Apesar das notáveis conquistas das mulheres no mercado de trabalho nas últimas décadas, uma pesquisa recente revelou que o trabalho doméstico ainda é fortemente associado às mulheres, não apenas por parte dos homens, mas também por parte delas mesmas.
O estudo foi realizado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), no último sábado, devido à proximidade do Dia Internacional da Mulher (8 de março).
Em sua pesquisa, a entidade somou o tempo que as mulheres investem na realização de trabalhos remunerados e atividades não pagas (as quais incluem tanto o serviço doméstico propriamente dito, como cuidar de outros membros da família, fazer compras para a casa se envolver em trabalhos voluntários).
A conclusão da pesquisa apontou para uma média de oito horas diárias de trabalho realizado pelas mulheres, enquanto para os homens, essa média de tempo foi de sete horas e 45 minutos. Porém, apesar das jornadas de trabalho de ambos os gêneros serem bem próximas, o tempo que as mulheres dedicam aos trabalhos não remunerados são praticamente duas vezes maior que o dos homens, segundo a Organização.
Marido que "ajuda" em casa?
Comentando o assunto - que já não é mais um tema novo, porém se torna um debate constante - a psicóloga, terapeuta familiar e autora cristã, Leonora Ciribelli destacou que os conceitos sobre a participação de homens e mulheres nas atividades domésticas ainda são um tanto equivocados, mesmo na sociedade pós-moderna.
Segundo Leonora, maridos que enchem o peito para falar que "ajudam suas esposas em casa" podem estar cultivando um conceito errôneo sobre sua participação no lar.
"O termo 'ajudar' supõe que ele [marido] estaria seguindo a iniciativa de outra pessoa, quando, na verdade, a casa pertence à família como um todo", destacou a terapeuta. "O certo é ele cumprir com o combinado entre ele e sua esposa, na divisão de tarefas em casa".
"Quando uma mulher pede ao seu marido ou filhos que a 'ajudem em casa', isto soa como se eles estivessem 'fazendo um favor a ela' e acabam esquecendo-se de que participar das atividades domésticas em conjunto é algo beneficia a todos que integram àquele lar. Responsabilidades e privilégios fazem parte do sistema familiar", acrescentou.
Leonora é psicóloga, terapeuta familiar, autora do livro "Antes de Casar" e atualmente lidera o ministério Oásis, junto ao seu marido, Pastor Fábio Ciribelli. (Foto: Levi Facó)
Sobrecarregadas
Leonora destacou que uma mulher que a sobrecarga da mulher em contextos como o das atividades do lar também pode se traduzir em outros tipos de sentimentos negativos.
"Uma mulher sobrecarregada pode começar a sentir-se também cobrada, culpada, cansada e frustrada. Por consequência, pode também não olhar para si mesma como uma mulher suficientemente realizada – seja dentro ou fora de casa", alertou.
Apesar do fato da associação entre as atividades domésticas e as mulheres ser geralmente colocada como uma culpa dos homens, Leonora lembrou que muitas vezes, as mães e esposas podem ter sua parcela de responsabilidade nisso.
"Por outro lado, há aquelas mulheres que trabalham fora e se dizem exaustas, cansadas, devido a uma jornada dupla de trabalho, mas também não aceitam trabalhar em equipe dentro de seus lares", disse. "Mesmo reclamando que precisam 'dar conta de tudo', são perfeccionistas e sempre assumem a liderança das atividades domésticas de uma forma arbitrária".
"Se os membros da família não atendem a um pedido, exatamente do jeito que ela imagina que deve ser feito, então eles estão “errados”. Em uma fala contraditória, afirmam que estão cansadas, mas não permitem que cada membro da família aprenda a dar a sua contribuição no lar", acrescentou.
Equilíbrio
A psicóloga destacou que é preciso evitar os extremos, pois são exatamente eles que prejudicam o lar.
"A verdade é que estes dois extremos desgastam as relações familiares. A manifestação do amor da mulher pode acabar se traduzindo em trabalho - seja por culpa, seja por uma exigência exacerbada. Isso pode vir dela mesma ou dos membros de sua família", explicou.
"A mulher tem, sim, um papel extremamente relevante, não apenas no contexto familiar, mas também na sociedade como um todo - já que ela ocupa funções diversas: mãe, esposa, amiga, profissional bem sucedida", acrescentou.
Leonora finalizou sua reflexão lembrando dois versículos bíblicos relevantes para este contexto.
"A Bíblia diz: 'Aquele que encontra uma esposa, acha o bem, e alcança a benevolência do Senhor'. (Provérbios 18.22) e 'A mulher sábia edifica sua casa, mas a tola a derruba com as próprias mãos' (Provérbios 14.1)", destacou.