Planos Passados para o Futuro - Parte II
Primeiro o pior de todos: não planejamos.
Não planejamos por que dá muito trabalho. Demanda muito esforço e não temos tempo para desperdiçar com isto.
Parabéns! Descobrimos uma metodologia muito mais eficiente de administrar um negócio: ir tocando conforme o vento sopra, tomando decisões apressadas e imediatistas, vendendo o almoço para comprar o jantar. Atirando pra tudo quanto é lado. Contar com a sorte. Acender velas pro santo para fechar aquele contrato ou estamos fritos. Optar por arriscar tudo no 17 vermelho. Legal ! Para no fim descobrir que houve um monte de esforços e recursos desperdiçados em canoas furadas e que se perdeu o bonde do sucesso enquanto gastávamos tempo olhando para o lado errado.
Não planejamos por acreditarmos que planejar não adianta nada, afinal todas as vezes que planejamos nada que planejamos aconteceu.
Parabéns! Descobrimos alguns excelentes exemplos do que é planejar mal ou errado, ou mal e errado. Melhor agora é parar de culpar a disciplina de planejar e planejar direito.
Não planejamos porque a realidade teima em não obedecer o nosso plano.
Parabéns. Acabamos de descobrir que planejamento não determina a realidade. Apenas procura interpretá-la. Antecipar tendências. Criar cenários. Sim cenários. Várias possibilidades. Das super-hiper-mega-otimistas de crescimento de 1237%, e também as mais realistas de crescimento menores assim como as que considerem estagnação e até uma descida sem freios ladeira abaixo com agressiva redução de receitas e/ou das margens.
Segundo. Resolvemos determinar a realidade, o mercado, a atuação da concorrência e as reações do cliente.
Subestimamos a concorrência. Dizemos que vamos conquistar uma fatia do mercado, uma grande de preferência, esquecendo que os concorrentes também estão planejando a conquista da mesma fatia, ou ainda, de fatias maiores. A nossa, inclusive.
Superestimamos nossas forças e o mercado. Determinamos que cresceremos 30% quando nunca, nunquinha, crescemos nem 10 e o nosso mercado não vai crescer nem 5.
Ignoramos nossas fraquezas crônicas. Marketing vai continuar sem falar com Vendas, ambos sem integração com Produção, que não fala com Logística.
Ignoramos o cliente. Não falamos com ele, não perguntamos o que ele quer. E se perguntamos não ouvimos. E se ouvimos não acreditamos. Se acreditamos, não respondemos. Afinal, cliente não sabe nunca o precisa. Nós é que sabemos. Sabemos tudo, o que ele quer, como quer, quanto vamos cobrar e quanto ele vai ficar feliz em pagar apenas para garantir nossas margens e o meu bônus de final de ano.
Terceiro. Ignoramos as vozes de quem sabe para ouvirmos apenas as nossas.
Contratamos high potentials, enchemos a empresa de MBAs, reunimos dezenas, centenas, talvez milhares de cabeças pensantes enfrentando a realidade do dia-a-dia no dia-a-dia, e ainda somamos outras tantas num callcenter que ouve o resultado de nossas "maravilhosas estratégias" o dia inteiro o ano inteiro. Mas na hora de planejar reunimos nóis cinco. Os Iluminados. Os que sabem tudo, os que conhecem tudo. Só que erraram tudo ano passado.
Enfim, fica muito claro que falta um bom planejamento. Um feito com uma metodologia eficiente, com ouvidos atentos às vozes externas e internas, com olhos abertos à realidade, com uma visão coerente de quem somos, em que mercado atuamos, quais nossas forças e nossas fraquezas, nossas ameaças e nossas oportunidades - uma simples análise swot.
Um planejamento que nos indique caminhos, alternativas, mas que não esteja impresso em mármore ao ponto de ser tornar uma amarra que nos impeça de mudar de rumos e aproveitar oportunidades não previstas ou de desviarmos de icebergs pelo caminho.
Um bom plano que seja mais bússola do que mapa.
Mas além disto tudo, falta vontade.
Afinal, quem tem vontade, também planeja. Mas também acorda cedo todos os dias e vai à luta.
Vai à luta, e transforma plano em realidade.
Eduardo Cupaiolo (cupaiolo@peopleside.com.br ) é fundador e presidente da PeopleSide organização dedicada ao desenvolvimento humano e organizacional e autor de Contrato Preguiçosos, conselhos pouco ortodoxos que tornam o ambiente de trabalho mais humano e produtivo, lançamento nacional da Editora Mundo Cristão e ganhador do Prêmio Arete de Literatura 2007.