O país está cansado de ouvir o bordão descarado de dezenas de réus que, mesmo sob o peso de um mundo de evidências de suas delinquências, continuam tentando sustentar o insustentável. Os atores do maior caso de corrupção da história teimam em alegar inocência, e todos, sem exceção, queixam-se de conspirações e perseguição política. A começar pelo protagonista mor da trama nauseabunda, afirmam com serenidade cínica que acreditam na justiça, pois não há qualquer ilícito em suas operações. Sempre se conduziram, insistem, com a lisura se um santo.
Fomos tomados de surpresa há alguns dias, quando um dos atores do primeiro escalão, cansado de sua própria mentira, resolveu abandonar o refrão que já nos matava a todos de asco. Sob o peso de centenas de acusações, réu em mais de 20 processos, percebendo-se sem saída, decidiu fazer um inesperado Mea Culpa. Ouviu-se então uma confissão aparentemente honesta. Confessou seus delitos com o argumento frágil de que não teve forças para resistir à sedução do poder, quando rios de dinheiro fluíam por seu gabinete prometendo-lhe o céu por limite.
No cárcere, atingido pela doce mão da lei, viu o caviar e vinhos caríssimos dos palácios por onde circulava serem subitamente reduzidos ao pasto rústico de Bangu. O diabo lhe pregara uma peça. Do céu prometido ao inferno de Dante, a queda foi ruidosa cumprindo o jargão: quanto mais alto o posto maior o tombo! Do topo que se galga por meio da rapinagem caem sempre todos os homens seduzidos por ascensão sem honra ou mérito.
Na admissão da culpa faltou apenas dizer que roubou. Não se pode negar, todavia, que deu com isso passos rumo à sua redenção. O Brasil, eu, tu, ele, de alma malandra, continua ainda leniente com o crime de corrupção e outros pecadilhos. Ainda buscamos eufemismos para definir aquilo que é, por definição, roubo e desvios de outras naturezas. Apropriar-se de algo que não nos pertence, não importando meio ou método, faz de nós tão ladrões quanto quaisquer outros que tem o roubo por ofício.
A confissão, que pode ter efeito atenuante no juízo, de certo modo, traz alívio à consciência coletiva da nação. A prática consciente e deliberada do erro é uma triste nódoa em nossa humanidade. Escamotear essa prática por meio da negação mentirosa torna-nos ainda piores. A integridade é o caminho da salvação (Não no sentido escatológico) do indivíduo e da nação inteira. Não temos salvação, como indivíduos ou nação se não formos íntegros. Se outros seguirem o mesmo caminho e rasgarem o coração em confissão sincera, talvez haja jeito para o Brasil, a começar por cada um de nós. Mea culpa, mea maxima culpa!
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