Um pastor transformou as arquibancadas de um tribunal de Hong Kong em seu púlpito na última terça-feira (9), depois que ele e outros oito ativistas foram condenados por seu envolvimento com os movimentos pró-democracia “Occupy Central” e “Movimento Guarda-Chuva”.
Em seu discurso no tribunal, Chu Yiu-ming, 75 anos, líder da Igreja Batista Chai Wan, disse que encontrou esperança em Cristo depois de uma infância sombria e defendeu seu chamado como ministro para lutar pelos direitos humanos.
O pastor ainda afirmou que, como réu, ele encontrou “o púlpito mais honrado” de sua vida ministerial. Ele também citou as palavras do apóstolo Paulo em Filipenses 1:21: “Para mim, viver é Cristo”.
Chu disse que encontrou força Bíblia, que foi citada ao longo de seu discurso perante a corte. “Durante décadas, tenho pregado inúmeros sermões. Mas a mensagem que levou mais tempo de preparação e oração, e que provavelmente alcançará o maior público, é precisamente essa que está sendo entregue no banco dos réus”.
“Eu fui chamado como um servo do Senhor, em imitação de Cristo. Seguindo Seus passos, cumprindo Sua missão, fazendo conhecidas Suas preocupações pelo mundo. Sem medo da pressão política ou como os outros vêem seu trabalho”, declarou o pastor.
“Não temos arrependimentos. Não guardamos ressentimentos, nem raiva, nem queixas. Nós não desistimos”, disse Chu, falando em nome de colegas ativistas envolvidos em uma campanha para levar o direito de voto a Hong Kong. “Nas palavras de Jesus, ‘felizes são os perseguidos por fazerem a vontade de Deus; o Reino dos céus pertence a eles! (Mateus 5:10)”.
Em 2013, Chu, juntamente com os estudiosos Benny Tai e Chan Kin-man, fundaram o Occupy Central with Love and Peace (“Ocupe a Central com Amor e Paz”, em tradução livre), um movimento que originou protestos a favor da democracia em 2014. Embora o trio tenha promovido manifestações pacíficas, o juiz de Hong Kong os considerou culpados de “cometer incômodos públicos”.
Liberdade em Hong Kong
Como uma região administrativa especial da China, Hong Kong tem mais liberdade e autonomia do que o restante do país. No entanto, os governantes não são eleitos pelo povo, o que deixa líderes e ativistas cristãos preocupados com a invasão do controle comunista.
Durante o julgamento, cerca de 200 cristãos se reuniram para um culto na igreka Kowloon Union, onde Chu e os outros ativistas anunciaram pela primeira vez a campanha Occupy Central, informou o site Evangelical Focus. Fora do tribunal, partidários seguravam guarda-chuvas como forma de protesto.
Os cristãos protestantes representam cerca de 6% da população de Hong Kong. Contrários ao regime comunista, os evangélicos desempenharam um papel importante na luta pela democracia nos últimos anos, estimuladas por suas convicções bíblicas a respeito da justiça social e sua disposição de sofrer pela causa.
Chu tem servido como pastor em Hong Kong desde 1974 e questionou o tribunal o motivo de seu ministério — que ao longo dos anos advogou em favor dos pobres e oprimidos - estar em apuros com o governo.
A Anistia Internacional classificou a decisão do júri como “um golpe esmagador contra a liberdade de expressão e protesto pacífico em Hong Kong”.
Chu pode enfrentar até sete anos de prisão e aguarda uma audiência de condenação no final deste mês; outros com condenações adicionais poderiam obter sentenças ainda mais longas.