Por Adriana Amorim
"Bozo, Bozoca, Nariz de Pipoca", a infância da década de 80 foi permeada por esse jargão. Convidado pelo SBT para ser um dos intérpretes do maior palhaço do mundo (1981-1991), o ator Arlindo Barreto foi a "babá eletrônica" de uma geração. Na época, os principais programas infantis da televisão, Vila Sésamo e Sítio do Pica-Pau Amarelo, não traziam a interatividade do Bozo. A abertura dizia: "Alô, criançada o Bozo chegou, trazendo alegria para vocês e o vovô". No entanto, a alegria de Barreto estava, a maior parte do tempo, presente apenas no sorriso vermelho de sua maquiagem. A busca pela felicidade trouxe frustrações ao artista, que para encontrá-la procurou adquirir cultura e fama. Foi ator de novelas da Globo, atuou em "Sítio do Pica-Pau Amerelo", fez 25 longa-metragens no cinema e dirigiu o circo Vostok. Como Bozo, ganhou cinco troféus Imprensa, três discos de ouro, a medalha da paz da UNESCO como Embaixador da Boa Vontade, o Colar da Caridade da Polônia e várias premiações concedidas por feitos às comunidades carentes. Todo esse reconhecimento não o fez feliz. Após a morte de sua mãe, a atriz Márcia de Windsor, que foi apresentadora e jurada dos programas de Flávio Cavalcanti e Silvio Santos, o artista envolveu-se com as drogas. Uma vida entre apresentações na TV e dependência química que durou dois anos e culminou em um tombo no banheiro de casa que levou-o a UTI (Unidade de Tratamento Intensivo). Foi lá que Arlindo conheceu o Evangelho e iniciou uma nova vida. Mas, como o próprio artista conta, foi necessário deixar a coroa de maior palhaço do mundo para receber a coroa da vida, incorruptível. Como missionário, levou a Palavra de Deus por meio de "palhaçadas" a romeiros e ribeirinhos no Brasil. Hoje pastor; teólogo; presidente do Ministério dos Artistas de Cristo; doutor Honoris Causis em Ciências da Religião; ministro de artes na Primeira Igreja Batista de Orlando (FL-EUA); membro do Conselho de Ética da AIBBAN (Associação das Igrejas Batistas da América do Norte ); evangeliza com seu novo personagem, Mr. Clown - O Embaixador do Reino de Deus. Em entrevista ao Guia-me, Arlindo Barreto falou sobre sua relação com o circo, a experiência de interpretar o maior palhaço do mundo, dependência química, e uma nova vida. O artista explicou porque não atua mais como Bozo, falou sobre o personagem Mr. Clown e qual o papel de um artista de Cristo. Em missão nos Estados Unidos e na Europa, Arlindo deseja retornar em breve ao Brasil e transmitir uma mensagem que tem conduzido adultos e crianças ao conhecimento da verdadeira alegria, que não depende de dinheiro, saúde, fama ou cultura: "Amaste a justiça e odiaste a iniqüidade; por isso Deus, o teu Deus, te ungiu Com óleo de alegria mais do que a teus companheiros" (Hebreus 1:9).
Guia-me: Você é filho da atriz Márcia de Windsor, reconhecida no teatro, cinema e TV. Qual o papel da sua mãe na escolha de sua carreira artística?
Pr. Arlindo Barreto: Ela sempre sonhou que eu me tornasse um cientista e assim pudesse minimizar o sofrimento humano. Segui o impulso natural que existia em mim e comecei como ator de novelas, tais como: "Gina", "Maria, Maria", "Sítio do Pica-Pau Amarelo", "Os Imigrantes", "Cara a Cara", "Dulcinéia vai à guerra". Fui para o cinema, fiz 25 longas-metragens e aceitei o desafio de fazer as pessoas sorrirem por meio do circo.
Guia-me: Como aconteceu sua relação com o circo? O que aprendeu nessa experiência?
Pr. Arlindo Barreto: Comecei devagar. Fui para o trapézio primeiro, depois fui aramista, globista, domador e passei a ser o palhaço auxiliar provocando risos na platéia, e depois, diretor artístico do circo Wostok. Isso foi em 1983.
Guia-me: Com as experiências no cinema, teatro, TV e circo, o senhor pôde atuar com o cômico e o dramático. O que é mais fácil: fazer rir ou chorar?
Pr. Arlindo Barreto: Acho que fazer chorar era muito fácil. O circo é um desafio para o artista. Nem todos conseguem interpretar no picadeiro, que tem 180 graus, alguns 360, e atuamos sem microfone e sempre "ao vivo". Ali, você tem que fazer sorrir ou sua carreira é encerrada.
