A semana é outra, mas os assuntos que pautam a tomada de posições nos mercados continuam os mesmos: endividamento na zona do euro, possível alta de juros na China e indefinição sobre o comando do Banco Central (BC) a partir de 2011.
Pela ordem, depois de resistir, a Irlanda decidiu pedir ajuda para lidar com o aumento no custo de financiamento e saques no setor financeiro. O plano ainda não foi fechado, mas se fala em mais de 100 bilhões de euros. A reação inicial foi positiva, mas o discurso dos analistas foi mudando e, no fim, acabaram prevalecendo as preocupações com quem poderá ser o próximo país a precisar de ajuda.
Também em pauta no dia as notícias de que a polícia federal dos Estados Unidos, o FBI, fez buscas em fundos de hegde como parte de uma investigação sobre 'insider trading' (uso de informação privilegiada em operações no mercado).
Em Wall Street, o Dow Jones ainda recuperou parte das perdas do dia e fechou com leve baixa de 0,22%. O mesmo vale para o S&P 500, que perdeu 0,16%. Já o Nasdaq virou e garantiu alta de 0,55%.
A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) não acompanhou tal redução de perdas. Com 61 dos 68 ativos em baixa, o Ibovespa caiu 1,78% e fechou aos 69.632 pontos. O giro financeiro somou R$ 5,40 bilhões.
O analista da Magliano Corretora Henrique Kleine apontou que o mercado passou o dia absorvendo o socorro à Irlanda e assinala que a situação do continente europeu segue no foco de preocupação.
'A Irlanda foi ajudada de uma maneira que todo mundo esperava, mas isso vai mostrando que o sistema europeu está fragilizado e que outros países podem estar com problemas, como Portugal', comentou.
Kleine ainda observa que o aumento inflacionário chinês também continua a deixar os investidores cautelosos.
'O país ainda não tirou todas as preocupações do mercado com relação à inflação e há um temor de menor crescimento chinês. O mercado espera uma medida mais incisiva, como um aumento dos juros, para conter a alta da inflação', ressaltou o analista.
No câmbio, a formação da taxa de câmbio tomou forma apenas no período da tarde, conforme cresceu a aversão ao risco no mercado global e os agentes demandaram mais moeda americana.
No encerramento da jornada, o dólar comercial apontava valorização de 0,63%, a R$ 1,730 na venda. Na mínima, a moeda chegou a cair a R$ 1,711. O giro estimado para o interbancário somou US$ 2,0 bilhões.
Na ronda de pronto da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) o dólar pronto subiu 0,54%, para R$ 1,7283. O volume somou US$ 170,75 milhões.
Cabe lembrar que problemas técnicos impediram operações na BM&F das 9h30 às 10h55.
Segundo o diretor da Pioneer Corretora, João Medeiros, o mercado olha com apreensão para as notícias da Europa, onde há preocupação com rebaixamento de notas de crédito da Irlanda e de outros países da região.
Captando essa incerteza sobre a região, o euro perde valor no mercado internacional. A moeda comum caiu cerca de 1%, voltando a ser negociada na linha de US$ 1,35 durante parte do pregão.
De volta ao mercado local, Medeiros aponta que a fonte de instabilidade é a indefinição sobre quem comandará o Banco Central. O noticiário envolvendo o tema foi bastante fértil e serviu apenas para aumentar a indefinição sobre a permanência ou a saída de Henrique Meirelles da instituição.
No mercado de juros futuros a sucessão no BC também fez preço. As taxas voltaram a subir com força e além de nomes que podem substituir Meirelles os agentes também mostraram preocupação com a autonomia da autoridade monetária.
No lado econômico, a inflação continua preocupando. As projeções contidas no Focus voltaram a piorar mostrando Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) distante do centro da meta de 4,5% tanto em 2010 quanto em 2011. Fora isso, as coletas seguem mostrando forte pressão do grupo alimentação.
Agora pela manhã, os agentes conhecem o IPCA-15 de novembro, que deve mostrar variação ao redor de 0,75%.
Além da piora do Focus e do ruído envolvendo a permanência ou não de Meirelles no BC, o estrategista-chefe da CM Capital Markets, Luciano Rostagno, aponta que outro fator de pressão sobre a taxa de juros é a falta de uma sinalização do governo sobre a realização de um ajuste fiscal capaz de evitar uma alta na taxa de juros.
'Se o governo não acenar com redução de gasto, cresce a necessidade de alta de juros', disse o especialista, apontando para o comportamento das commodities, das expectativas de inflação e das coletas de preço.
Outro assunto que entrou em pauta junto com a sucessão no BC foi a questão da autonomia da instituição. Legalmente não há autonomia operacional do BC, mas durante todo o governo Lula, a autoridade monetária manteve independência de fato.
Segundo Rostagno, a perda dessa autonomia poderia resultar ou justificar menores prêmios de risco, já que a Selic ficaria à mercê do governo Dilma, que já tem expressado a preferência por taxas menores. O outro lado dessa moeda, no entanto, seria uma piora adicional nas expectativas de inflação.
De volta ao Focus, a mediana para o IPCA de 2010 subiu pela décima semana consecutiva, saindo de 5,48%, para 5,58%. Para 2011, o prognóstico avançou de 5,05 para 5,15%. Dentro do Top Five (instituições que mais acertam), a inflação de 2011 recuou de 6,17% para 5,99%.
A nova piora nas expectativas de inflação não foi acompanhada de mudança na percepção para a taxa Selic. A mediana segue em 10,75% para o encerramento de 2010 e em 12% no fim de 2011.
Captando tal noticiário, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2013 subia 0,14 ponto percentual, a 12,32%, antes do ajuste final de posições na BM&F. Janeiro de 2014 ganhava 0,21 ponto, a 12,35%. E janeiro de 2015 apontava 12,28%, alta de 0,24 ponto.
Entre os curtos, dezembro de 2010 registrava estabilidade a 10,64%. E janeiro de 2011 apontava queda de 0,01 ponto, a 10,68%. Julho de 2011 aumentava 0,05 ponto, a 11,17%. E janeiro de 2012, o mais líquido do dia, apontava 11,76%, valorização de 0,08 ponto.
Até as 16h10, foram negociados 1.024.135 contratos, equivalentes a R$ 90,46 bilhões (US$ 52,63 bilhões), menos da metade do registrado no pregão anterior. O vencimento janeiro de 2012 foi o mais negociado, com 208.450 contratos, equivalentes a R$ 18,41 bilhões (US$ 10,71 bilhões).
Por: Eduardo Campos