Um banho ritual judaico de 2.000 anos foi descoberto próximo ao jardim do Getsêmani, perto do Monte das Oliveiras, em Jerusalém, anunciou a Autoridade de Antiguidades de Israel (IAA) na segunda-feira (21).
O banho é uma espécie de piscina usada pelos judeus em rituais de imersão. Esta é a primeira evidência arqueológica que vincula o Getsêmani ao período em que Jesus viveu.
A descoberta foi feita por arqueólogos que trabalham com o IAA e estudiosos do Studium Biblicum Franciscanum, um instituto de pesquisa franciscano próximo à moderna Igreja de Getsêmani.
De acordo com os quatro Evangelhos, foi no Getsêmani — que significa “prensa de azeite” em hebraico — que Jesus passou uma noite de angústia antes da crucificação. Embora a descoberta não tenha menção na Bíblia, ela aponta para a possibilidade de haver uma prensa de azeite no local.
Os banhos rituais da era do Segundo Templo não são uma descoberta incomum para os arqueólogos: existem dezenas de banhos semelhantes por todo Israel. Mas esse banho ritual em especial, também conhecido como micvê, é a primeira evidência arqueológica que conecta o local à era do Novo Testamento.
“Não é pelo micvê que ficamos tão entusiasmados, mas sim pelo significado dele”, disse Amit Re'em, chefe da IAA no distrito de Jerusalém, ao jornal Times of Israel. “Porque apesar de haver várias escavações no local desde 1919, e de haver vários achados — das eras Bizantina, Cruzada e outras — não havia nenhuma evidência do tempo de Jesus. Nada! E então, como um arqueólogo, surge a pergunta: há mesmo evidências da história do Novo Testamento, ou talvez tenha acontecido em outro lugar?”
Arqueólogos encontram banho ritual da era do Segundo Templo. (Foto: Yaniv Berman/Autoridade de Antiguidades de Israel)
Na época de Jesus, o Getsêmani era um jardim fora dos muros de Jerusalém cheio de oliveiras.
De acordo com Re'em, provavelmente havia algum tipo de prensa de azeite no meio do jardim, usada para a produção do óleo, embora nenhum sinal disso tenha sido descoberto. Re'em explica que a descoberta do banho ritual aponta para uma necessidade implícita de pureza ritual em um contexto agrícola.
“De acordo com a lei judaica, quando você está produzindo vinho ou azeite, você precisa ser purificado”, disse Re'em. “Portanto, há uma grande probabilidade de que durante o tempo de Jesus, neste lugar houvesse uma prensa de óleo”.
Restos de uma igreja desconhecida, que foi construída no final do período bizantino e continuou sendo usada no período omíada, também foram encontrados na escavação. A igreja foi decorada em um característico estilo bizantino, que inclui inscrições em grego no chão, de acordo com o IAA.
Escavações realizadas na antiga igreja bizantina. (Foto: Yoli Schwartz/Autoridade de Antiguidades de Israel)
“É interessante ver que a igreja [da era bizantina] estava sendo usada, e pode até ter sido fundada, na época em que Jerusalém estava sob domínio muçulmano, mostrando que as peregrinações cristãs a Jerusalém continuaram durante este período também”, disse o diretor de escavação da IAA, David Yeger/
Re'em disse que a igreja foi provavelmente destruída pelo sultão aiúbida Salah-a-Din em 1187 d.C, de acordo com destroços encontrados no local, e que documentos históricos indicam que o sultão ordenou que as pedras das igrejas do Monte das Oliveiras fossem usadas para fortificar as muralhas da cidade.