Na Igreja Batista Metropolitana da cidade de Newark, NJ, as orações são feitas de mãos e de vozes unidas, uma Bíblia com anotações é sinal de fé e dedicação e o pastor espera uma congregação atenta. Nesse ambiente, fazer a leitura da Bíblia Sagrada no celular e tuitar partes da mensagem do pastor pode ser um pouco chamativo.
Minha esposa algumas vezes tira o telefone de mim e coloca-o na bolsa, diz sorrindo Wade Harris, um dos membros da igreja. Às vezes deixo o telefone no meio da Bíblia, completa.
Já existem aplicativos que permitem tuitar versículos da Bíblia, o ajudam a encontrar Meca, ou lembrá-lo das bênçãos em hebraico sobre os alimentos. O fato é que alguns dos devotos estão abraçando de vez a tecnologia móvel. Porém, acabam desafiando as normas da prática religiosa convencional.
Eric Granata, designer gráfico que frequenta a Comunidade Frontline em Oklahoma City, carrega uma Bíblia eletrônica de bolso que vem com várias traduções, comentários, planos de leitura e opções para redes sociais. Mesmo assim, diz sentir-se sempre constrangido ao usá-la na igreja.
Sinto que as pessoas podem pensar Ei, olha esse cara mandando mensagens do celular durante o culto, que idiota. Mas eu estou lendo minha Bíblia, estou acompanhando vocês, diz ele, rindo.
Para o Mr. Harris, que apresenta o programa de hip-hop cristão O Wade-O Radio Show, o leve desconforto vale a pena. Durante recente culto de domingo, Harris estava em um banco bem na frente de sua igreja, com a cabeça baixa. Ele não estava orando, estava escrevendo. E se você for um de seus 2.500 seguidores no Twitter, teria lido sobre o que ele estava aprendendo: Muitas pessoas querem as bênçãos de Deus. Mas não querem a Deus. Busque-o em primeiro lugar e deixe que o resto se resolve meu pastor
Harris diz que suas contas no Facebook e Twitter são um testemunho de sua fé e parte de seu ministério. Tenho um monte de amigos no Facebook e no Twitter, que talvez não vão à igreja, diz ele. Envio esse material para as pessoas talvez apenas como um incentivo.
O rabino Zalman Goldstein, que desenvolveu o iBlessing, aplicativo para ajudar os judeus a se lembrar das orações que acompanham cada tipo de alimento, diz que a tecnologia móvel pode ajudar e ensinar judeus não-praticantes sobre as tradições religiosas sem estresse e com fácil acesso.
Para muçulmanos como Adil Pasha, da cidade de Mineola, NY, essa é uma conveniência moderna. Apesar desse consultor de TI ter aprendido a encontrar Meca baseando-se no nascer e no pôr do sol, às vezes sente-se perdido quando está viajando ou em ambiente estranho. Por isso, comprou e usa o aplicativo Islamic Compass [Bússola Islâmica].
Foi um grande alívio. Você não precisa ficar tentando descobrir sozinho, confessa, demonstrando alívio.
Especialista em religião e cultura, Rachel Wagner acredita que podemos esperar uma luta das religiões que desejam permanecer relevantes, mas sem abandonar suas crenças e tradições.
Embora algumas autoridades religiosas sejam rápidas em abraçar a tecnologia, outras têm suas reservas. Muitos temem que isso possa incentivar os fiéis a se desligar da sua comunidade religiosa ou olhar mais para os seus aparelhos que para seus líderes espirituais ou para Deus.
O Vaticano rapidamente negou que o iPhone poderia tomar o lugar de um sacerdote com o lançamento de um aplicativo para confissões, mesmo que tenha recebido licença da Igreja para imprimir textos religiosos. Um porta-voz esclareceu que os católicos podem usar o aplicativo a fim de se preparar para o sacramento. Porém, a absolvição requer um diálogo pessoal entre o padre e o penitente.
Ms. Wagner, autor do livro ainda inédito Godwired: Religião, Ritual e Realidade Virtual, diz que os aplicativos desafiam o papel dos líderes espirituais.
A tecnologia pode transformar a religião como a conhecemos? Serene Jones, presidente da Union Theological Seminary, em Nova York, diz que ela nunca eliminará as comunidade de fé ou o clero. Citando a invenção da imprensa como exemplo, ela diz: Todo mundo achava que ela levaria as pessoas a uma experiência religiosa isolada, porque elas iriam para casa, sentariam em seus quartos e leriam suas Bíblias sozinhas.
Pelo contrário, isso provocou uma revolução religiosa que resultou no protestantismo. A experiência religiosa privada proporcionada pela tecnologia já vem acontecendo há muito tempo. Estamos no meio de uma transformação religiosa que pode ser positiva, quase tão grande quanto a Reforma.
Tradução: Agência Pavanews