As declarações de um ex-ator global sobre o comércio midiático promovido com a nudez na TV aberta continuam a ecoar nas redes sociais. Apesar do protesto em forma de depoimento do ator Pedro Cardoso ter sido registrado cerca de oito anos atrás (2009) em uma entrevista para o programa 'Sem Censura', apresentado pela jornalista Leda Nagle, o vídeo com este trecho do bate-papo voltou a ganhar força nas redes sociais nesta semana.
Ao comentar a banalização da arte que constitui a profissão de ator e a incessante busca da mídia por ibope de forma baixa, Pedro Cardoso criticou novelas e filmes que expõem a nudez de seus atores, simplesmente para atrair os olhares do telespectador e lembrou que isto muitas vezes acontece em horários que crianças estão assistindo TV.
"É uma indústria desonesta. É a venda de uma pornografia disfarçada", alertou. "É uma pornografia disfarçada de comportamento natural. Na novela que eu vi outro dia, tinha uma atriz, coitada, fazendo uma cena totalmente absurda! Ela estava meramente tomando um banho. Não há nenhuma dramaturgia passando por ali. Aquilo é a mera exposição do corpo dela para cativar uma audiência e isso humilhante para essa atriz".
"Uma atriz chega no set de televisão e tem que escolher mais ou menos o tamanho da calcinha com que ela aparecer, porque de calcinha ela vai aparecer. E se ela resiste um pouco, ela é violentamente empurrada a fazer aquilo e por gente muito medíocre", acrescentou.
O ator destacou que faz estas críticas à TV brasileira, não simplesmente por fatos que viu ou acompanhou de alguma forma, mas sim por ter vivenciado tais situações pessoalmente.
"Eu passei por isso, no teatro e na televisão. Fiquei tremendamente constrangido. Eu era novo, não tive argumentos para me defender. No filme eu tive e falei: 'não, essa cena eu não faço'. O filme revelou-se depois uma daquelas 'pornochanchadas' vagabundas brasileiras", contou o ator. "No meu modo de entender, elas [pornochanchadas] afastaram o público brasileiro, ofenderam a sensibilidade. Empurraram o país a se vender para o exterior, novamente como um lugar de prostituição. Eu que isso é muito ruim para o Brasil".
Contextualização
A crítica de Pedro Cardoso à televisão brasileira vem surprendentemente ecoar em muitos pontos com o clamor de muitas famílias brasileiras (evangélicas ou não), que acusam a rede Globo e tantas outras emissoras de baixar cada vez mais o nível de suas programações, expondo a nudez e visando esta estratégia como uma ferramente eficiente para ganhar visibilidade e ibope.
Anos depois da entrevista de Pedro Cardoso, em 2015, a atriz (ainda global) Glória Pires confessou que não queria o seu próprio filho Bento de acompanhar a novela 'Babilônia', por exemplo, por julgar que a trama e as cenas eram impróprias para ele. O garoto tinha 10 anos de idade, na época da novela.
"Não dou força para ele ver novela. Ele assistiu contra a minha vontade, junto com as irmãs que estavam loucas para ver, e ficou muito chocado, foi horrível. Por mais que eu explicasse tudo em detalhes, que aquilo era sangue cenográfico, que ficava numa bolsinha sob o figurino, não adiantou. Era a mãe dele levando um tiro", contou ela.
Declarações como a de Pedro Cardoso e de Glória Pires acabam simplesmente reforçando aquilo muitos pastores e igrejas têm cuidado em alertar nos últimos anos sobre o nível cada vez mais baixo e inadequação das novelas e outras programações da tv aberta nacional para famílias.