O que era uma simples pelada de fim de tarde na praia se tornou um esporte sério em 1993. Naquela época, o então 'beach soccer' despontava nas areias de Copacabana, no Rio de Janeiro, com os ídolos do gramado como percursores. Craques consagrados como Júnior, Edinho, Zico e Cláudio Adão deram popularidade ao futebol de areia. Eles brilharam com a camisa da Seleção Brasileira e se acostumaram a aplicar sonoras goleadas nos adversários.
Comentarista da TV Globo e do SporTV, o ex-goleiro Paulo Sérgio lembrou com carinho daquele período, mas destacou que a modalidade evoluiu muito nos últimos anos.
- Naquela época, o destaque era o talento individual dos jogadores. Só tinha craque. Por isso, o Brasil ganhou por muito tempo. Estávamos acostumados a jogar na areia e tínhamos talento de sobra. Isso fazia toda a diferença contra os europeus, por exemplo. Eles tinham habilidade, mas sentiam dificuldade em jogar na praia. Com a entrada dos treinadores nesses últimos anos, as táticas foram criadas, a marcação ficou mais forte e o número de gols passou a diminuir. Tudo ficou mais equilibrado - contou.
Em 2005, o futebol de areia ganhou o selo de qualidade da Fifa e passou a ter ainda mais destaque. Ao todo, foram cinco Copas do Mundo disputadas. A próxima será realizada ainda este ano, na Itália. O sucesso do torneio entre seleções incentivou a criação do Mundialito de Clubes, que está sendo realizado em São Paulo. Times tradicionais como Flamengo, Corinthians, Vasco, Barcelona-ESP, Milan-ITA e Sporting-POR estão investindo na modalidade.
- Esse tipo de torneio resgata o que há de melhor no futebol de areia, que são os clubes. O torcedor fica mais interessado de ver quem está em ação e divulga ainda mais o nosso esporte. O futuro é esse - destacou Paulo Sérgio.
Naquela época, o destaque era o talento individual dos jogadores. Só tinha craque"
Juninho Alagoano começou a carreira nas areias de Maceió, se destacou e logo foi convidado para jogar no exterior. O atacante de 29 anos, que defendeu o Corinthians no Mundialito e já atuou em campeonatos na Itália e na Rússia, fala sobre o crescimento do esporte fora do Brasil.
- O futebol de areia tem evoluído e muitos campeonatos fortes estão acontecendo na Europa. Os jogadores de lá aprenderam com os brasileiros e estão bem mais preparados taticamente. Nós temos a ginga, mas eles são disciplinados dentro de quadra. Na areia, quem estiver mais bem preparado fisicamente leva vantagem. Por isso, hoje é muito raro você ver uma goleada, até mesmo quando a Seleção joga.
Eterno capitão da Seleção, Júnior Negão se despediu das areias no fim de 2008, com 318 gols na carreira. Coordenador da base e do time profissional do Vasco, ele espera que o Mundialito consiga despertar o interesse dos jovens em seguir carreira na modalidade.
- Temos que incentivar mais o futebol de areia aqui no Brasil. Vendo um torneio de clubes, a criançada vai se entusiasmar e querer jogar no Vasco, no Flamengo ou no Corinthians. Os grandes jogadores da Seleção estão quase na casa dos 40 anos e é preciso ter uma renovação, pois eles estão em ação há muito tempo - disse.
Melhor goleiro da Copa do Mundo de 2009, Mão foi criado na praia e hoje é uma referência para os mais jovens. O arqueiro da Seleção coordena um projeto no Espírito Santo para ajudar crianças carentes através do esporte e torce por uma renovação.
- Temos um Campeonato Brasileiro forte, mas precisamos incentivar as divisões de base. Eu trabalho com projeto social no Espírito Santo e vejo o quanto eles se dedicam ao esporte. Vemos o Benjamin jogando com 41 anos e percebo que é muito difícil um garoto chegar onde ele chegou. É preciso investir mais na garotada. O futuro do Brasil na areia depende disso - destacou. Globo Esporte