Minha conversão se deu aos meus dezoito anos. Tinha algumas perguntas. Cristãos mais rodados me responderam algumas, outras não. Das respostas, umas me satisfizeram, outras não. Passei a frequentar uma classe que preparava para o batismo, mais perguntas surgiram. Devorava a Bíblia, alcançava algumas respostas, mas também alcançava mais perguntas. Veio o seminário, quatro anos de teologia, muitas respostas, e muito mais perguntas.
Hoje, por graça e misericórdia do Pai, sou um de seus pastores aqui na terra. Praticamente todo dia sou exigido para dar respostas. Pessoalmente, por telefone, via e-mail. Nos aconselhamentos, mais que conselhos que incentivam os riscos de uma fé pura, as pessoas querem ouvir respostas. Prontas, eficientes e objetivas. Cultos maravilhosos terminam, já na calçada, mesmo ali sou abordado por alguma alma aflita por respostas, afinal, simplesmente adorar ao Rei sem que Ele aparentemente nada fale, é o mesmo que participar de um culto incompleto, um culto sem respostas.
A armadilha de querer respostas instantâneas e lógicas se acentuou do Iluminismo para cá. Nos tornamos positivistas e práticos reduzidos a achar que respostas são receitas infalíveis. Os métodos de ensino via de regra nos enchem de matéria, nos obrigam a tudo decorar para o dia da prova. E depois quase tudo esquecer. Assim, nos treinaram burramente para só querermos respostas prontas.
Com isso se perdeu, para muitos, a arte da busca, da pesquisa, da curiosidade, do questionamento, da persistência e do encantamento com cada descoberta. Parte da nossa sociedade seria curada se descobrisse o potencial restaurador contido nas perguntas que carrega. Se apenas deixassem a decepção por falta de respostas de lado, e assumissem as motivações de cada legítima e honesta pergunta, explorando com paciência cada peça da vida até montar o quebra-cabeça e vislumbrar as respostas, um processo de cura para enfermas emoções seria disparado rumo a novas e belas possibilidades.
Existe um jogo no show que tem por nome Improváveis, que ilustra bem. Consiste em responder toda pergunta com outra pergunta, quem não consegue, perde. Ou seja, precisa inteligência apurada para participar, e ganhar. A graça deste jogo, no entanto, não começou com os Improváveis. Jesus já usava, e muito, deste expediente. Para muitas perguntas, novas perguntas. Com essa estratégia Jesus provocou a reflexão em muitos de sua época.
O romancista judeu e escritor na área de espiritualidade, Elie Wiesel, numa entrevista que certa vez concedeu, demonstrou toda sua sensibilidade e sabedoria diante da provocativa pergunta de um repórter, deixando-o mudo. O entrevistador disse: Observei que vocês, judeus, muitas vezes respondem às perguntas fazendo outra pergunta. Por que agem assim? Elie Wiesel respondeu: Por que não?
Entendeu? Continue a buscar suas respostas, mas não se aborreça e nem se desanime por conta de suas perguntas. Elas são fontes de buscas, esforços, manutenção do foco, enfim, são motivações que podem te levar a grandes descobertas. Ou não?
Por Edmilson Mendes
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