O Majestoso é um clássico que dificilmente tem favorito, já que São Paulo e Corinthians, gigantes, costumam se equivaler. Nesta quarta-feira, porém, um dos rivais mostrou que está um degrau acima em organização tática, técnica e composição de elenco. Em atuação segura e com um lance de gênio de Renato Augusto, o Timão venceu o jogo de ida da decisão da Recopa Sul-Americana por 2 a 1, no Morumbi, e ficou em situação confortável para a partida de volta, dia 17, no Pacaembu, quando jogará pelo empate para ser campeão. Vale ressaltar que não há o critério de gol marcado fora de casa.
Guerrero abriu o placar no primeiro tempo, Aloísio empatou e incendiou o jogo no segundo, contando com uma falha grotesca de Cássio. Aos 30 do segundo tempo, coube a Renato Augusto fazer a diferença. Em um lindo toque por cobertura, aproveitou erro de posicionamento de Rogério Ceni e deu a justa vitória ao Corinthians. O meia, recuperado de lesão após três meses sem jogar, entrou no lugar de Douglas (que, por sua vez, havia substituído Danilo) e mostrou que tem bola para ser titular do Timão. Mesmo sem Paulinho, Tite tem em mãos uma equipe bem mais coesa. Ney Franco está longe de ter o mesmo domínio sobre o elenco.
O Morumbi é cada vez mais a casa corintiana. Sem perder para o São Paulo no estádio desde 2007, o Timão aumentou sua série invicta para 11 jogos – cinco vitórias e seis empates. Insatisfeita, a torcida tricolor gritou contra Ney Franco e lembrou o nome de sua maior sombra: Muricy Ramalho, tricampeão brasileiro entre 2006 e 2008. O estádio recebeu 31.691 pagantes, público abaixo da expectativa para uma decisão entre dois rivais.
Agora, os dois times voltam suas atenções para o Campeonato Brasileiro. O São Paulo tem um clássico contra o Santos, domingo, às 16h (horário de Brasília), no Morumbi. No mesmo dia e horário, o Corinthians enfrenta o Bahia, em Salvador.
Espelhos da temporada
Os dias de intertemporada durante a Copa das Confederações não mudaram muita coisa em São Paulo e Corinthians. A equipe de Tite não tem mais Paulinho, mas continua organizada, sabendo os movimentos corretos, as melhores jogadas – o entrosamento está em dia. Já a formação proposta por Ney Franco é a mesma confusão do primeiro semestre. Por isso, Jadson e Ganso ainda não se entendem totalmente no meio-campo, e o Tricolor depende de lampejos de seus melhores jogadores para conseguir alguma coisa.
Os primeiros 45 minutos no Morumbi sintetizaram tudo isso. Um Corinthians muito bem postado, propondo o jogo e explorando a velocidade de Emerson Sheik e Romarinho pelas pontas – Douglas e Juan eram seus marcadores, ou ao menos deveriam ser. No São Paulo, Ganso ficou encaixotado entre zagueiros e volantes corintianos, e Ney Franco tentou algo que não tinha como dar certo: colocar o meia para jogar pelas pontas, onde não está acostumado.
Ao mesmo tempo, Jadson tentava tudo sozinho, e Osvaldo e Luis Fabiano pegaram pouco na bola. Os alvinegros mandaram na partida e nem precisaram de tanto esforço para isso. Aos 28 minutos, o merecido gol: vantagem de Romarinho sobre Juan, cruzamento rasteiro e chute certeiro de Guerrero, sozinho, sem a marcação de Rafael Toloi. Fim do jejum de oito jogos sem gols do peruano.
Até então, o clima era morno no Morumbi. O mais pilhado em campo era o árbitro Ricardo Marques Ribeiro, adepto do “apito nervoso”, parando o jogo com faltas (até quando não havia nada a se marcar) e distribuindo cartões. Sem grandes acontecimentos, mal parecia uma decisão internacional entre dois ferrenhos rivais.
Goleiros falham, Renato Augusto decide
Um chute, uma falha e um reserva inflamado acenderam a decisão da Recopa em poucos segundos após a volta do intervalo. Aloísio, o Boi Bandido, substituiu um preguiçoso Ganso e tratou de trabalhar logo em seu primeiro toque na bola, com menos de um minuto. A bomba de fora da área e a incrível falha de Cássio colocaram o São Paulo de volta na partida: 1 a 1. A torcida que cobrava muito passou a apoiar o Tricolor.
Por 15, 20 minutos, o São Paulo se aproveitou da euforia e ganhou na disposição. Wellington, que entrou no segundo tempo, tomou as rédeas do meio-campo e até deu bronca em Emerson. Cássio não transmitia segurança à sua defesa, e o Timão sofreu certa pressão. Tite lançou Renato Augusto no time e conseguiu esfriar a partida.
Com tudo no lugar, o Corinthians voltou a ter a posse de bola e aproveitar as sucessivas falhas da defesa são-paulina. Duas bolas na trave, de Guilherme e Romarinho, mostraram qual era a equipe mais incisiva no ataque.
Aos 30, o resultado: após lançamento do meio-campo, Renato Augusto mostrou frieza, tranquilidade e inteligência ao dar um leve toque na bola, por cima de Rogério Ceni. Muito adiantado, o goleiro são-paulino “retribuiu” a falha de Cássio.
Merecidamente, a equipe de Tite conquistou vantagem para tentar seu segundo título na temporada. O São Paulo terá duas semanas para buscar soluções em um time com bons jogadores, mas sem organização alguma em campo. Isso se Ney Franco sobreviver no cargo até o dia 17 de julho.