Ele decidiu estar no meio daqueles que, muitas vezes não são bem aceitos pela sociedade: os motociclistas. Conhecido como o “Pastor das Estradas”, Marcílio Rosa dos Santos é o líder do Leão de Judá Moto Clube, um grupo que busca falar de Jesus para motociclistas em todo o Brasil e foi o preletor dos cultos de aniversário da Igreja Batista Alvorada, Fortaleza (CE).
Sediado em Pavuna, no Rio de Janeiro (RJ), o clube promove eventos e viagens, promovendo não somente a cultura do motociclismo, mas também a mensagem da salvação por meio de Jesus Cristo.
Em entrevista exclusiva ao Portal Guiame, o Pr. Marcílio falou sobre as vitórias de seu ministério, o prazer de trabalhar com este moto clube, se emocionou ao contar as origens deste projeto e também respondeu perguntas sobre preconceitos que a “tribo” sofre, não somente entre os cristãos, mas de forma geral.
Confira a entrevista na íntegra:
Portal Guiame: Para começar, existe uma confusão que muitos fazem, chamando motociclistas de motoqueiros. Como podemos diferenciar isto?
Pr. Marcílio dos Santos: Antes de tudo, é um prazer estar falando com vocês, do Guiame. Bom, quando nós falamos sobre esta questão do motociclista e motoqueiro, é porque principalmente nos grandes centros, as pessoas acham que motoqueiro e motociclista são a mesma coisa e na verdade não são. Primeiro, porque não existe Carteira Nacional de Habilitação para motoqueiro, mas sim para motociclista – assim como para motoristas, senão poderia colocar a do motorista, também como dirigente ou qualquer outra coisa. Isso causa para o motociclista – quando é chamado de motoqueiro – um ar até de revolta, porque está equiparando essas pessoas que andam equipadas com calça, bota, jaqueta, colete, luvas, capacete, andam com a sua moto legalizada, documentos pessoas legalizados, não devendo nada a ningém. Enquanto o motoqueiro não tem habilitação, a moto não é dele, está em situação irregular, anda sem camisa, não tem capacete, anda de havaianas “genéricas”... Aí muitos poderiam dizer: “Então, motoqueiro é aquele que entrega pizza!”. Também não. O motoboy pode ser um motociclista muito sério e profissional, que está com tudo certinho. Eu tenho muitos amigos que são motoboys durante a semana – entregando pizza ou trabalhando de moto-táxi – e no final de semana fazem viagens de 1.000 quilômetros na sua 125 (cilindradas). Esses verdadeiramente são os motociclistas.
Guiame: Em suas pregações você testemunha que muitas vezes sofreu (e sofre) com o preconceito. Tem mais desse preconceito dentro ou fora da Igreja?
Pr. Marcílio: Interessante essa pergunta. Isso me faz lembrar de uma reportagem feita há alguns anos, na qual um repórter me perguntou: “Pastor, o que mais te deixa triste neste ministério?” e eu respondi: “A Igreja”. Ele me questionou: “Mas como? O senhor é pastor. Como pode isso?”. A Igreja nos olha como pessoas rebeldes, que querem ficar dela, que não querem viver o verdadeiro evangelho... tudo isso. Logo em seguida ele me perguntou: “E o que te deixa mais animado neste ministério?”. Eu respondi: “A Igreja”. Ele me perguntou: “Você é louco?” e eu respondi: “Deus escolhe as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias”. Na realidade é isso que acontece. A Igreja é um organismo vivo, repleto de pessoas, que tem seus conceitos, suas formações, a sua criação, a sua visão do que certo e errado, mas muitas vezes não tem o entendimento de que o que é certo e errado para a Igreja é aquilo que é determinado pelo espírito santo... pela ação do poder de Deus na nossa vida, através de Jesus Cristo. Dessa forma, existem muitos conceitos preestabelecidos. Na década de 80, quando eu estava no seminário, muitas pessoas me perguntavam “Você é reformado?” – era a pergunta da moda –, depois “Você é batizado pelo espírito santo?”