Cerca de 8.000 cristãos passaram a observar costumes judaicos em todo o Brasil, de acordo com a pesquisadora Manoela Carpenedo, antropóloga e socióloga da religião que fez um estudo sobre a aproximação entre os evangélicos brasileiros com o judaísmo.
Seu estudo é detalhado no livro “Se Tornando Judeu, Crendo em Jesus: Evangélicos Judaizantes no Brasil” (no original em inglês: Becoming Jewish, Believing in Jesus: Judaizing Evangelicals in Brazil).
Entre as práticas judaicas observadas por cristãos, estão a guarda das festas judaicas, o shabat, estudo do hebraico, a comida kosher, a leitura do Talmude e da literatura rabínica.
Carpenedo observou que muitos evangélicos passaram a aderir rituais e símbolos judaicos, mas sem o interesse em se converter ao judaísmo. Ela explica que isso acontece por razões teológicas.
“Eles acreditam que podem contribuir para o cristianismo, reformando os tipos deformados de cristianismo encontrados no culto pentecostal, através do judaísmo”, disse ela em entrevista a Benjamin Ivry, publicada no The Forward, uma mídia judaica dos EUA. “Eles entendem o judaísmo de Jesus e tentam ser como Jesus, judeu.”
A pesquisadora observou que os cristãos poderiam se aproximar das práticas do Antigo Testamento se tornando “adventistas do sétimo dia” ou parte de uma “igreja pentecostal rígida”, mas acabaram se reconectando a Israel. “Por um lado, eles estão reformando o pentecostalismo por meio do judaísmo e, por outro, eles têm essa identidade étnica que desejam combinar e manter, como um avivamento e uma reforma”, avalia.
Genealogia judaica
Ela também observa o aumento de cristãos brasileiros interessados em conhecer sua ascendência judaica. Muitos passaram a pagar investigações genealógicas e exames de sangue para ver se sua família veio de judeus convertidos em Portugal, explica.
“Eles têm uma maneira urgente de entender a Bíblia e o judaísmo como algo conectado com o fim dos tempos. Eles estão de alguma forma ressuscitando seu judaísmo enquanto trazem outros cristãos a ele. Eles acreditam que no Brasil, todo mundo é de alguma forma judeu em certo nível. Então, sejam as pessoas 75% judias ou 5%, todos devem embarcar nisso e crer na Torá”, observa Carpenedo.
Por fim, a pesquisadora acredita que apesar da diversidade cultural do Brasil, o judaísmo está criando raízes entre as igrejas. “É um avivamento e reinvenção da religião. Algo está mudando no mundo cristão e o judaísmo está contribuindo para isso”, opina.