Enfermeira punida por usar colar de cruz processa hospital de Londres: 'Ataque à minha fé’

Ao ser pressionada a remover ou retirar seu colar, a profissional questionou por que outros religiosos podiam usar seus adornos livremente.

Fonte: Guiame, com informações de Christian PostAtualizado: quinta-feira, 14 de outubro de 2021 às 12:11
A enfermeira Mary Onuoha, de 61 anos, foi pressionada a retirar ou esconder sua cruz. (Foto: Christian Legal Center)
A enfermeira Mary Onuoha, de 61 anos, foi pressionada a retirar ou esconder sua cruz. (Foto: Christian Legal Center)

Uma enfermeira cristã afirma que foi discriminada, intimidada e pressionada a renunciar ao emprego porque não cumpriu a política de “remover ou encobrir seu colar de cruz” durante o serviço. 

A residente de Londres, Mary Onuoha, de 61 anos, entrou com uma queixa legal contra o Croydon Health Services NHS Trust. Ela disse que foi informada de que uma pequena cruz de ouro, que ela usou em seu pescoço por mais de 40 anos como um símbolo de sua fé cristã, agora representa um risco à segurança. 

Uma audiência foi realizada no Tribunal de Trabalho de Croydon, no dia 5 de outubro, onde ela explicou que passou por um processo investigativo por seus superiores, que durou dois anos, somente por ter se recusado a retirar o pingente. 

“Minha cruz é parte de mim”

A enfermeira afirma que acabou sendo suspensa de suas funções clínicas e rebaixada para trabalhar como recepcionista porque não aceitou tirar o colar. Mas, em agosto de 2020, decidiu pedir demissão.

Ela afirma ainda que outros membros do corpo clínico do hospital tinham permissão para usar joias, sáris, turbantes, hijabs e outros adornos religiosos e que apenas a cruz estava sujeita a regras específicas.

 Mary está sendo representada por advogados do Christian Legal Center. “Isso sempre foi um ataque à minha fé", disse ela em comunicado . “Minha cruz é parte de mim e de minha fé, e nunca fez mal a ninguém. Neste hospital, há membros da equipe que vão a uma mesquita quatro vezes por dia e ninguém diz nada a eles. Hindus vestem vermelho e pulseiras em seus pulsos. Mulheres muçulmanas usam hijabs. No entanto, minha pequena cruz em volta do meu pescoço foi considerada tão perigosa que eu não tinha mais permissão para fazer meu trabalho”, ela desabafou.

“Os pacientes costumam me dizer: 'Gosto muito da sua cruz'. Eles sempre respondem de forma positiva e isso me faz sentir feliz. Tenho orgulho de usá-la, pois sei que Deus me ama muito e passou por essa dor por mim”, justificou. 

Mary questiona o motivo pelo qual somente a cruz que ela usa é apontada como um “risco à segurança dos pacientes”, quando outros funcionários podem usar pingentes e brincos durante as cirurgias. 

Um porta-voz do NHS Trust disse aos meios de comunicação que a entidade não poderia comentar sobre os procedimentos legais em andamento. 

Amor pela profissão

A enfermeira que cresceu na Nigéria, disse que sempre se sentiu naturalmente atraída por cuidar das pessoas. Ela disse que estava determinada a se tornar enfermeira depois que um de seus irmãos morreu tragicamente de sarampo devido à falta de assistência médica.

Em 1988, ela imigrou para o Reino Unido e realizou seu sonho quando começou a trabalhar no Croydon University Hospital, onde permaneceu por quase duas décadas. Durante esse tempo, ela relatou usar seu pingente religioso sem qualquer reclamação ou preocupação com a saúde e segurança de colegas ou pacientes.

Mas a partir de 2015, as coisas mudaram quando chegaram novos gerentes. Em agosto de 2018, os chefes do NHS Trust ordenaram que ela removesse a cruz porque era “uma violação do Código de Vestimenta e da Política Uniforme da Trust” e, portanto, um risco à saúde dela e de seus pacientes.

Mary argumenta no processo que a administração do NHS estava violando seu próprio código de vestimenta, que faz a seguinte afirmação: “O Trust dá as boas-vindas à variedade de aparências trazidas por estilos individuais, escolhas e requisitos religiosos em relação ao vestuário”.

“O uso de sáris, turbantes, kirpan, solidéu, hijabs, kippahs e colares clericais decorrentes de normas culturais, religiosas e particulares são vistos como parte da diversidade de boas-vindas”, também diz o código de vestimenta.

Entre a fé e a profissão

“Tudo o que eu sempre quis foi ser enfermeira e ser fiel à minha fé. Sou uma mulher forte, mas fui tratada como uma criminosa. Amo meu trabalho, mas não estou preparada para comprometer minha fé por ele”, sentenciou.

De acordo com o Christian Post, a enfermeira chegou a receber uma carta de seu gerente, onde ele explica que deu a Mary a chance de usar uma corrente mais longa para que o pingente ficasse fora de vista, mas ela não aceitou. 

Além disso, ele disse que entende sua crença religiosa e também sugeriu que ela usasse uma camiseta de gola alta. “Isso é para aderir às diretrizes de controle de infecção e para protegê-la de possíveis ferimentos se confrontada por pacientes ou cuidadores furiosos”, ele escreveu ainda.

Andrea Williams, a chefe executiva do Christian Legal Center, no entanto, afirmou que o caso de Mary é sobre “um ou dois membros da equipe que se sentiram ofendidos pela cruz”. “É preocupante que uma enfermeira experiente, durante uma pandemia, tenha sido forçada a escolher entre sua fé e a profissão que ama”, disse Andrea. 

“Por que alguns empregadores do NHS acham que a cruz é menos digna de proteção ou exibição do que outras vestimentas religiosas? Toda a vida dela foi dedicada ao cuidado dos outros e ao seu amor por Jesus. Estamos determinados a lutar pela justiça”, concluiu.

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