. A outra moda foi “Você está na visão?”, “Você trabalha em células?”, “Você é isso... aquilo”. Eu não sei o que vai vir mais. Mas sempre serão modas que vão passar. Quando você lê o livro “Uma Igreja com Propósitos”, tem a oportunidade de ver o autor falar assim: “Aproveite as ondas que Deus está mandando para você surfar”. Tem é que aproveitar. Então, eu estou aproveitando a pista que Deus está me dando para pilotar. Mesmo que possam haver alguns conceitos que se transformem em preconceitos, acho que tudo isso é vindo do medo, da falta de conhecimento, da má formação por líderes que não se preocuparam em abrir o leque de opções da Igreja dentro da pós-modernidade. Por isso nós precisamos abrir espaço para os talentos, os dons. Dom não é somente cantar, orar, pregar. É também amar, viver, se entregar e fazer a diferença neste tempo. Então eu vejo que nós ainda temos muitas barreiras a serem rompidas em relação ao conceito que se transforma em preconceito contra alguma coisa, que está sendo preestabelecido. Acho que isso só vai ser superado quando nós estivermos indo nas igrejas. Esta é a segunda fase do Leão de Judá Moto Clube. A primeira era entrar no meio e ser aceito pelo meio (motociclistas). Hoje eu sou chamado para batismo, sepultamento, casamento, festa, inauguração de loja de motos, várias coisas. Mas o mais importante é quando eu tow lá no Facebook, por exemplo, vem uma pessoa e me fala: “Pastor, posso falar com o senhor? É porque às vezes é muito difícil chegar ao senhor pessoalmente. Eu tenho vergonha das pessoas acharem que eu estou virando crente. Eu quero simplesmente conversar com o senhor há muito tempo e por aqui eu posso me abrir”. A gente sabe que desses aconselhamentos, conversas digitalizadas, virtuais, surgem muitas perspectivas para que as pessoas nos coloquem muitas coisas, e, dessa forma isso vira uma oportunidade para abordarmos essas pessoas. Isso tem sido uma quebra de paradigmas para este tempo. A Igreja tem que ter esta visão, os líderes tem que ter esta visão. Acho que uma coisa que está acontecendo é que as nossas lideranças não estão preocupadas em formar novos líderes ou estimular, na verdade – porque quem forma mesmo é o espírito santo – e aí – estimulando novos líderes – nós temos a possibilidade de fazer a diferença. Eu creio desta forma.
Guiame: O ministério de vocês já está criando novos “braços”, como por exemplo o casamento coletivo que vocês realizaram há pouco tempo. Como vocês administram o surgimento dessas novas vertentes?
Pr. Marcílio: Isso que você está colocando é uma verdade. Eu estive observando esses dias, aquele casamento coletivo que realizamos – que também podem ser conferidos pelo Youtube, é só colocar “pastor das estradas” na busca –, muitos chegavam para mim, falando: “Eu quero me casar também!” e eu respondia: “Mas você tem que estar com tudo em ordem no cartório para este casamento”. Com essa condição que eu coloquei, os 35 casais que ia participar passaram para 12. Depois da solenidade outras pessoas vieram e falaram: “Não queremos casar no civil, não! É só uma bênção qualquer e já está bom”. Eu falei: “Isso eu não faço! Eu não posso brincar com Deus! Eu tenho que ter responsabilidade”. Então quando esses braços começam a se expandir, nós precisamos ter bastante sabedoria para que as coisas não entrem pelo campo do “Oba Oba”. “Ah! Ali pode tudo! Não tem seriedade”. Os primeiros acusadores serão aqueles que estão nas igrejas.
Guiame: Em suas pregações e relatos de suas experiências, o senhor também fala sobre o companheirismo que existe entre os motociclistas – não somente entre aqueles que são cristãos. Isso também tem muito a ver com cristianismo. Como é que você aborda este tema com o seu grupo?
