O cenário marcado pela pobreza e as ruas tomadas pelas gangues fizeram de El Salvador um dos países mais assassinos do planeta. No entanto, o crescimento do cristianismo nas prisões do país tem transformado a vida de criminosos que faziam parte das estatísticas.
Rivera, um ex-assassino da poderosa gangue “Barrio 18”, cumpre pena no famoso presídio de San Francisco Gotera. Hoje, ele se coloca a frente de outros homens para levar uma mensagem de salvação: Deus o resgatou da criminalidade.
“Costumávamos dizer que a gangue era nossa família, mas Deus tirou a venda dos nossos olhos”, disse Rivera, 36 anos, a Reuters.
Depois que abraçam a religião, Rivera conta que esses homens podem deixar suas gangues sem retaliação. Mas se eles não mostrarem verdadeira devoção, seus ex-companheiros de gangues podem matá-los, para impedir que eles se juntem a outras gangues e se tornem inimigos.
Rivera teve a vida transformada atrás das grades, quando se tornou incapaz de ver seu filho após passar anos fugindo da polícia e das gangues inimigas. Deus apareceu a ele em um sonho e profetizou que ele teria seu próprio rebanho. Agora ele está a meio caminho de cumprir uma sentença de oito anos por associação criminosa.
Modelo de mudança
Na última década, o cristianismo evangélico cresceu rapidamente na América Central e se espalhou pelas prisões, onde é bem visto pelas autoridades que têm visto o impacto da fé na vida dos ex-criminosos.
Ex-membros da gangue Barrio 18 participam de cultos da igreja evangélica Torre Forte dentro da prisão. (Foto: Reuters/Jose Cabezas)
O presidente de El Salvador, Salvador Sánchez Ceren, planeja usar Gotera como um modelo de reabilitação religiosa que poderá ser reproduzido em todo o país.
Há dois anos, a prisão localizada a cerca de 166 quilômetros da capital San Salvador, era quase inteiramente o lar de membros ativos de gangues. Agora, a maioria dos 1.500 presos querem encontrar a redenção, de acordo com o diretor da prisão, Oscar Benavides.
As conversões “mostram ao país que é possível reabilitar as pessoas na Mara Salvatrucha e outras gangues”, afirma o ministro da Segurança, Mauricio Ramirez. A Mara Salvatrucha, também conhecida como MS-13, é uma gangue fundada por salvadorenhos nos anos 80 em Los Angeles, nos Estados Unidos.
Fora das paredes da prisão, o perigo ainda permeia as ruas de El Salvador. Com uma das maiores taxas de homicídios do mundo, a nação de 6 milhões de habitantes registrou 103 mortes para cada 100 mil pessoas.
Dentro de Gotera, onde alguns detentos estão cumprindo sentenças de 100 anos por crimes acumulados, os presos estudam livros religiosos, tecem redes, cuidam do jardim e usam camisetas com os dizeres o “Soldado de Cristo” e “Jesus Salvou Minha Vida”.
Ex-membros da gangue Barrio 18 participam de cultos da igreja evangélica Torre Forte dentro da prisão. (Foto: Reuters/Jose Cabezas)
Rodolfo Cornejo, de 34 anos, marcado por tatuagens que circulam seu pescoço, começou a orar e cultivar pepinos quando entrou na prisão com uma sentença de 12 anos por porte de armas de fogo. Ele carregava o desejo de abandonar a vida que o distanciou de seus filhos.
“As pessoas de fora não confiam muito em nós, acham que não podemos mudar. Mas sim, podemos mostrar a elas”, disse ele.