Com a chegada do fim do ano, a tentação de apostar na mega-sena é grande, inclusive para muitos evangélicos. Pode?
A Bíblia não proíbe de forma explícita os jogos de azar. Entretanto, nossa ética é elaborada não somente com aquilo que a Bíblia ensina explicitamente como também com aquilo que pode ser
legitimamente derivado e inferido das Escrituras.
Existem diversos princípios bíblicos que deveriam fazer o crente hesitar antes de jogar:
1. O trabalho é o caminho normal que a Bíblia nos apresenta para ganharmos o dinheiro que precisamos, Ef 4.28; 2Ts 3.12; Pv 31. Quando uma pessoa não pode trabalhar, ela deve depender de Deus pela oração (Fp 4.6, 19).
2. Tudo que ganho pertence a Deus (Sl 24.1), e como mordomo, não sou livre para usar o dinheiro do jeito que quiser, mas sim para atingir os propósitos de Deus. E quais são estes propósitos? Aqui vão alguns mencionados na Palavra: (1) Suprir as necessidades da minha família (1Tm 5.8); (2) Compartilhar com os irmãos que têm necessidades (2Co 8-9; Gl 6.6-10; 3 João); (3) Sustentar a obra do Evangelho (Gl 6.6; 1Co 9.14; Ml 3.10). Pergunte a si mesmo: Deus gostaria que eu usasse o dinheiro dele para comprar um bilhete de loteria?
3. Deus usa o dinheiro para realizar alguns importantes propósitos em minha vida: suprir minhas necessidades básicas (Mt 6.11; 1Tm 6.8); modelar meu caráter (Fp 4.10-13); guiar-me em determinadas decisões pela falta ou suficiência de recursos; ajudar outros por meu intermédio; mostrar seu poder provendo miraculosamente as minhas necessidades. Pergunte-se se jogar na loteria contribui para alguns destes objetivos.
4. Cobiça e inveja são pecado (Ex 20.18; 1Tm 6.9; Hb 13.5), e são a motivação para os jogos de azar na grande maioria das vezes.
5. Existem várias advertências no livro de Provérbios sobre ganhar dinheiro que podem se aplicar aos jogos de azar: o desejo de enriquecer rapidamente traz castigo (Pv 28.20,22); o dinheiro que se ganha facilmente vai embora da mesma forma (Pv 13.11); e riqueza acumulada da forma errada prejudica a família (Pv 15.27).
Os jogos de azar são responsáveis por muitos males sociais, emocionais e jurídicos no povo, tanto de crentes como de não crentes. Mencionarei alguns deles:
1. O empobrecimento. Há pessoas que são cativadas pelo vício de jogar e, diariamente estão jogando. E, como só um ou poucos ganham, há pessoas que passam a vida toda jogando sem nunca ganhar. Não poucos perderam tudo o que tinham em jogos. Muitos pais de família pobres gastam o dinheiro da feira no jogo.
2. O vício de jogar. Com o advento da internet, se multiplicaram as formas de jogos de azar online, que estimulam desde cedo os jovens a adquirir o hábito de “tentar a sorte”. Há milhares de jovens que já são viciados em jogos de azar.
3. Arruinar vidas e carreiras. Conheci pessoas que um dia tiveram propriedades e negócios, que foram sendo dissipados pelo hábito do jogo. Hoje, embora não vivendo em necessidade, certamente não têm mais toda a riqueza que acumularam com o trabalho e perderam com o jogo.
4. Jogar dinheiro fora. As chances de se ganhar na loteria são piores do que se pensa. Para efeito de comparação, é mais provável uma pessoa ser atingida por um raio do que ser contemplada com a “sorte grande”.
Embora pouco, o dinheiro gasto com os bilhetes da mega-sena poderia ser usado de maneira mais condizente com nosso amor e dedicação ao Senhor Jesus.
Por Augustus Nicodemus - Teólogo, professor, escritor e pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia