Em entrevista a Douglas Gonçalves, do movimento JesusCopy, o pastor e fundador da Banda Resgate, Zé Bruno, fala sobre o sistema religioso e sobre as dificuldades que já enfrentou ao longo de sua vida cristã.
O líder da comunidade Casa da Rocha disse que sua música pode também ser uma crítica à religiosidade, mas que seu foco é evangelizar. “Trabalhamos na horizontalidade do Evangelho”, explicou.
Embora a banda possa ser vista como “ovelha negra”, Zé Bruno conta que “remar contra a maré” é sair do sistema religioso atual. Sobre este sistema, ele esclarece que tem um aspecto legalista que se resume no cumprimento de leis.
“As pessoas fazem o que fazem por obrigação. Hoje, o ensinamento no sistema é ‘faça isso porque isso é certo’ para ser um servo de Deus. Eu posso até fazer o certo, mas isso não é transformação”, enfatiza.
O que é transformação?
Segundo o pastor, o sistema se preocupa com uma pregação de comportamento moral, sem a existência da verdadeira transformação do ser. E para que haja uma transformação genuína, é necessário que o Evangelho seja pregado.
“Chega uma hora que a pessoa se sente sufocada e morta, porque o que vem do sistema é insuportável”, apontou. Por outro lado, ele mostra que aquilo que vem do Evangelho é poder e glória, não para o ser humano, mas para Deus.
“Se eu creio em Cristo e o Evangelho passa a ser minha orientação, minha lente e visão de mundo, então eu morro para mim mesmo para ser a imagem Dele. Eu sou só um vaso, e a glória não está no vaso, mas no Espírito”, mencionou.
A transformação conforme a Bíblia é o oposto do que se vê no padrão do mundo, é uma mudança de mente e uma uma mudança radical de direção — o foco é alterado. “O foco é a graça, é a cruz”, resumiu.
Como evitar o legalismo?
“Pode parecer simples demais, mas a resposta é o novo nascimento”, destacou. Zé Bruno aponta para “uma nova pessoa” aquela que faz da própria vida uma forma de adoração a Deus.
“O culto é o que somos, não o que fazemos. A sua ética é o seu louvor”, disse ao se referir àqueles que sentem prazer em ter uma vida agradável a Deus. “É o que diz o livro de Jeremias, no capítulo 31: ‘A minha palavra estará em vossas mentes, e em vossos corações os meus estatutos’. É preciso encarnar a Palavra”, explicou.
O músico lembra que o sistema quer “sistematizar” a fé. “Na lógica da religião, a fé tem um ‘mercado’ e tudo vira linha de produção”, disse ao se referir à forma como as pessoas aprenderam a ler as narrativas bíblicas.
Zé Bruno e Douglas Gonçalves citam alguns exemplos. “Davi venceu Golias, então você vai vencer”. Ou então, vendem a arca, a espada, entre vários outros símbolos como “amuletos bíblicos”.
Onde Deus está?
É preciso se conscientizar que “quem produz é o Espírito, não somos nós”, alertou Zé Bruno. Quer dizer que não existe uma fórmula de avivamento, usando recursos musicais, artísticos ou evangelísticos para atrair Deus . “Tudo vem do próprio Deus”, ele disse.
“Tem dias que Deus vai falar no vento tranquilo e tem dias que vai falar no mar aberto. E tem dias que você vai olhar para a sarça, ela vai queimar e não vai ser consumida”, exemplificou.
Ao citar os tempos de João Batista, o pastor lembra que Deus não estava entre os sacerdotes e fariseus, mas estava no deserto, com João. “Na verdade, o Verbo já estava no deserto. Ele é do deserto, Ele é fora do sistema. Não é manipulável”, frisou.
Muitos só conhecem Deus dentro do sistema e foram machucados por pessoas que estavam ali para proteger. “Nós inventamos algumas simbologias que deixam as ‘castas’ bem separadas. Então, o ‘organismo vivo’ passa a ser escravizado pela organização, mas a organização deveria servir o organismo”, lembrou.
E finaliza dizendo que o Evangelho desmonta a religião. “Ele te coloca em liberdade ‘com’ o Rei e tira os domínios e os gurus. E tudo o que fazemos é por amor. Isso é lindo! Não vivo eu, mas Ele vive em mim”, concluiu.