Falta tempo. Esta é a maior desculpa destes tempos. Engolidos por um cenário nervoso e acelerado, vamos caminhando em meio a confusões e urgências dissimuladas, hábitos que não damos tanta importância, mas que consomem energias, inspirações, vontades, motivações, tempo.
São várias as escravidões e prisões. O celular tem lugar assegurado entre os itens que lideram o caos. Adultos, jovens, crianças, estão todos conectados em seus canais, grupos, jogos, vídeos, enfim, plataformas de suas preferências. Hoje, um crente cair na fé não causa tanto desespero, transtorno, preocupação e tristeza como quando cai a internet! Lamentável.
Entretenimentos assustam pelo volume, criatividade e oferta. As pessoas não apenas querem curtir tal e tal entretenimento, elas necessitam, meio que “dependem” daqueles momentos que se encerram em si mesmos sem nunca satisfazer a sede por este tipo de prazer. Eles, os entretenimentos, estão nos shoppings, nos destinos de viagem, nas noites, nas TVs, nos botecos, nos shows, nos estádios, nos... Ufa! Falta espaço nas agendas!
A busca pela grana. Chega a ser insano o vício pelo trabalho obcecado, os estudos que nunca acabam, os projetos “infalíveis” para se lucrar mais, a eterna busca pela complementação e aumento da renda, as noites mal dormidas, o esgotamento físico e emocional. E pra quê? Na maioria dos casos para sustentar os itens dos parágrafos acima. Resultado: falta tempo e sobra muita frustração.
Uma das consequências mais graves e perigosas, já presente em nosso tempo, é a total falta de ensino. Os adultos já não têm tempo para ensinar, para comunicar com paciência, graça e amor aquilo que aprenderam de seus pais, de seus avós, de suas experiências de vida. Já não existe tempo para se sentar e trocar ideias, bater papo, analisar opiniões, rir, chorar, discordar, concordar, afinal, falta tempo.
Este é um desafio que não deveríamos esquecer e nem abrir mão. Provérbios 15:2 define muito bem como é o ensino de qualidade e como é o ensino feito às pressas, sem critério sobre o que seja bom ou não, veja: “Quem é sábio, ensina grandes verdades de maneira simples e agradável; quem é tolo só sabe ensinar o que não presta.”
A primeira parte do versículo fala do bom ensino. E o desafio é grande, pois ensinar grandes verdades demanda tempo, carinho, transparência, testemunho e sabedoria para comunicar de forma simples e agradável sem, contudo, diminuir a profundidade contida em toda grande verdade.
Já a segunda parte do versículo define como é passado o ensino nestes tempos onde a maioria dos ensinadores estão sem tempo, são tolos que só ensinam o que não presta. Já se disse que ensinar com vistas a educar dá muuuuito trabalho, requer dedicação, porém ensinar o que não presta é facinho, facinho, coisa de tolos.
Termino este texto com um pensamento inspirador de Cora Coralina: “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.” É isso! Somos tanto aqueles que têm potencial para ensinar corretamente como somos os que podem aprender coerentemente. Nossa geração precisa urgentemente rever suas prioridades, caso contrário, o que está ruim hoje nos lares, nas escolas, nas empresas, nas igrejas, nos relacionamentos em geral, tende a piorar exponencialmente. Ensinar e aprender todo dia deveria ser mais que um dever, deveria ser um constante desejo e prazer.
Edmilson Ferreira Mendes é teólogo. Atua profissionalmente há mais de 20 anos na área de Propaganda e Marketing. Voluntariamente, exerce o pastorado há mais de dez anos. Além de conferencista e preletor em vários eventos, também é escritor, autor de quatro livros: '"Adolescência Virtual", "Por que esta geração não acorda?", "Caminhos" e "Aliança".
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