"A história de um africano nascido há dois mil anos, que depois de fugir de sua tribo, se transforma em seguidor de Jesus Cristo". À primeira vista, a breve descrição / 'sinopse' aparenta ser um belo testemunho de conversão ao Evangelho, porém a trajetória do personagem Ogundana (também conhecido como o "Alabê de Jerusalém") não é vista apenas desta forma. A história será contada pela Escola de Samba Unidos do Viradouro, neste carnaval de 2016, no Rio de Janeiro.
O africano que seria um "contemporâneo de Jesus Cristo" seria atualmente, segundo o autor de sua história, Altay Veloso, tido como uma entidade espiritual que "volta para contar a sua história", 2000 anos depois de passar pela terra.
O próprio tema que dá título à canção e ao samba-enredo da Escola de Samba - recheados de sincretismo religioso - também faz referência à função que Ogundana ocupou em sua religião afro, segundo a narrativa. O termo "Alabê" se refere ao líder dos tocadores de atabaque, que usam o som dos instrumentos para atrair orixás, durante os rituais de candomblé.
Contextualização
Não é de hoje que o sincretismo religioso é exposto como algo completamente "normal" na mídia brasileira. Discursos que se apoiam na máxima de que "todos os caminhos levam a Deus" acabam montando uma verdadeira miscelânea de crencas e doutrinas religiosas.
Reconhecido este sincretismo pelo próprio autor da composição "O Alabê de Jerusalém" em sua obra literária - a qual inspirou este enredo da Unidos de Viradouro - os objetivos da Escola com este roteiro parecem estar longe de contar um "belo testemunho de conversão" no sambódromo do Rio de Janeiro e sim, continuar o promovendo esta grande mistura de conceitos religiosos e adoração a diferentes "poderes esprituais".
Outras entidades religiosas / esprituais também estarão representadas no desfile por outras escolas de samba, como por exemplo, os irmãos Cosme e Damião (conhecidos também nas religiões afro, como "protetores das crianças"), apresentados pela escola Renascer de Jacarepaguá, com o enredo de tema “Ibejís - Nas brincadeiras de criança: os orixás que viraram santos no Brasil”.