Guia-me: Como surgiu a oportunidade de interpretar o Bozo? Por quanto tempo e em que período você atuou como o maior palhaço do mundo?
Pr. Arlindo Barreto: O Bozo foi criado nos EUA há mais de 40 anos, por Larry Harmon, que fundou a Larry Harmon Pictures tornando-se um personagem de muito sucesso. Sílvio Santos viu, gostou e decidiu abrir uma concorrência para candidatos ao papel. Eu aceitei o desafio, pois queria vestir a roupa daquele que chegou a ser o maior palhaço do mundo, quebrando um paradigma na TV brasileira a ser o primeiro ator, que haveria de ser a babá eletrônica da década de 80, brincando ao vivo com as crianças. Fiz os testes e fui aprovado por unanimidade pela empresa americana detentora dos direitos autorais e pelo SBT.
Guia-me: O que representou para o senhor interpretá-lo?
Pr. Arlindo Barreto: Um grande desafio!
Guia-me: Outras gerações conheceram grandes palhaços, como: Bozo, Arrelia, Carequinha, Torresmo, Pururuca. Em sua opinião, esta geração conhece o humor de um palhaço?
Pr. Arlindo Barreto: Infelizmente não! Guia-me: Ouve-se que muitos palhaços fazem as pessoas sorrirem, mas são intimamente pessoas tristes. Com o senhor foi assim? A alegria era real ou maquiagem?
Pr. Arlindo Barreto: Eu era apenas um ator que interpretava uma alegria que muitas vezes não sentia.
Guia-me: No auge de seu sucesso, com o falecimento de sua mãe, o senhor sofreu um abalo emocional grande. Até que ponto este fato contribuiu para seu envolvimento com as drogas?
Pr. Arlindo Barreto: Eu Já havia alcançado tudo aquilo que acreditamos ser a verdadeira fonte da alegria: muita cultura, fama, prestígio, dinheiro e uma família muito bonita, e nada disso conseguiu preencher o vazio existencial que havia em meu ser. Márcia de Windsor, minha querida mãe, morre. O Brasil chora a morte desta atriz maravilhosa (mineira) que marcou com beleza, elegância e dignidade a carreira de atriz. Eu sofri um choque. Tentei afogar a saudade do meu peito com bebida e o resultado foi pior. Usei a cocaína para fugir da depressão e fiquei dependente, afastei as pessoas que eu mais amava.
Guia-me: Como Cristo chegou a sua vida?
Pr. Arlindo Barreto: Sofri um terrível acidente. Em 1986 fui levado praticamente sem sangue para o hospital, e na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) recebo a visita de um pastor que anunciou as Boas Novas do Evangelho de Jesus para mim. Ali, recebi a Jesus como meu único Senhor e Salvador e fui repleto pela maior de todas as alegrias (Hb. 1.9).
Guia-me: No trabalho Tenda da Esperança, como era "fazer palhaçadas" para romeiros?
Pr. Arlindo Barreto: Ouvi o chamado de Deus e fui! Não fiquei sentado no banco da igreja onde fui discipulado muito tempo. Ingressei na Faculdade Teológica da Igreja de Deus (onde, atualmente, sou professor de evangelismo e comunicação), graduei-me em educação cristã e como Bacharel em teologia, recebi o título de Doutor Honoris Causa em Ciências da Religião, submeti-me ao concílio da Convenção Batista Brasileira e aprovado, fui ordenado pastor, membro da Ordem dos Pastores Batistas do Estado de São Paulo. A partir do momento em que me apresentei como obreiro aprovado diante do trono de Deus, recebi das mãos do Senhor Jesus os projetos missionários mais audaciosos já realizados em nosso País: a Tenda da Esperança ou Projeto Romeiros, que é um fantástico projeto de evangelização para os povos romeiros, em lugares onde a idolatria em nosso país é máxima. Viajamos por Juazeiro do Norte, Canindé, Bom Jesus da Lapa, Aparecida do Norte, Trindade e todo o sertão nordestino, levando o amor de Deus de forma palpável, concreta, por meio de atendimentos médicos, odontológicos, psiquiátricos e farmacêuticos gratuitos, em unidades móveis, totalmente equipadas. Durante o dia sob a lona da tenda, à noite o Evangelho de Jesus Cristo é apresentado de forma alegre e criativa por um pastor que é um 'palhaço' - um homem que Deus levantou para falar sério a muitas pessoas que se dizem sérias, mas que andam fazendo palhaçada com as coisas de Deus.
