
Lembro-me de uma briga muito feia entre papai e mamãe, quando éramos apenas eu e meus irmãos Júnia e Kléos. A discórdia foi tão grande que papai pegou a mala e se dirigiu para a estação ferroviária. Parece-me que ele pretendia tomar o trem para o Rio.
Ficamos horrorizados, olhando um para o outro, em silêncio total. Mamãe também não esperava um acontecimento deste porte. Aparentemente, era a desintegração do lar, o que ninguém queria, o que ninguém suportaria. Na verdade, nós os amávamos muito e tínhamos um sentimento de família talvez até exagerado.
Não sei quanto tempo passou. O fato é que papai não tomou o trem e voltou para casa com aquela mala e tudo. Este tudo era apenas um pequeno embrulho, que ele abriu logo na entrada. Lá estavam cinco laços de coco – aquele doce de coco em forma de pétalas: um para Kléos, um para mim, um para Júnia, um para mamãe e outro para papai!
Se o pão simboliza o corpo de Jesus e o vinho o seu precioso sangue , o laço de coco, para mim, significa a vitória do amor sobre o ódio, do bom senso sobre a ação intempestiva, do Espírito sobre a carne. Se a contenda entre papai e mamãe nos trouxe algum desconforto, algum desagradável intervalo na comunhão familiar ou algum exemplo negativo – cenas como a do laço de coco nos edificaram e nos ensinaram muito.
Por ser o mais velho dos homens e, por esta razão, o filho que mais conviveu com papai, a influência dele sobre mim é muito sensível. Ele me ensinou coisas pequenas e coisas grandes. Até hoje não consigo cruzar as pernas quando estou próximo ao púlpito; até hoje não consigo deixar de remover da calçada uma casca de banana; até hoje não consigo deixar de dar a minha direita a uma senhora ou a uma pessoa idosa quando na rua – são coisas que papai me ensinou. A vida inteira me vejo preocupado com a evangelização porque papai era assim.
Papai e mamãe tiveram dificuldades tremendas. Não me refiro às dificuldades materiais. Refiro-me às dificuldades impostas pelo temperamento e pela pecaminosidade latente de cada um. Mas eles venceram porque eram crentes, porque tinham um Salvador, porque eram o templo do Espírito, porque podiam contar com a graça de Deus.
- Elben César
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