Observações sensíveis e precisas marcaram a maioria dos textos de William Shakespeare. Em um de seus muitos pensamentos sobre o "tempo", ele escreveu: "O tempo é muito lento para os que esperam, muito rápido para os que têm medo, muito longo para os que lamentam, muito curto para os que festejam". O dramaturgo inglês tinha razão. Quanto a contagem, o tempo é sempre igual, exatos um segundo atrás do outro. No entanto, quanto a velocidade, ele é repleto de variáveis para quem espera, tem medo, quem lamenta ou festeja. É como tentar prever o imprevisível, sobra tempo, falta previsão.
Em Mateus 9.36, Jesus tem uma visão de pessoas desorientadas, cada uma no seu tempo e todas ansiando por uma previsão boa. Jesus define aquelas pessoas assim: "Ao ver as multidões, teve compaixão delas, porque estavam aflitas e desamparadas, como ovelhas sem pastor".
Aflição e desamparo marcavam aquelas multidões. A falta de pastor provocava um tempo ruim. A figura usada por Jesus foi perfeita. O pastor é aquele que prepara o pasto verde, a água fresca, a sombra, o abrigo e a proteção. O pastor é aquele que sabe se vai chover, fazer sol, calor ou frio. O pastor é aquele que conhece os tempos e então provê tudo que é necessário para o bem estar das ovelhas. É por isso que ovelhas que têm pastor superam aflições e desamparos, não importa se fará sol ou chuva, a previsão é sempre de segurança e proteção durante todo tempo.
Não sei no que Pablo Neruda pensava, mas sua inspiração serve para refletirmos sobre a importância do conteúdo do nosso tempo, que não deve ser negligenciado em hipótese alguma. Ele escreveu que "Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo". É verdade! Precisamos viajar e conhecer lugares, viajar nos livros, viajar na música, viajar de mãos dadas com a Graça!
Tudo isso pertence a Deus! Os lugares Ele criou, os livros Ele inspirou, a música Ele gravou nas notas musicais, a graça Ele doou! O tempo com Deus é rico, imprevisível no aspecto da surpresa, mas totalmente previsível no aspecto da certeza. Da certeza que o nosso tempo não está sendo desperdiçado, de que não estamos morrendo lentamente, de que a vida está sendo vivida intensamente.
A falta de previsão produz expectativa, ansiedade, medo. É difícil viver sem ter noção alguma sobre o amanhã. Foi por isso que Jesus, "ao ver as multidões, teve compaixão delas", exatamente pela falta de esperança no amanhã, no futuro. Este sentimento de Jesus: "teve compaixão", me conforta e me consola. Já estive no meio de multidões assim, sentido-me aflito e desamparado. Lembrar que Jesus olhou para mim cheio de compaixão, me responsabiliza a agir movido também por compaixão junto a uma geração especializada em desperdiçar seu tempo.
A JOCUM tem uma base na Linha Vermelha em Amsterdã, onde podemos ler o seguinte pensamento escrito numa placa: "Deixe o seu coração ser quebrantado pelas coisas que quebrantam o coração de Deus". É isso! Se multidões errantes quebrantam o coração de Deus, se um pai perdido no álcool quebranta o coração de Deus, se um filho descrente quebranta o coração de Deus, se pessoas com frio e com fome quebrantam o coração de Deus, enfim, se gente sem nenhuma previsão boa para sua própria vida quebranta o coração de Deus, o meu coração também deve ser quebrantado por uma sincera compaixão que chora, ora e também age, afinal, o tempo não espera.
Quando você permitir que o seu coração seja quebrantado e derretido por tudo que importa para Deus, você enriquecerá de bênçãos o seu tempo e o tempo daqueles a quem Deus te enviar. Mas não ficará "só" nisso. Corações quebrantados desenvolvem a capacidade de amar. E amor, como bem afirmou Paulo em I Coríntios 13, é o caminho ainda mais excelente que durará eternamente. Foi a propósito que deixei a última frase do pensamento de Shakespeare para a conclusão deste texto, pois ele explica com simplicidade e objetividade a atitude certa para vivermos hoje, amanhã e sempre: "Mas, para os que amam, o tempo é eternidade".
Paz!
Pr. Edmilson Mendes
Edmilson Ferreira Mendes é teólogo. Atua profissionalmente há mais de 20 anos na área de Propaganda e Marketing. Voluntariamente, exerce o pastorado há mais de dez anos. Além de conferencista e preletor em vários eventos, também é escritor, autor de quatro livros: '"Adolescência Virtual", "Por que esta geração não acorda?", "Caminhos" e "Aliança".
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