De acordo com o relatório da Korea Future — organização inglesa de direitos humanos — os cristãos prisioneiros norte-coreanos são mais afetados pela violência do que outros grupos religiosos.
As vítimas que sofreram torturas nas prisões foram entrevistadas e mostraram suas cicatrizes, bem como suas deformidades físicas pela cicatrização incorreta das fraturas. Além disso, elas apresentaram transtornos depressivos.
O relatório foi apresentado na última terça-feira (14), com base em 237 entrevistas de sobreviventes, testemunhas e os próprios perpetradores da perseguição que fugiram da ditadura para viver na Coreia do Sul.
Crueldades cometidas contra os cristãos
O relatório intitulado por “Tortura, tratamento ou punição cruel, desumano ou degradante experimentado pelas minorias religiosas da Coreia do Norte”, declarou o seguinte: “O Cristianismo tem menos adeptos, mas é a religião mais severamente perseguida na Coreia do Norte”.
As igrejas subterrâneas — pequenas congregações clandestinas — existem na Coreia do Norte, mas são raras e muito perseguidas. De acordo com uma testemunha, oficiais de segurança do estado espancaram até a morte uma prisioneira cristã que dirigia uma delas.
“O lábio dela estava retalhado. Os policiais seguraram seu cabelo e bateram sua cabeça contra as barras da cela. Um deles mandou que ela colocasse a mão no chão. Ele pisou nela e girou os pés 90 graus. Todos os dedos dela se quebraram. Ela não teve direito a nenhum tratamento médico”, relatou.
“Eu cheguei a falar para que ela não liderasse mais a igreja clandestina, mas ela disse que tinha membros da igreja para cuidar. Um tempo depois, ela morreu depois de ser seriamente espancada por funcionários do Ministério de Segurança do Estado”, disse ainda.
Cristãos desnutridos e enfrentando a fome
O relatório explica como o regime usa a privação de alimentos em estabelecimentos penais como forma de tortura. Um sobrevivente disse que os agentes do governo picaram rabanete congelado.
“Havia também pequenas pedras e grãos de areia servidos com o rabanete. No início, eu não conseguia comer o rabanete porque sentia o atrito em meus dentes. Mas, no quinto dia, tive que comer porque estava morrendo de fome”, contou.
Outro sobrevivente também compartilhou: “Eu estava extremamente desnutrido. Meus ossos estavam aparecendo. Continuei orando na cela porque era meu único refúgio. Se eu falasse algo sobre minha religião, eu seria executado por fuzilamento no estabelecimento penal ou transferido para um campo de prisioneiros políticos pelo resto da minha vida”, disse.
Realidade nos campos de trabalho forçado
“Na penitenciária, tive que limpar grama, feijão e batata. No campo fui forçado a trabalhar apenas para sobreviver. Comia das plantações que ainda estavam cobertas de sujeira”, disse o sobrevivente.
O relatório descreve como o governo norte-coreano também persegue os seguidores do budismo, catolicismo, cheondoísmo e xamanismo. A perseguição já foi observada por um período de 73 anos.
Os religiosos são classificados como hostis ao Estado e sujeitos a discriminação e perseguição absoluta.
“A expansão de um sistema de campo de prisioneiros políticos, que detém até três gerações de famílias associadas à religião para o resto da vida, incorporou a religião e a crença como um crime de consciência política e social na Coreia do Norte”, finaliza o documento.