Guia-me: Como foi a luta pela patente, royalties e direitos autorais do personagem Bozo?
Pr. Arlindo Barreto: A razão não foi financeira, pois a quantia de U$ 1.000.000,00 anuais seria facilmente quitada devido aos meus patrocinadores interessados. O motivo do impasse foi que a Larry Harmann Pictures não permite que o personagem Bozo pregue a palavra de Deus.
Guia-me: Então nasceu o Mr. Clown? Sei que as cores também têm representações. O que significam?
Pr. Arlindo Barreto: Mr. CLOWN é o Embaixador do Reino de Deus. Ele tem como função básica e principal anunciar o Reino que já está sobre nós .Todo rei tem um bobo (clown) em sua corte, que alegra o seu povo e anuncia a sua chegada, através de música, pantomimas e brincadeiras.
O personagem (Mr. Clown), através de mágicas (truques óticos mecânicos), esquetes, dramatizações de maneira alegre e criativa, prega a palavra de seu Senhor (Deus), anunciando as Boas Novas do Reino.
Sua indumentária (figurino), estrategicamente elaborada no "Livro sem Palavras", já por si mesma, anuncia de forma consciente, até mesmo subliminar (ou subjetiva) o Plano de Salvação. Detalhes pretos mostram a nossa separação deste reino, por causa do pecado. Os detalhes verdes anunciam a esperança de podermos alcançar este reino através da vitória conquistada por Jesus Cristo na cruz do calvário(detalhes vermelhos). O azul do seu fraque estilizado anuncia o céu de onde virá seu Senhor, e o amarelo, a riqueza da vida que há neste santo lugar, e finalmente o branco encontrado em sua cabeleira( em forma de nuvens) a Paz, que o mundo não conhece, mas que está presente no Reino de Deus.
Mr.Clow foi criado para o povo de Deus, é cristão, vem preencher um "vazio" causado pela aposentadoria (Bozo, Arrelia, Pururuca, Gibe) ou mesmo o falecimento dos grandes palhaços (Torresmo, Carequinha, Piolim etc). As crianças desta geração não conhecem ainda a alegria verdadeira de um "senhor palhaço".
A sua mensagem conduz todos os seres humanos, adultos e crianças, ao conhecimento da verdadeira alegria, que é fruto do Espírito Santo (Hb 1:9), que não acaba quando o dinheiro, a saúde, a fama ou a cultura (intelectual) passam.
Guia-me: Como o senhor prega a Palavra por meio desse personagem?
Pr. Arlindo Barreto: Organizei um culto que na verdade é um espetáculo onde eu - como Mr. Clown - contraceno com meus filhos (David, Stacy e Diego), "Os Ministros da Alegria". O espetáculo "A Maior de Todas as Alegrias" é para ser apresentado nas igrejas, mas não somente, pois seu principal objetivo é evangelístico.
Guia-me: Fale um pouco sobre os sucessores do Mr. Clown, os "Ministros da Alegria".
Pr. Arlindo Barreto: Meus filhos, David e Diego, são meus discípulos e formam a dupla de evangelistas de crianças, conhecidas nacionalmente como os "Ministros da Alegria". Minha filha Stacy é uma levita graciosa e conhecida como a minha 'secretária' particular para assuntos eclesiásticos esporádicos. Minha esposa é minha produtora, companheira, ajudadora, e retaguarda na intercessão. Eu e minha família servimos e serviremos sempre ao Senhor Jesus com alegria, doando nosso tempo, talentos, influência, bens e riquezas para expansão do Reino de Deus! Guia-me: Como ministro de artes, qual é o principal conselho que o senhor dá aos artistas do Senhor?
Pr. Arlindo Barreto: O Ministério de Arte Cênica Cristã funciona quando é entendido que, ao entrar em cena, Deus está agindo através de nós, e que nossa vida está sendo usada como um instrumento nas mãos de Deus. Este deve ser o nosso compromisso, ter uma vida apresentada diante do Altar para que Deus possa nos usar sem restrição. Seja qual for o ministério que Deus tem para cada um, o alvo deverá ser: Alcançar o próximo. Teatro Cristão é para alcançar vidas com a arte e levá-las a conhecer o amor de Deus, e não deve nunca ser uma apresentação vazia das habilidades circenses de um pseudo-ator. Sem humildade não há adoração, sem adoração não há compromisso. O compromisso que nasce da intimidade com Deus, requer pureza, santidade e seriedade nas condutas cristãs. Sem vida de santidade não há teatro cristão eficaz, apenas...arte.
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