Pr. Marcílio: Quando você me faz este questionamento, me lembra da origem deste trabalho – de evangelismo entre motociclistas –, que foi nos Estados Unidos da América, na década de 80, quando havia o pai de um jovem que era envolvido com várias coisas erradas. Este garoto era membro de uma igreja e o pai dele era o pastor deste igreja. Esta igreja era, na visão deles, pequena, que tinha uns 1.000 membros, mas lá eles tem igrejas de 100.000 membros. Então esta igreja era na verdade de um bom tamanho. Certo dia, o xerife liga para o pai antes do culto e diz: “Olha, o seu filho está preso aqui na delegacia, por envolvimento no roubo de um carro e também um atropelamento”. Aquele pai foi correndo para a delegacia, para tentar ajudar, mas o filho não falou direito com ele. Só dizia “Sai daqui! Volta para a sua igreja!”. Incrível isso, né? Aquele pai ficou preocupado com aquilo, conversou com o corpo diaconal da igreja e conseguiu tirar o filho de lá. E o filho falou: “Pai, nem sei se eu posso te chamar assim! Você é apenas pastor... e nem como ovelha eu sou olhado, porque eu sou ‘filho de pastor’, sou criticado. Eu sei que fiz coisas erradas, mas o senhor também falhou como pastor na minha vida. O senhor sempre valorizou os filhos dos outros como exemplo e eu sempre fui esquecido”. Aquilo machucou muito o coração daquele pai. Ele foi para casa dele, entrou no quarto, começou a meditar e na quarta-feira ele convocou a diretoria da igreja. Ele disse: “Meus irmãos, vou entregar o cargo na igreja. Eu falhei com uma ovelha. A mais importante: o meu filho! Eu quero entregar o meu cargo”. Ele voltou para casa, orou a noite toda e, no dia seguinte falou: “Meu filho, venha comigo”. Saíram juntos, compraram uma moto para cada um e foram rodar pelos Estados Unidos. Para se aproximarem mais e ficar juntos, se envolver. Certo dia, o pai estava numa loja de conveniência e o filho estava com o violão fora da moto e saiu. Aí o pai viu um tumulto... gente gritando e ele pensou: “O que foi que o meu filho arrumou desta vez? Não adianta nada investir neste filho! Eu estou perdendo o meu tempo com ele!”. Mas quando chegou ali fora, aquele garoto estava pregando, estava fazendo uma coisa diferente. Eu me emociono com isso, cara! Foi tremedo! Porque ele viu o sentimento do filho, mas agora como ovelha dele... falando: “Há muitos anos eu vivi perdido e largado... achando que tinha um pastor – que era o meu pai – e não tinha! Mas Jesus entrou na minha vida e hoje eu tenho um pai e tenho Cristo”. Essa fraternidade surge com essas experiências. Ela nasceu no coração de Deus. Eu não poderia estar aqui se isso não fosse de Deus. Não por modismos, não pela minha intenção de querer aparecer. Talvez eu pudesse vender as quatro motos que eu tenho e comprar uma super Harley Davidson e sairia com a minha esposa por aí e as pessoas falariam: “Caramba! O cara está bem!”. Mas mesmo que eu tenha a moto mais poderosa e o outro tenha a mais humilde, se eu tiver problema, ele vai parar para me atender... se eu tiver escudo ou não, se eu tiver bandeira ou não. Ele olha para mim como alguém que precisa de ajuda. E o que me entristece na Igreja é que as pessoas estão sofrendo ao nosso lado e a gente fala “A paz do senhor”; “Shalom Adonai! Shalom!”, mas as pessoas não se dão, não se entregam. Por isso eu acho que falar às igrejas, pregar nas igrejas, mesmo estando aqui sexta, sábado e domingo, eu também poderia estar aqui segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado e domingo de novo para explicar um pouquinho mais daquilo que Deus está fazendo. A gente agradece a Deus pelo o que Ele está fazendo, agradece a oportunidade de estar aqui. Quero mandar um abraço para a galera e que Deus possa fortalecer vocês.
Guiame: Para finalizar, onde o Leão de Judá Moto Clube se localiza e como são os encontros de vocês?
Pr. Marcílio: A nossa base se localiza no Rio de Janeiro (RJ) e também temos algumas facções – não fique espantado com este termo –, mas este é um nome que é dado aos grupos no meio do motociclismo. Nós estamos ali em Pavuna, que é subúrbio do Rio de Janeiro, fica próximo à Linha Vermelha, a nossa sede é a garagem da igreja, onde nós recebemos sempre 100, 150 motociclistas todas as terças-feiras e na segunda, quarta, quinta, sexta, sábado e domingo a gente está nas ruas, viajando, pregando, falando de Jesus. Se você quiser encontrar com a gente, no Face: Pastor Marcílio Santos e Leão de Judá Moto Clube e no Youtube você vai procurar “Pastor das Estradas” e vai ver o nosso trabalho.
Por João Neto