O filme Som da Liberdade, que estreia nos cinemas brasileiros no dia 21 de setembro, traz uma triste e trágica realidade, que insistia em ficar escondida do conhecimento da imensa maioria das pessoas: o tráfico e o abuso de crianças.
A produção cristã conta a história real de Tim Ballard, um ex-agente federal dos Estados Unidos que largou a carreira para se dedicar ao resgate de crianças sequestradas pelo tráfico sexual.
No entanto, essa tragédia não se resume aos EUA ou outros países, mas também acontece no Brasil.
Em um vídeo recente, publicado em seu Instagram, o Pr. Lucas Hayashi denuncia o sofrimento de crianças brasileiras, especialmente na Ilha de Marajó, onde ele esteve.
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Em entrevista exclusiva ao Guiame, o pastor fala sobre o que o motivou a gravar o vídeo denunciando e alertando, principalmente a Igreja, sobre crimes de incesto e pedofilia no Brasil, ainda mais frequentes em lugares pobres e esquecidos.
“Acredito que a falta de divulgação desses problemas contribui para a persistência de práticas como incesto, pedofilia, abuso sexual, exploração infantil e tráfico de crianças na região”, explicou.
“Essa situação é extremamente revoltante, mas para provocar mudança, é preciso primeiro despertar a consciência e uma santa indignação que gerará ações práticas”.
Um dos líderes da Zion Church, Lucas diz que esteve na Ilha de Marajó várias vezes, onde pode testemunhar uma realidade marcada pela falta de desenvolvimento, educação, saúde e, consequentemente, muita miséria.
“É evidente o abandono por parte dos órgãos públicos locais, que deveriam ser responsáveis por garantir dignidade à população e transformar essa triste realidade”, esclarece.
“Apesar de esforços anteriores, como o programa ‘Abrace Marajó’, promovido pelo governo Federal, parece que pouco tem mudado ao longo do tempo, e infelizmente o atual governo acaba de revogar este programa”, relata.
O papel da Igreja
Casado com Jackeline Hayashi, pai de Matheus de 15 anos e Bianca de 11 anos, Lucas diz que a Igreja pode desempenhar um papel crucial na luta contra os abusos e crimes envolvendo crianças no Brasil.
Lucas Hayashi durante ministração na Zion Church. (Foto: Instagram/Lucas Hayashi)
E explica: “Em primeiro lugar, é fundamental que a igreja esteja consciente da gravidade do problema, pois sem esse conhecimento, não poderá interceder e agir de forma eficaz”.
E continua: “Em seguida, a oração é essencial para pedir a proteção de Deus sobre as crianças e para buscar estratégias ativas de intervenção. Isso inclui o engajamento de pessoas influentes em diversas esferas, como política, negócios e comunicação, para promover uma transformação significativa nessa situação abusiva que afeta as crianças”.
‘O véu do silêncio’
Questionado sobre as denúncias de comercialização de órgãos de adultos e crianças, que vez ou outra surgem, e da negação de que esse crime aconteça no Brasil, o pastor disse que é alarmante pensar que muitas ocorrências permanecem ocultas no país.
“Muitas vezes, quando tentamos expor essas situações, os envolvidos preferem manter um véu de silêncio, com receio de expor quem está lucrando com essas práticas ilegais. Por isso, é vital encorajar as denúncias”.
E alerta: “No entanto, é crucial que os canais de denúncia sejam conduzidos por pessoas íntegras e justas, capazes de levar adiante essas informações para uma investigação séria e, consequentemente, uma punição conforme a lei”.
Para Lucas, isso tem uma razão de ser: “Infelizmente, vemos casos em que denúncias e provas são apagadas por indivíduos e instituições que deveriam promover a justiça, mas acabam encobrindo os fatos, favorecendo o comércio ilícito e perpetuando a problemática dos abusos e tráfico humano”.
‘Guerra espiritual’
Sobre a falta de combate dos abusos sexuais contra crianças em nosso país, Lucas diz que não há uma total ausência de enfrentamento da situação, mas poderia ter mais empenho.
“Não diria que os esforços para combater os abusos sexuais contra crianças estão ausentes no Brasil, mas acredito que poderiam ser mais incisivos e dirigidos por pessoas competentes e de bem”, pontua.
“Existem sistemas corrompidos e estruturas que facilitam a continuidade desses abusos e do tráfico de crianças. Como sabemos, o mercado de pornografia infantil é extremamente lucrativo e, por conta disso, há uma batalha entre aqueles que desejam manter esse crime oculto, por razões financeiras, e os defensores da proteção das crianças”.
Para Lucas, se trata de uma “luta que transcende o mundo material natural, é uma guerra cultural de dimensões espirituais”.
Raiz do problema
Lucas falou sobre a miséria, que é um componente aterrador que joga crianças nessa condição de abuso em muitos rincões do país, onde as famílias e até aqueles que deveriam ser os protetores delas as oferecem para relacionamentos sexuais em troca de dinheiro.
“A triste realidade é que a miséria prevalece em muitas áreas remotas do país, onde, lamentavelmente, algumas famílias e até aqueles que deveriam ser os guardiões das crianças, como seus pais e avós, acabam as expondo a situações tão terríveis em troca de dinheiro”, diz.
“Na minha visão, é necessário abordar a raiz do problema, que reside na pobreza, carência econômica e vulnerabilidade social dessas comunidades. Isso requer um conjunto de medidas abrangentes, incluindo o desenvolvimento da economia local, a implementação de políticas públicas eficazes e investimentos que resultem em prosperidade local”, opina.
E conclui: “Somente ao criar uma relação de valor duradoura na região, ou seja, uma mudança cultural, por meio de educação, poderemos verdadeiramente combater esse horrível comércio. Portanto, é crucial uma abordagem multi e interdisciplinar, envolvendo esforços políticos, empresariais e educacionais para transformar a realidade econômica e social dessas áreas”.