo. 4 - Oposição determinada contra a obra do Espírito Santo. 5 - O ato de atribuir a Satanás, dizendo ser dele, a obra realizada pelo Espírito. E tem mais outras interpretações, mas estas bastam para percebermos a dificuldade de definição.
Se olharmos atentamente cada interpretação, todas têm algo que certamente entristece o Espírito Santo. Porém nenhuma delas me deixa satisfeito. Como você, quero saber qual é o pecado de blasfêmia contra o Espírito. Não sei se ajudará sua compreensão, mas ajudou muito a minha saber o significado grego da palavra blasfêmia, foi a partir deste significado que encontrei conforto para as minhas dúvidas. Sem nenhuma pretensão de ter a resposta completa e perfeita para a questão, compartilho minhas descobertas com você.
Blasfêmia, no grego, significa dizer coisas abusivas, além de também poder ser usada contra aquilo que pertence a Deus, o que, em algumas vezes, poderá significar difamação ou calúnia. Sabedor destes significados comecei a perguntar: Como posso falar coisas abusivas contra o Espírito? Como posso ser contra aquilo que pertence a Deus? Como posso difamar ou caluniar o Espírito?Quem sou eu para conseguir tais feitos? Sou tão pequeno e insignificante, como poderia falar seja lá o que fosse para atingir o Espírito Santo? A resposta terrível para estas perguntas é um perigoso sim. Sim, todas estas blasfêmias podem ser cometidas. Sim, somos pequenos, mas temos maldade suficiente para blasfemar contra o Espírito Santo, aquele que é infinitamente grande.
Calúnia é uma inverdade, se digo que o Senhor falou algo que Ele não falou estou mentindo. Se uso o Espírito para manipular sentimentos e arrancar toda a lã das ovelhas, estou dizendo coisas abusivas e abusando do Espírito. Se afirmo, ou sinto, que o poder, a autoridade, a honra e a glória pertencem a mim, estou sendo contra aquilo que somente a Deus pertence. Blasfêmias, blasfêmias, blasfêmias! Será que é isso mesmo? Não tenho como afirmar, mas sei que muita gente que praticou e pratica tais blasfêmias, quando a situação apertar, tentará argumentar religiosa, doutrinária e teologicamente: ''Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E, em teu nome, não expulsamos demônios? E, em teu nome, não fizemos muitas maravilhas?'' Observou? São pessoas que fizeram e aconteceram, fazem e acontecem, usando o nome de Jesus. Agora observe qual será a resposta de Cristo: ''Nunca vos conheci, apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade'' Mateus 7.22 e 23. Embora muitos não concordarem, vejo uma forte ligação nesses textos, pois Jesus é o autor da graça, do perdão e da redenção, mas o pecado imperdoável é inegociável e, nesta passagem, apesar dos argumentos e apelos, Jesus é direto e definitivo em sua resposta.
A palavra blasfêmia em Mateus 12.31, também nos dá uma preciosa dica. Significando o que ela significa, tal pecado só pode ser cometido conscientemente, os tempos da ignorância não são levados em conta. A intenção em cada ato e palavra é determinante. Ignorâncias, enganos, equívocos, esquecimentos, enfim, deficiências exclusivamente humanas certamente são perdoadas. A blasfêmia, portanto, só é possível ser caracterizada como tal, quando o blasfemador conhece o correto e obstinada e convictamente decide pelo erro contra o Espírito. O que é bem diferente de queda, fracasso, tentação, fraqueza, vacilo e falha em seres pecadores como nós.
Tudo isso me alerta e me conforta, pois somente Deus pode definir com exatidão o que é o pecado imperdoável no contexto da vida de cada um. Talvez seja por isso que Ele nos deixou um versículo que ninguém consegue definir uma perfeita e completa interpretação. Por último, penso que os verdadeiros arrependimentos que brotam dentro de nós já são, em si, ótimos sinais sobre a ausência do pecado imperdoável. Aqueles caras de Mateus 7.22 e 23 que citei, só foram se dar conta no dia do juízo, portanto dia errado e tardio, a sentença já estava definida, ou seja, eles tiveram muito tempo para se arrependerem mas não se arrependeram.
Assim, cada vez que a consciência pesa, o coração estremece, o peito dói, a lágrima cai, a culpa perturba e o arrependimento aparece, alegre-se! É o Santo Espírito de Deus se movendo em você, ajudando-o a se levantar, respirar e caminhar. Coragem! Não precisamos viver a tragédia de não sermos perdoados, a multidão de pecados que cometemos continua encontrando remissão e perdão nEle, aquele que foi morto, ressuscitou ao terceiro dia e voltará para buscar o seu povo.
Paz!
Edmilson Ferreira Mendes é teólogo. Atua profissionalmente há mais de 20 anos na área de Propaganda e Marketing. Voluntariamente, exerce o pastorado há mais de dez anos. Além de conferencista e preletor em vários eventos, também é escritor, autor de quatro livros: '''Adolescência Virtual'', ''Por que esta geração não acorda?'', ''Caminhos'' e ''Aliança''.
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